quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O mundo do rádio é maior que nossas lembranças


O Brasil comemorou, nesta terça-feira (05), o Dia Nacional do Radioamador e, também, o Dia da Cultura. Amanhã (07) comemora-se o Dia do Radialista. Todas essas datas estão sempre bem associadas, andam juntas, principalmente em nossa memória. O universo do rádio, então, está embrenhado em minhas lembranças, por ser, sem dúvidas, uma das paixões da minha vida. Boa parte da infância e juventude, passei com o ouvido colado naqueles tradicionais aparelhos de rádio, que só existem como relíquias.
São deliciosas as surpresas que vêm pelas ondas sonoras, tanto nos noticiários, quanto nos programas de músicas e humorísticos. Acho prazeroso, por exemplo, colocar cinco discos e deixar tocar músicas aleatoriamente, recurso hoje sofisticadamente chamado de shuffle. Quando faço isso, os meninos lá em casa zombam: "lá vem o saudosista do rádio...".



Boa parte das minhas recordações de infância tem alguma coisa vinculada ao rádio. Lembro que certo dia estava sentado numa cadeira, ao lado da mesinha do rádio, cumprindo meu ritual, quando entra o amigo de infância Zé Renato Pereira (de saudosa memória), dizendo: “seu avô morreu, tá sabendo que seu avô morreu!”.
Tinha morrido, mesmo. E o corpo de seu Antônio Camapum, mais conhecido por seu Toinho, já estava chegando a Uruaçu, vindo de Goiânia, depois de uma temporada tentando debelar um câncer na capital do Estado. Lembro um pouco do velório, as pessoas chorando muito e eu assustado com tudo aquilo. Depois, durante alguns dias, o rádio ficou coberto com um pano preto. E eu sem entender o que estava acontecendo. Além de perder meu avô, ainda não podia ouvir rádio? Explicaram-me que era preciso guardar luto.


Adorava ir para casa do tio e padrinho Batista Coelho Barroso (foto ao lado), radioamadorista licenciado, que tornava as comunicações mais eficazes naqueles anos das décadas de 1950 e 1960, na pequena Uruaçu, encravada no coração do Brasil e do mundo - quiçá, do universo. Ele transmitia em PRK, um número tal, que já não me lembro, e com a deixa de Brasil-Guatemala-França. Sempre que falo do rádio, ou do radioamadorismo, lembro-me dele, que já nos deixou e foi surfar, com toda sua bondade e talento, em outras ondas desse imenso universo.
A comunicação via rádio é fácil, direta, objetiva. O seu poder de difusão e de penetração nas diversas classes sociais e pelo país afora é inestimável. Todos amam o rádio, sejam radialistas, jornalistas, comentaristas, músicos, e até mesmo, pasmem, os políticos!
Já temos três datas homenageando esse veículo de comunicação e seus profissionais. Uma dessas datas, o Dia do Radialista, em 21 de setembro, foi criado por Getúlio Vargas para comemorar a instituição do piso salarial da categoria; o outro Dia do Radialista, em 07 de novembro, foi instituído pelo presidente Lula, em 2006, para homenagear Ary Barroso, músico e locutor esportivo de raro talento; e o tradicional Dia do Rádio, que se comemora em 25 de setembro, criado para reverenciar Roquete Pinto – o pai do rádio no Brasil.
Até na criação do rádio tem dedo de brasileiro. O inventor, oficialmente, é o italiano Guglielmo Marconi, que criou o "telégrafo sem fio", um modelo inicial que se desenvolveu até o sistema que conhecemos hoje. Mas há também quem atribua essa invenção ao padre brasileiro Roberto Landell de Moura, que, em 1894, desenvolveu aparelho semelhante e efetuou a emissão e recepção de sinais a uma distância de oito quilômetros, do bairro de Santana para os altos da Avenida Paulista, em São Paulo. Religiosos fanáticos teriam destruído seu aparelho e anotações por se tratar de pacto com o demônio, o que atrasou o registro da invenção.

Ary Barroso (foto ao lado), merecidamente homenageado com o Dia do Radialista, era uma figura ilustre e folclórica do mundo do rádio. Flamenguista apaixonado, narrava os jogos de forma bastante peculiar. Quando o time adversário se aproximava da grande área do seu clube, em jogada perigosa, ele gritava: “Não quero nem ver!”. Se o Flamengo sofria um gol, então, ele acrescentava: “E deu-se a merda”.
Vale lembrar que o Radialista também é homenageado no dia 21 de setembro, data em que foi criado o salário base para esses profissionais, em 1943, durante o governo de Getúlio Vargas. No dia 25 de setembro é celebrado o Dia do Rádio, em homenagem a Edgard Roquette-Pinto, que nasceu nessa data no ano de 1884. Em 1923, ele criou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira emissora do Brasil.
O rádio, os radioamadores e os radialistas merecem nossas homenagens. São veículos de comunicação fantásticos, cheios de histórias curiosas e intrigantes. Nessas ondas, podemos surfar com segurança e tranquilidade. Elas não nos oferecem riscos, só contentamento.

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