Era exatamente o ano de
1954. Uruaçu ainda tinha poucos recursos médicos e hospitalares. Meu avô,
Antônio Pereira Camapum, Seu Toim, então
resolveu que o parto daquela menina de apenas 16 anos de idade deveria acontecer na cidade goiana de Anápolis. Não sei se teria sobrevido se o parto tivesse sido feito em
Uruaçu; também não consigo imaginar o contrário. Sei apenas que provavelmente
não teria esse nome pomposo, universal e ao mesmo tempo tão raro.
Acredito também que
Uruaçu não é lugar para se morrer, mas sim para se viver ampla e intensamente.
Por isso mesmo, sou duplamente agradecido a vovô
Toim, que teve a ideia de mandar minha mãe pra Anápolis. Hoje, posso dizer
orgulhoso: sobrevivi em Anápolis e não morri em Uruaçu.
Até gostaria de saber
como minha mãe fez para sobreviver à penosa viagem de Uruaçu para Anápolis. Ela
é piauiense e como todo nordestino, antes de tudo, uma mulher muito forte.
Enfrentou estrada de terra, muita poeira, buraco e costela de vaca – pois, era
julho e não chove no inverno goiano, mas fazia e faz até hoje frio em Anápolis. Um dia inteiro de viagem... Saía-se cedinho de Uruaçu e chegava-se à noite em Anápolis. Um dia inteiro na boleia do caminhão de Seu Joaquim Caetano, sacolejando e passando calor...
Dona Iracema também
sobreviveu ao parto “natural”, que de natural não teve nada. Uma criança de 4,3
quilos, bem distribuídos por 52 centímetros faz qualquer parto deixar de ser
normal. Tanto que doutor Oscar, o ginecologista, pediu apoio para o experiente
doutor Bonfim, na tradicional Casa de Saúde Santa Lurdes de Anápolis. Ambos
lutaram para tirar a criança com vida e não deixar a mãe morrer. Tive
convulsões, fiquei roxo, mas engatei uma segunda e rompi lá na frente.
Os médicos venceram e eu ganhei na sorte grande. Sobrevivi e minha mãe, também. Melhor que ganhar um
prêmio acumulado da Mega Sena. Acho que é por isso que eu jogo e não consigo acertar nada
na Loteria. Ninguém tem uma sorte dessas duas vezes...
O calor em Brasília
está insuportável. Queria mesmo estar em Anápolis, nascendo novamente,
sobrevivendo mais uma vez, curtindo aquele friozinho leve e gostoso de julho...
Ahhhh! Zé Carlos, você e suas histórias bacanas, interessantes de ler. Que linda história. Parabéns à guerreira Ira, Vô cheio de sabedoria, à equipe médica e a você pela vontade de viver e por encher de felicidades aqueles que compartilhas do seu convívio, da sua vida.
ResponderExcluirForte abraço!
Do amigo, sempre atento, Nélio Bastos, recebi o e-mail gentil e carinhoso que transcrevo abaixo:
ResponderExcluir"Por Certo, em decorrência disso, é que você se fez uma pessoa tão diferenciada (conforme já lhe disse antes, uma dos melhores seres humanos que conhecemos).
Não passei por tal experiência. Entretanto, a uma coincidência estre nós! Também eu, por vontade de meu pai, chamaria Rui. Minha mãe, não achando o nome auspicioso (pessoalmente lhe conto o por quê), resolveu batizar-me com esse que ostento.
Senão em Anápolis, talvez em Goiânia, onde o calor também deve estar insuportável, mas, justamente, devido ao clima estaríamos, com “moderação”, bebendo uma cervejinha.
Abraços"
Nélio terá que compartilhar comigo, o por que de não se chamar Rui. Fiquei curioso!
ResponderExcluirFaço das minhas as palavras do nosso amigo e cantor de todas músicas existentes no mundo, Nélio Bastos
ResponderExcluirMinha querida Tia Enoy, a irmã caçula de minha mãe, postou o seguinte comentário no Face sobre a crônica acima:
ResponderExcluir"Bom demais garoto,parabéns beijos!!!"
Tia Enoy, entusiasmada, postou novo comentário lá no Face sobre o texto acima. Vejam:
ResponderExcluir"Parabéns querido pelo lindo texto,a alma de poeta dos Coelhos,lindo demais,aliás como tudo que você escreve lá no blog,tenho muito orgulho de ser sua tia e de ter sido sua babá. Beijos!"