Nem
tudo era tragédia, embora vivêssemos ainda sob o manto escuro e obscuro de uma
ditadura sangrenta e opressora. Amigos presos, amigos sumindo... e o povo
ansioso por uma luz no fim do túnel.
Nos
anos de 1970, o Lago Paranoá fedia em uma cidade ainda não afetada pela
poluição do ar, rios e córregos. Até sua completa despoluição no final da
década, o lago estava longe de ser uma opção de lazer e entretenimento. Hoje,
além de cartão postal, serve para divertimento das famílias e competições
esportivas.
Foi
aqui que me formei e exerci, e ainda exerço, orgulhosamente a profissão de
jornalista, tão ameaçada e incompreendida nos últimos tempos. Nessas mesmas Asa
Sul e Norte constitui família e criamos nossos filhos, em uma cidade tida “como
o melhor lugar do mundo para se criar os filhos”.
Brasília
sempre foi fascinante pela capacidade de acolher e abrigar quem a procurasse.
Um dom que ela já irradiava desde antes mesmo de existir, quando os raios de
aconchego brilhavam da Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante.
A
cidade cresceu. Superou todos os desafios, embalada pelo horizonte musical de
serestas, sambas, chorinhos e as tão promissoras bandas de rock. Atravessou
décadas criando, recriando e se reinventando num mundo cada vez mais moderno e
tecnológico.
Atravessou
o século, o milênio, e chegou incólume, garbosa e sempre gentil aos anos de
2020. Agora, mais que sexagenária, mostra ares de amadurecimento sem perder sua
natural juventude, jamais.
Nesses
tristes anos, os fins de tarde, os alvoreceres tão famosos, o céu de Brasília e
a luminosidade de um horizonte de sonhos e esperanças ficaram ofuscados, à meia
luz, à espera de um novo sonho de Dom Bosco, de onde possam transbordar mel e
bálsamo para dores que ainda teimam em não se aplacarem.
A
cidade dos sonhos enfrentou muitos pesadelos sem perder a esperança e agarrada
à missão para a qual logrou existir: somos o futuro e ele ressurgirá no amanhã.
Brasília
é o que somos, o que plantamos e o que colhemos.
Obrigado, Brasília. De coração.
Despertar
José Carlos Camapum Barroso
Brasília,
Brasília!
Não és mais a ilha
Cercada de fantasias...
És, agora, senhora,
Cortada por viadutos,
Congestionadas em vias,
Sinais congestionantes.
Cidades satélites
De luzes que não brilham
Como resplandece a tua.
Ruas que não se cruzam
Na mesma simetria,
Na grandeza de monumentos
Que ostentas em curvas,
Entre retas infinitas...
Avião de asas cortadas
Plano de voo perdido
Quadrilátero retângulo
Incrustado no coração
De um Brasil central,
Pleno de indiferenças...
Brasília, Brasília!
Não mais sorris
Nem sorriem teus filhos
Adotados e gerados
Que ergueram e foram
Erguidos aos céus,
No sonho de dom Bosco,
Suor e lágrimas candangas.
Acorda antes que o sonho
Desperte o medo,
No século do pesadelo.
Acorda Brasília!
Ouça a voz que ecoa
No Planalto Central:
Ainda és sonho,
Esperança de vida!
És Brasília, Brasília...
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