quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Ulysses Guimarães faria hoje um século de sabedoria

Foto de Orlando Brito

O cidadão Ulysses Guimarães completaria hoje 100 anos. A Constituição Cidadã fez ontem 28 de existência. Uma data para comemorar e outra para não deixar que caia no esquecimento o legado do condutor da travessia. Aquele que nos rebocou com uma bandeira não mão, o amor à pátria no coração e a coragem no peito. Com a certeza nos olhos e o clamor na voz, a ecoar os anseios e os sonhos de um povo sofrido e cerceado pela opressão, a censura, a força, a tortura e a morte.

Ulysses Guimarães soube enfrentar as baionetas sem recorrer, jamais, à força. Venceu eleições sem recorrer à demagogia, ao discurso fácil ou rasteiro. Foi derrotado em algumas delas, como na disputa à presidência da República, sem perder a ternura e a dignidade. Nesta campanha tive o prazer de trabalhar em sua equipe e posso testemunhar sua retidão, honradez e humildade.


A Constituição Cidadã, um dos seus maiores legados, está aí, sobrevivendo a arranhões, ameaças, desvios e equívocos, pois traz em si mesma a certeza de que, o melhor caminho para uma Nação alcançar sua grandeza, é o do fortalecimento da democracia e das instituições democráticas. Foi feliz ao afirmar, no discurso da promulgação, que não era uma Constituição perfeita, pois admitia para si mesma a possibilidade de reforma. Reconheceu que se poderia sobre ela divergir, discordar, mas desrespeitá-la ou afrontá-la, jamais. “Traidor da Constituição é traidor da Pátria” – são essas as palavras que precisam ser repetidas e valorizadas. E foi mais além naquele discurso histórico:

Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira,
desbravadora. Será luz, ainda que de lamparina, 
na noite dos desgraçados.
É caminhando que se abrem os caminhos. Ela vai caminhar e abri-los.
Será redentor o caminho que penetrar nos bolsões sujos,
escuros e ignorados da miséria.

Ulysses Guimarães faria hoje 100 anos de idade. Um século a nos proporcionar sabedoria, mansidão e desapego a valores menores. Perdemos a oportunidade de vê-lo apagar, nesta data querida, tantas velinhas com o mesmo sopro que fez tangir para bem longe a arrogância, a prepotência e os desmandos dos usurpadores do poder. Com a mesma suavidade e elegância que enfrentou baionetas e cassetes a ecoar apenas um grito: respeitem o chefe da oposição!

Mas o bom velhinho ainda estaria a ouvir o povo cantar, além dos parabéns, o hino da sua campanha à Presidência da República: Bote fé no velhinho, o velhinho é quem faz. E fez... tantas coisas por esse país que jamais poderá ser esquecido.


Nasceu no dia 6 de outubro de 1916, e morreu no dia 12 de outubro – dia da criança! –, no ano de 1992, quando sua filha mais jovem – a Constituição Cidadã – tinha apenas quatro anos de idade, completados uma semana antes do seu desaparecimento – não poderia simplesmente morrer! –, em um acidente aéreo no litoral do sul do Rio de Janeiro.

Ulysses Guimarães o velhinho-criança, o velhinho que desapareceu desse mundo ainda muito jovem, no dia dedicado às crianças, pois não poderia ser diferente em face da força das suas ideias e da grandeza dos seus sonhos.

Que Deus o tenha ao seu lado, pois nós o manteremos sempre à nossa frente!


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