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Foto de Orlando Brito |
O
cidadão Ulysses Guimarães completaria hoje 100 anos. A Constituição Cidadã fez
ontem 28 de existência. Uma data para comemorar e outra para não deixar que
caia no esquecimento o legado do condutor da travessia. Aquele que nos rebocou
com uma bandeira não mão, o amor à pátria no coração e a coragem no peito. Com
a certeza nos olhos e o clamor na voz, a ecoar os anseios e os sonhos de um
povo sofrido e cerceado pela opressão, a censura, a força, a tortura e a morte.
Ulysses
Guimarães soube enfrentar as baionetas sem recorrer, jamais, à força. Venceu
eleições sem recorrer à demagogia, ao discurso fácil ou rasteiro. Foi derrotado
em algumas delas, como na disputa à presidência da República, sem perder a
ternura e a dignidade. Nesta campanha tive o prazer de trabalhar em sua equipe
e posso testemunhar sua retidão, honradez e humildade.
A
Constituição Cidadã, um dos seus maiores legados, está aí, sobrevivendo a
arranhões, ameaças, desvios e equívocos, pois traz em si mesma a certeza de que,
o melhor caminho para uma Nação alcançar sua grandeza, é o do fortalecimento da
democracia e das instituições democráticas. Foi feliz ao afirmar, no discurso
da promulgação, que não era uma Constituição perfeita, pois admitia para si
mesma a possibilidade de reforma. Reconheceu que se poderia sobre ela divergir,
discordar, mas desrespeitá-la ou afrontá-la, jamais. “Traidor da Constituição é traidor da Pátria” – são essas as
palavras que precisam ser repetidas e valorizadas. E foi mais além naquele
discurso histórico:
“ Não é a Constituição
perfeita, mas será útil, pioneira,
desbravadora. Será luz, ainda que de lamparina,
na noite dos desgraçados.
na noite dos desgraçados.
É caminhando que se abrem os caminhos. Ela vai caminhar e
abri-los.
Será redentor o caminho que penetrar nos bolsões sujos,
escuros e ignorados da miséria. ”
Ulysses
Guimarães faria hoje 100 anos de idade. Um século a nos proporcionar sabedoria,
mansidão e desapego a valores menores. Perdemos a oportunidade de vê-lo apagar,
nesta data querida, tantas velinhas com o mesmo sopro que fez tangir para bem longe a arrogância, a prepotência e os desmandos dos usurpadores do poder. Com
a mesma suavidade e elegância que enfrentou baionetas e cassetes a ecoar apenas
um grito: respeitem o chefe da oposição!
Mas
o bom velhinho ainda estaria a ouvir
o povo cantar, além dos parabéns, o hino da sua campanha à Presidência da
República: Bote fé no velhinho, o
velhinho é quem faz. E fez... tantas coisas por esse país que jamais poderá
ser esquecido.
Nasceu
no dia 6 de outubro de 1916, e morreu no dia 12 de outubro – dia da criança! –,
no ano de 1992, quando sua filha mais jovem – a Constituição Cidadã – tinha
apenas quatro anos de idade, completados uma semana antes do seu
desaparecimento – não poderia simplesmente morrer! –, em um acidente aéreo no
litoral do sul do Rio de Janeiro.
Ulysses
Guimarães o velhinho-criança, o velhinho que desapareceu desse mundo ainda
muito jovem, no dia dedicado às crianças, pois não poderia ser diferente em
face da força das suas ideias e da grandeza dos seus sonhos.
Que Deus
o tenha ao seu lado, pois nós o manteremos sempre à nossa frente!
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