Você
já foi ao “estrangeiro”? É uma pergunta que ouço desde a adolescência, época em
que apenas sair de Uruaçu para a capital do estado de Goiás, Goiânia, já era
uma proeza de contar em detalhes pros amigos numa mesa de bar, lugar sagrado da existência humana. Conhecer o mar, então, era um desafio só alcançado
por uns poucos privilegiados. Minha chance veio no início do ano de 1978, aos 24
anos de idade, na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro.
Quem
me pergunta se já estive no exterior, respondo prontamente: já estive, sim. Mas
dou um jeito de desviar o assunto o quanto possível... Falo como se fosse um autêntico "boró de tapera" lá do interior goiano:
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Estou planejando outras viagens, mas, como todos sabem, a passagem tá muito
cara, o dólar, nas alturas... -- Vou sempre por essa linha, ajustando aqui e
ali, como meu jogo de cintura permite.
Ouço atentamente os relatos de viagens dos amigos e amigas. Falam da beleza
imensurável de Paris. Alguns até me fazem viajar junto ao contarem em detalhes
seus passeios. Recentemente, li um crônica de viagem do amigo, poeta e
psicanalista Ítalo Campos, que a está guardando para um livro a ser publicado. Maravilha!
Andei com ele e sua querida Rita pelas ruas, cafés e restaurantes da Cidade Luz.
Minha
mulher Stela voltou exultante com a grandeza e a grandiosidade da China
comunista, por onde esteve viajando recentemente.
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O mundo está acontecendo é por lá! Você tem que ir conhecer. É impressionante! –
diz ela, com um entusiasmo que me leva junto. Confesso que gera até um certo
ciúme daqueles chinesinhos de olhos disfarçados como se não estivessem mirando
a mulher do estrangeiro. Ainda vou por lá e acerto algumas contas...
A
turma do Carnaval dos Amigos -- festa que acontece todo ano em Goiânia --
costuma fazer viagens de Cruzeiro, naqueles navios maravilhosos. Contam esses
passeios com riqueza de detalhes. Vou junto e sinto até o barulho do mar, o
balançar do navio e aquela brisa gostosa proporcionada pelo marzão.
Bom
demais da conta é o relato de quem faz turismo pelo interior da Itália. Melhores
ainda são os entusiasmos daqueles que conheceram a Holanda e sua Amsterdã
desprovida de amarras e preconceitos. Sigo junto.
Lá
pelas tantas e quantas, reaparece a pergunta:
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E você? Já esteve no estrangeiro?
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Sim, já estive, sim... – respondo, como sempre, criando tangentes. – Viajar é
bom demais da conta! Já estou pensando na próxima...
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E onde você esteve mesmo? – surge a pergunta fatal e fatídica.
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Bem, estive rapidamente ali em Ciudad del Este, conheci o Shopping Paris!!! Atravessei
a Ponte da Amizade, arrematei um litro de uísque escocês, comprei o presente de
Natal da minha mãe e umas lembrancinhas pros meus netos, Juliano e Martina.
Em outras palavras: já saí de Uruaçu, atravessei as fronteiras goianas e tive no estrangeiro... Num é? Desse jeito...
Legal Zé!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirMachado de Assis só fez uma viagem a Minas. E o mineiro Drummond, em razão de visita familiar à filha, se deslocou até Buenos Aires.
ResponderExcluirLogo, você está em boa companhia.
Borges dizia que todo deslocamento é "espacial". Lógica impecável.
Caetano diz em "Aracaju": "Não importa tanto aonde vou/O melhor lugar é ser feliz". E seu amigo e parceiro Gil diz: "O melhor lugar do mundo / É aqui e agora".
Adorei o comentário! Grato pela participação aqui no blog. Abraço.
ExcluirAbração!
ExcluirGostei, vc já andou d++++, bom tb é a notícia da publicação do livro do Ítalo. Genial!!!
ResponderExcluirObrigado, prima!
ExcluirMuito bom Zé! Homem viajado!
ResponderExcluirObrigado! Vou continuar viajando...
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