O que fazer quando num mesmo dia morrem dois violonistas do porte de Paco de Lucia, o gênio que tornou universal a música espanhola, e Ernesto Paulelli, o Arnesto que Adoniran Barbosa transformou em celebridade? Chorar, lamentar, rezar pela alma dos dois, ouvir uma boa música, cantarolar uma canção, enfim, tudo que fizermos pode servir de consolo, mas nada disso trará de volta essas duas figuras do mundo musical. O ideal mesmo é falar um pouco de cada um, assim estaremos ajudando a preservar valores culturais.
Ernesto Paulelli era muito mais que o
personagem Arnesto idealizado por
Adoniran. Era um grande violonista que tocava nas cantinas da boemia paulista.
Nunca parou de pensar, de ler, estudar e manter ativo o seu cérebro, enquanto teve
saúde. Aos 60 anos, realizou o sonho de estudar direito e trabalhou por 30 anos
nessa profissão. Aos 95 anos, durante uma entrevista ao Estado de São Paulo,
disse que continuava lendo e estudando, todos os dias, sobre Filosofia,
Matemática e Português.
Arnesto era um erudito que fazia trocadilhos,
usava com precisão palavras da língua culta. O mundo dele uniu-se ao de
Adoniran por meio da música, onde os dois falavam a mesma linguagem e estavam
afinados, em perfeita sintonia com o mundo da cultura popular.
Paco de Lucia era um gênio. E, como os
gênios não morrem, sua obra continuará a encantar a humanidade pelos séculos
afora. Para enriquecer a música espanhola, principalmente o Flamenco, usou com
maestria as influências que recebeu do jazz, do blues, da música caribenha e da
bossa-nova e também do chorinho brasileiro.
Deu um show no Teatro Nacional de
Brasília, salvo engano, no ano de 1987. Não pude ir, mas a minha mulher Stela foi e
ficou encantada. Aliás, está encantada até hoje. Passei no Teatro para buscá-la.
O show estava terminando e o porteiro permitiu que eu entrasse e assistisse os
momentos finais. Foram inesquecíveis. Ficarão guardados para sempre na minha
memória.
O dia de hoje é duplamente triste. O
universo da cultura está de luto, mais pobre e acanhado. O melhor mesmo é ouvir música...
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