sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Até "boró de tapera" já esteve no estrangeiro

Você já foi ao “estrangeiro”? É uma pergunta que ouço desde a adolescência, época em que apenas sair de Uruaçu para a capital do estado de Goiás, Goiânia, já era uma proeza de contar em detalhes pros amigos numa mesa de bar, lugar sagrado da existência humana. Conhecer o mar, então, era um desafio só alcançado por uns poucos privilegiados. Minha chance veio no início do ano de 1978, aos 24 anos de idade, na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro.

Quem me pergunta se já estive no exterior, respondo prontamente: já estive, sim. Mas dou um jeito de desviar o assunto o quanto possível... Falo como se fosse um autêntico "boró de tapera" lá do interior goiano:

-- Estou planejando outras viagens, mas, como todos sabem, a passagem tá muito cara, o dólar, nas alturas... -- Vou sempre por essa linha, ajustando aqui e ali, como meu jogo de cintura permite.

Ouço atentamente os relatos de viagens dos amigos e amigas. Falam da beleza imensurável de Paris. Alguns até me fazem viajar junto ao contarem em detalhes seus passeios. Recentemente, li um crônica de viagem do amigo, poeta e psicanalista Ítalo Campos, que a está guardando para um livro a ser publicado. Maravilha! Andei com ele e sua querida Rita pelas ruas, cafés e restaurantes da Cidade Luz.

Minha mulher Stela voltou exultante com a grandeza e a grandiosidade da China comunista, por onde esteve viajando recentemente.

-- O mundo está acontecendo é por lá! Você tem que ir conhecer. É impressionante! – diz ela, com um entusiasmo que me leva junto. Confesso que gera até um certo ciúme daqueles chinesinhos de olhos disfarçados como se não estivessem mirando a mulher do estrangeiro. Ainda vou por lá e acerto algumas contas...

A turma do Carnaval dos Amigos -- festa que acontece todo ano em Goiânia -- costuma fazer viagens de Cruzeiro, naqueles navios maravilhosos. Contam esses passeios com riqueza de detalhes. Vou junto e sinto até o barulho do mar, o balançar do navio e aquela brisa gostosa proporcionada pelo marzão.

Bom demais da conta é o relato de quem faz turismo pelo interior da Itália. Melhores ainda são os entusiasmos daqueles que conheceram a Holanda e sua Amsterdã desprovida de amarras e preconceitos. Sigo junto.

Lá pelas tantas e quantas, reaparece a pergunta:

-- E você? Já esteve no estrangeiro?

-- Sim, já estive, sim... – respondo, como sempre, criando tangentes. – Viajar é bom demais da conta! Já estou pensando na próxima...

-- E onde você esteve mesmo? – surge a pergunta fatal e fatídica.

-- Bem, estive rapidamente ali em Ciudad del Este, conheci o Shopping Paris!!! Atravessei a Ponte da Amizade, arrematei um litro de uísque escocês, comprei o presente de Natal da minha mãe e umas lembrancinhas pros meus netos, Juliano e Martina.

Em outras palavras: já saí de Uruaçu, atravessei as fronteiras goianas e tive no estrangeiro... Num é? Desse jeito...


 

  

9 comentários:

  1. Machado de Assis só fez uma viagem a Minas. E o mineiro Drummond, em razão de visita familiar à filha, se deslocou até Buenos Aires.

    Logo, você está em boa companhia.

    Borges dizia que todo deslocamento é "espacial". Lógica impecável.

    Caetano diz em "Aracaju": "Não importa tanto aonde vou/O melhor lugar é ser feliz". E seu amigo e parceiro Gil diz: "O melhor lugar do mundo / É aqui e agora".

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  2. Gostei, vc já andou d++++, bom tb é a notícia da publicação do livro do Ítalo. Genial!!!

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  3. Muito bom Zé! Homem viajado!

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