segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Minha mãe descobriu que o negócio bom é "ficar"


Minha mãe Iracema fez 79 aninhos de idade, hoje, dia 26 de dezembro, um dia depois que Jesus Cristo completou 2.016 anos a guiar nossos passos. Me confessou um segredo que eu não consigo guardar só para mim. Não quer mais saber de namoro. Agora o negócio é só ficar, como dizem os mais jovens. “Um rela-rela nos forrós da terceira idade, bom demais da conta”!
Está certa, minha mãe. Esse negócio de compromisso é coisa do passado, de muito antigamente. Ainda mais ela, que ficou grávida com 15 anos de idade, casou e cuidou do marido, enquanto esteve entre nós, e de quatro filhos por muitos e muitos anos. Também ajudou a criar os netos; mas, agora, na geração dos bisnetos, ela resolveu dar uma guinada de 180 graus.

A piauiense Iracema, como todo nordestino, é forte e vencedora. Ficou órfã com nove anos de idade. A partir de então, passou a trabalhar na casa dos parentes, no pesado, cuidando das crianças menores, tirando água da cacimba, e carregando lata na cabeça. Até que veio pra Goiás, em pau-de-arara, de carona com Florisbela (dona Flor), que viria a ser nossa vizinha em Uruaçu.
Quase não embarca para a terra prometida. Dona Flor só tinha autorização para levar uma das filhas do viúvo Edgard Barroso, a caçula Enoy, sua única irmã. Os quatro irmãos já tinham vindo para Goiás com o pai. Quem garantiu o embarque dela, por incrível que pareça, foi uma mulher considerada “de vida fácil” (imaginem!). Quando viu minha mãe chorando, porque não iria embarcar, chutou o balde: “Essa menina não pode ser separada da irmã; isso é um crime, não se aparta duas irmãs dessa forma”!

Veio. Ajudou a constituir a imensa família Camapum Barroso que se espalhou pelo Centro-Oeste e Brasil afora. Não foi fácil sua vida na pequena Uruaçu, uma cidade em formação, sem água, luz, saneamento básico, muito tradicionalismo e uma boa dose de preconceitos, espalhados pelas ruas de terra, poeira e enxurradas.
Mas, seguiu. Venceu dificuldades. Ergueu uma família bonita, unida e que deve todo sucesso a ela. E ainda teve a capacidade, mesmo com pouco estudo, de ter uma visão moderna da vida, livre de preconceitos e distante das injustiças. Tem um rol de amizades de dar inveja.
Hoje, data do seu aniversário e da confissão acima, recebeu dezenas de telefonemas de parentes e amigos de todos os cantos desse Brasil imenso. Tem dois aparelhos de celular, de operadoras diferentes, para baratear custos e poder falar mais tempo com tanta gente, inclusive as rápidas ligações para os ficantes. Tem WhatsApp e conta no Facebook
Por tudo isso e muito mais, ostenta razões de sobra para querer só ficar. A vida passa muito rápido para se perder tempo com compromissos longos e arrastados...


2 comentários:

  1. Parabéns para Dona Ira, mulher forte, guerreira, determinada e vencedora. Merece todos os louros e homenagens.

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  2. Parabéns para D Iracema, mulher guerreira, simpática e amiga. Deus conceda saúde, alegrias, danças e muitos anos de vida! Felicidades!

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