quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Cachaça, com moderação e arte, também é cultura

 
Não há dia melhor para se falar de cachaça do que no Dia Nacional da Ressaca. Quem já acordou de ressaca sabe o tamanho do arrependimento – “nunca mais eu bebo!”. Esse nunca é diretamente proporcional à duração do mal-estar, quanto mais este dura mais aquele persiste. A promessa desaparece no primeiro gole de uma cerveja bem gelada, num happy hour com os amigos.
Ressaca causada por qualquer bebida é insuportável. Na verdade, ela é consequência primeira e maior do excesso de álcool no organismo. Portanto, beber com moderação é mais do que um conselho. É na verdade uma ciência, ou uma sapiência. Aliás, trata-se da única maneira aceitável de realmente se apreciar uma bebida. Ficou tonto, perdeu a razão e o paladar vai embora junto.
Cachaça é um exemplo clássico dessa afirmativa. Quem não sabe beber bem, melhor não se aventurar a bebedor desse produto genuinamente brasileiro, como o samba. Cachaça, Carnaval e Futebol fazem um tripé profundamente arraigado na cultura do nosso povo. Quem não bebe cachaça, não tem samba no pé e não sabe quem foi Mané e Pelé, bom sujeito não é.
A marvada da cachaça, que depois virou bendita, surgiu em meio aos escravos, adquiriu a pecha de bebida de gente desqualificada e sem classe. Foi manipulada pelos nossos colonizadores para estimular o trabalho dos escravos e depois proibida porque podia estimular rebeliões. Ao ser proibida, ficou melhor ainda e virou orgulho nacional, obrigando os portugueses a voltar atrás na proibição.
A produção de cachaça foi se aperfeiçoando com o passar dos tempos. Minas Gerais ainda é o maior e o melhor celeiro desse produto, principalmente na região de Salinas e Montes Claros (deve ser por isso que os mineiros dessa região vez por outra sentem a terra tremer). Mas existem também boas cachaças no Nordeste, no Espírito Santo e em Goiás.
Recentemente, descobri ótimas cachaças do Rio Grande do Sul. Uma delas é a Casa Bucco, produzida e envelhecida no Vale do Rio das Antas, região da Serra Gaúcha, desde 1925. Outra maravilha é a Weber Haus, que está lançando um blend produzido a partir de cachaças extra-premium que passaram seis anos em barril de carvalho e depois seis anos em barril de bálsamo. Quem quiser conhecer um pouco sobre essa maravilha é só assistir ao terceiro vídeo abaixo.
Em outras palavras, temos ótimas cachaças produzidas a partir da cultura dos negros e dos colonizadores portugueses e também de imigrantes alemães. Essa mistura brasileira é de enlouquecer qualquer sulista dos Estados Unidos. E tem diversos sotaques, como o caipira de Inezita Barroso, em Marvada Pinga, ou o samba com solo de guitarra do velho e bom Erasmo Carlos, em Cachaça Mecânica.
Depois de tudo isso, é possível dormir em paz, apesar do risco de acordar amanhã de ressaca, mesmo sem ter bebido. Mas, amanhã já não será mais o Dia da Ressaca e, então, poderemos iniciar um novo ciclo.
Saúde a todos! Antes que eu me esqueça, “beba com moderação”, e, “se beber, não dirija”.
PS – conheçam o site Mapa da Cachaça, que é muito bom, no endereço www.mapadacachaca.com.br.





4 comentários:

  1. Do amigo Nélio Bastos, bom apreciador dos produtos etílicos, recebi o seguinte texto por e-mail:

    "Zé,
    De fato, se beber não dirija e, também, beba na exata medida a fim de não perder a direção.
    A propósito, veja que interessante a história contada no Museu do Homem do Nordeste:
    'Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou. O que fazer agora?
    A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
    No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado. Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo.
    Resultado: o azedo do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente.
    Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome PINGA.
    Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de ÁGUA-ARDENTE.
    Caindo em seus rostos escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar. E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.'

    Abraços,
    Nélio"

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  2. Salve, maravilhosa Inezita!!!!

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  3. Parabéns pelo texto! Estamos divulgando o link em nossas mídias sociais. Esperamos que tenha a oportunidade de degustar a Sinhá Brasil - cachaça artesanal em breve e tenha uma experiência maravilhosa, assim como já teve com outras cachaças de alambique acima citadas.
    Deixo aqui um abraço ao amigo apreciador!

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    1. Vou experimentar, sim, com certeza - quanto mais com esse nome charmoso de Sinhá Brasil. Obrigado pela participação aqui no blog. Abraço.

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