domingo, 23 de outubro de 2016

As cores e os sons da madrugada seresteira


A madruga é sagrada. É ali que o mundo se cala, o silêncio da noite toma conta e as cores dão sentido à vida. Os sons são diferentes, repercutem com maior intensidade, e ninguém passa despercebido. A noite é dos homens e das mulheres, dos prazeres. A madrugada é dos boêmios e seresteiros. O alvorecer é divino e supera todas as belezas que a Natureza nos oferece. É assim que aprendi a ver a madrugada, naquela Uruaçu distante, de tantos cantores e violeiros dedicados à arte das serenatas. 



Olhos da noite
José Carlos Camapum Barroso

Teus olhos são de prata
Por onde escorre a lua,
No luar da serenata,
Madrugada pela rua...

Esses olhos tão verdes
Trazem o brilho da mata
E espalham prazeres
Onde nasce a alvorada

Se tão azuis e fieis,
São os açaís da noite
A brilhar pelos anéis,
Recortados pelo açoite

Dos frios ventos Alísios
A inspirar os cantores,
Em seus maiores delírios:
Os soluços de amores.

Madrugada é violeta
Tão densa e espiritual...
E a paixão secreta
Do vermelho-laranjal

Enche a rua de prazer!
Na voz dos seus cantores,
A noite a resplandecer,
De gemidos e tremores.

Teus olhos são Índigos
E uma voz celestial
De belos tons e signos
Traz uma aurora boreal.

Quando então o astro-rei
Salpica os seus raios...
Madrugada pede arreio:
Olha o cantor de soslaio

E pede à mãe-natureza,
Que tão sábia lhe diz:
Tirei da noite a beleza
Mas dou-te o arco-íris!

Responde então a Lua
Àqueles olhos do luar:
Vamos dar adeus à rua
Logo, a noite irá voltar...



2 comentários:

  1. Quanta inspiração Sr Poeta!!! Linda poesia, maravilhosa Maria Betânia.

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