domingo, 22 de março de 2020

Tempos de coronavírus, sonhos e pesadelos

Uma daquelas coincidências que talvez só tenha ocorrido em razão do isolamento imposto pelo novo coronavírus aconteceu neste sábado. Recebi do amigo e jornalista Maranhão Viegas um texto sobre sonhos e pesadelos. Na hora, deu um estalo e a memória fez-me lembrar de uma poesia, feita alguns anos atrás, sobre o mesmo tema: sonhos e pesadelos.

Retidos em casa, isolamento compulsório, oscilamos dia a dia entre sonhar e ter pesadelos. Perdemos o sono de madrugada. Só conseguimos dormir mais tarde. Preocupados conosco, os parentes, amigos, vizinhos, indagamos a todo momento onde vai parar a humanidade?

Quem sabe esses textos ajudem a relaxar um pouco, refletir um tanto para que possamos sonhar muito e ter poucos pesadelos. Pra fechar, quem sabe a Sonífera Ilha dos Titãs nos ajudará...


Sonhos e Pesadelos
Maranhão Viegas













Visto daqui o mundo parece ter diminuído. À medida de uma gota. Perigosa gota. Visto daqui meus olhos enxergam um susto, um surto, um monstro. Como naqueles pesadelos de criança. Como nas noites de vento frio e falta de cobertor.

Naqueles tempos, a monstruosidade assustava em sonho. E acabava no exato momento de acordar. Um segundo antes de o pior acontecer. Puf! A realidade vencia o medo. Ficava o espanto, que a gente dava conta de aturar. E com o passar do dia, o espanto ia ficando pequenininho, pequenininho, até sumir. À noite, na nova noite, não havia monstro, não havia pesadelo, o sono voltava ao normal.

No hoje de agora, o sono pesa, custa a chegar. Dormindo não se descansa, acordado nos falta a paz. Nossos monstros de agora são tão reais quanto invisíveis. Dormir e acordar já não serve para espantar o que nos assombra o tempo todo. Monstro voraz que nos alcança em todo lugar.

Está em nós, entretanto, alcançar o que ele não alcança. Tolerância. Aquilo que perdemos há algum tempo. Paciência, que ficou esquecida, sem valor agregado já faz hora. Leveza, que nos pesa de tão pesados.

O que o mundo uniu em velocidade instantânea, o que levou tanto tempo pra ser alcançado, nesse começo de século se perdeu como em sonho assombrado de criança, que não consegue se ver livre dos monstros, mesmo quando acorda.

O que antes parecia unido e forte, for perdendo vigor, valor, valia. O ser humano virou bites. Mais zeros do que uns. Numa batida imperfeita e veloz, a imperfeição tomou conta do espaço sem dar permissão a desejos de sanidade. Insanos, nos tornamos estranhos. Monstros de nós mesmo. Nem dormimos, nem acordamos. Monstruamos.



E agora, que a vida é posta em cheque, resta reconhecer o labirinto que construímos e perceber que não há saída à vista, se seguirmos sós, se insistirmos na solidão das nossas verdades absolutas, brutos, arrogantes, ignorantes.  

Achar o rumo, encontrar a saída, acordar do pesadelo adulto em que nos metemos exigirá humildade. Despidos dessa volúpia fugaz que nos envolve, a cada um e a todos, é capaz que se encontre uma nesga de luz.

Antes, porém, haverá dor. Uma dor que não somos capazes de medir, a não ser quando nos alcança bem perto do peito, no fundo da alma. O mergulho que nos espera, dolorido e sem norte, é também o que nos levará a uma nova consciência.

Quem sabe, uma descoberta da urgência infalível – corpo que pede espírito. Alma que transcende ao tempo. Matéria em fazimento orgânico de um nascimento novo, aprendendo a ser humano. De novo.

Uma daquelas coincidências que talvez só tenha ocorrido em razão do isolamento imposto pelo novo coronavírus aconteceu neste sábado. Recebi do amigo e jornalista Maranhão Viegas um texto sobre sonhos e pesadelos. Na hora, deu um estalo e a memória fez-me lembrar de uma poesia, feita alguns anos atrás, sobre o mesmo tema: sonhos e pesadelos.

Retidos em casa, isolamento compulsório, oscilamos dia a dia entre sonhar e ter pesadelos. Perdemos o sono de madrugada. Só conseguimos dormir mais tarde. Preocupados conosco, os parentes, amigos, vizinhos, indagamos a todo momento onde vai parar a humanidade?

Quem sabe esses textos ajudem a relaxar um pouco, refletir um tanto para que possamos sonhar muito e ter poucos pesadelos...




Sinais trocados
José Carlos Camapum Barroso

Paz em trânsito
Quando transito
Tranquilo pelos
Meus sonhos
Desengarrafados
De ansiedades

Paz no trânsito
Quando tranquila
Dorme a cidade
Na madrugada
De ruas enluaradas
E sinais vazios

Transito em paz
Até o amanhecer
Quando o sonho,
Então, se desfaz
Em pesadelos reais
Até adormecer...


Um comentário:

  1. É isso mesmo, amigo. Seguimos em quarentena e resistindo. Assim, quem sabe, nos redescobrimos, e venceremos mais esse desafio. O futuro será melhor, sem esse vírus. Pode ter certeza.

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