Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes - bons tempos |
Como
sou um apaixonado pelo samba, fiquei radiante quando li a opinião do compositor
Ismael Silva de que “Chico Buarque é samba”. É, sim, essencialmente o samba que
está na raiz da nossa cultura, mas um compositor que, graças a seu talento e
sensibilidade, soube plainar por todos os estilos, ritmos, tendências e modismos,
sem perder a ternura e sem abandonar suas raízes, jamais.
Chico
foi o primeiro a voltar do exílio imposto ou não a dezenas de artistas
brasileiros nos anos mais difíceis da ditadura militar. Em 1970, um ano depois
do AI-5, seu talento estava de voltar pra alegria e glória de todos nós, que
ficáramos órfãos da turma dos festivais: Edu Lobo, nos Estados Unidos, Geraldo
Vandré, na França, e os baianos Caetano e Gil, em Londres.
Sua
obra desse período é marcante. Distancia-se do lirismo nostálgico e
descompromissado do início da carreira e nos apresenta sua Construção, voltada para o dia a dia, o sofrimento do povo, as
tragédias cotidianas, num trabalho maduro, erguido tijolo por tijolo, com engenho
e arte. Chico enfrenta o convencional, invertendo valores, subvertendo ordens,
valorizando a cultura popular – a nos mostrar que a aceitação do status quo nada mais é do que a nossa
própria desumanização.
Chico
atravessou o tempo, gerações as mais diversas, avanços tecnológicos e modismo
de todas as espécies, até chegar à era da comunicação on line, das redes sociais, da paixão e do ódio virtuais mesmo que flagrantemente
reais. A obra dele é tão boa hoje como no passado, mas encontra dificuldade de
se comunicar com o presente. O presente é cruel e superficial. Chico é tratado
nas redes sociais como se fosse um burguesinho que acredita no socialismo, mas
tem apartamento em Paris e representa o universo acadêmico, por ser filho de um
historiador. Tempos tão difíceis como os da ditadura militar. Agora, a ditadura
da intransigência.
Mas
Chico Buarque de Holanda é superior a tudo isso. É o compositor mais completo
da Música Popular Brasileira, embora não seja o melhor músico e nem o único e
extraordinário letrista. Sua obra é ampla, repleta, exuberante, sensível e
apaixonante. Quem não a conhece por inteiro não sabe o que está perdendo. Mas,
nunca é tarde para fazê-lo. Isso tudo sem falar do Chico da literatura, dos musicais, das trilhas sonoras e outras versatilidades.
Salve
Chico. Parabéns por todos esses anos de dedicação plena à cultura. O ZecaBlog,
humildemente, agradece.
Que perfeição esse texto!!!! você me apresentou o Chico, quando aos meus 13 aninhos, chegastes em Uruaçu voltando de BH para curtimos suas férias, com os LPs debaixo dos braços... Apaixonado pela arte de Chico. Parabéns, o homenageado precisava ler isso.
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