Passada a alegria e a ressaca do
Carnaval, voltemos à realidade. De preferência, voltemos aos poucos para que o
choque não seja tão brusco. Vamos falar desse belo trabalho do arquiteto e
artista plástico Goiá Jaime, que mora em Goiânia, é viúvo de nossa amada e
inesquecível Vênus Mara e hoje vive na companhia de sua querida Nadir, na mesma
casinha do Setor Sul, cercada de um ambiente bucólico e lírico.
Goiá nos deu de presente essa aquarela acima, que lembra as cidades goianas do interior – Goiás
Velho, Pirenópolis, Uruaçu, Nazário e tantas outras – dos tempos da nossa
infância. O quadro é nostálgico e de uma beleza que agrada já no primeiro
olhar. Depois, com o passar dos anos, descobri que ele tinha outros três quadros
pintados com essa mesma temática.
Decidi colocar essa série de aquarelas aqui no blog
por dois motivos. Primeiro porque gostaria muito que o Goiá, com todo seu
talento e sensibilidade artística, voltasse a pintar e a realizar seus
trabalhos de rara beleza plástica. E também porque estamos pobres de artistas e
de peças que possam realmente ser chamadas de obras de arte. Somos bons
apreciadores, julgadores atentos, mas produzimos pouco ou quase nada no
universo das obras de arte.
O filósofo Giorgio Agamben já
registrou esse fenômeno em seu Homem Sem
Conteúdo, publicado em 1970. Mostrou que vivemos uma época impregnada pelo
bom-gosto, pela sensibilidade que nos capacita para apreciar, analisar e julgar
trabalhos artísticos. Mas estamos perdendo a capacidade de produzí-los, tanto
que o espaço por excelência na era da estética é o Museu.
Goiá Jaime tem lá suas razões para
abandonar a produção de trabalhos artísticos. Se diz desencantado com o rol de
banalidades que cercam o universo das artes. O valor comercial que elas
adquiriram, os aproveitadores e oportunistas que circulam com extrema desenvoltura
ao redor dos artistas, principalmente no mundo das artes plásticas. Tem
verdadeira aversão pela pop art, que segundo ele valorizou a superficialidade.
Goiá fez quatro anos de Belas Artes,
na faculdade federal de Goiás, e deixou o curso para fazer Arquitetura na UnB.
Durante os quatro anos que estudou em Goiânia, foi aluno do Frei Nazareno
Confalloni e de Cleber Gouveia, de quem foi amigo particular. Conviveu também
com D J Oliveira, que lencionava na Escola de Belas Artes da Universidade
Católica, e era professor de Siron Franco, que além de contemporâneo foi amigo
do Goiá e da Vênus. Em outras palavras, esse ambiente de artes plásticas em
Goiás sempre foi de muita qualidade artística.
Goiá também possui pedigree. Sua família Jaime, de Pirenópolis, tem vários artistas e pessoas talentosas, como o maestro Joaquim Jaime, o Nega, Marilu, que ensinou o Nega a tocar piano, e os saudosos Jesus Jaime – exímio violonista, escritor e poeta –, Oscar Jaime Filho, o Cota, que não chegou a publicar, mas escreveu belas poesias. Todos eles eram irmãos de José Jaime, conhecido como Gaúcho e um dos fortes líderes do movimento de esquerda em Goiás, morto em 1963, vítima de problemas cardíacos, antes de estourar o golpe militar de 64.
Goiá garantiu-me por telefone, antes
da publicação deste post, que está
pensando em retomar as atividades artísticas, além de cuidar com muito zelo e
talento do belo jardim da sua casa. Vamos continuar torcendo e rezando pra que
isso aconteça. Nós, meros apreciadores de obras de artes, ficaremos radiantes.
Enquanto isso não acontece, vamos
ouvir a apresentação da Orquestra Sinfônica de Goiânia, sob a batuta do maestro
Joaquim Jaime, numa apresentação ao ar livre.
É bom saber reconhecido o trabalho que se faz com amor e sensibilidade. Observação feita para seu cunhado e para você com seu blog muito legal. M Selma
ResponderExcluirValeu, Selma. Sempre atenta e cordial com as publicações do blog. Grande abraço.
ExcluirDesde sua aquarela acima, me enchi de admiração pela inspiração do Goiá nas telas. E sempre perguntando para Stela,a possibilidade de adquirir um trabalho do artista aqui mostrando mais maravilhas.Fico feliz que ele tenha voltado a tocar os pincéis .Parabéns Goiá seus quadros me comovem, pela sensibilidade nostálgica e melancolia.
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