Uma daquelas coincidências que talvez só tenha
ocorrido em razão do isolamento imposto pelo novo coronavírus aconteceu neste
sábado. Recebi do amigo e jornalista Maranhão Viegas um texto sobre sonhos e
pesadelos. Na hora, deu um estalo e a memória fez-me lembrar de uma poesia,
feita alguns anos atrás, sobre o mesmo tema: sonhos e pesadelos.
Retidos em casa, isolamento compulsório, oscilamos
dia a dia entre sonhar e ter pesadelos. Perdemos o sono de madrugada. Só conseguimos
dormir mais tarde. Preocupados conosco, os parentes, amigos, vizinhos,
indagamos a todo momento onde vai parar a humanidade?
Quem sabe esses textos ajudem a relaxar um pouco,
refletir um tanto para que possamos sonhar muito e ter poucos pesadelos. Pra fechar, quem sabe a Sonífera Ilha dos Titãs nos ajudará...
Sonhos e Pesadelos
Maranhão ViegasVisto daqui o mundo parece ter diminuído. À medida de uma gota. Perigosa gota. Visto daqui meus olhos enxergam um susto, um surto, um monstro. Como naqueles pesadelos de criança. Como nas noites de vento frio e falta de cobertor.
Naqueles tempos, a monstruosidade
assustava em sonho. E acabava no exato momento de acordar. Um segundo antes de
o pior acontecer. Puf! A realidade vencia o medo. Ficava o espanto, que a gente
dava conta de aturar. E com o passar do dia, o espanto ia ficando pequenininho,
pequenininho, até sumir. À noite, na nova noite, não havia monstro, não havia
pesadelo, o sono voltava ao normal.
No hoje de agora, o sono pesa, custa a
chegar. Dormindo não se descansa, acordado nos falta a paz. Nossos monstros de
agora são tão reais quanto invisíveis. Dormir e acordar já não serve para
espantar o que nos assombra o tempo todo. Monstro voraz que nos alcança em todo
lugar.
Está em nós, entretanto, alcançar o que
ele não alcança. Tolerância. Aquilo que perdemos há algum tempo. Paciência, que
ficou esquecida, sem valor agregado já faz hora. Leveza, que nos pesa de tão
pesados.
O que o mundo uniu em velocidade
instantânea, o que levou tanto tempo pra ser alcançado, nesse começo de século
se perdeu como em sonho assombrado de criança, que não consegue se ver livre
dos monstros, mesmo quando acorda.
O que antes parecia unido e forte, for
perdendo vigor, valor, valia. O ser humano virou bites. Mais zeros do que uns.
Numa batida imperfeita e veloz, a imperfeição tomou conta do espaço sem dar permissão
a desejos de sanidade. Insanos, nos tornamos estranhos. Monstros de nós mesmo.
Nem dormimos, nem acordamos. Monstruamos.
E agora, que a vida é posta em cheque,
resta reconhecer o labirinto que construímos e perceber que não há saída à
vista, se seguirmos sós, se insistirmos na solidão das nossas verdades
absolutas, brutos, arrogantes, ignorantes.
Achar o rumo, encontrar a saída, acordar
do pesadelo adulto em que nos metemos exigirá humildade. Despidos dessa volúpia
fugaz que nos envolve, a cada um e a todos, é capaz que se encontre uma nesga
de luz.
Antes, porém, haverá dor. Uma dor que
não somos capazes de medir, a não ser quando nos alcança bem perto do peito, no
fundo da alma. O mergulho que nos espera, dolorido e sem norte, é também o que
nos levará a uma nova consciência.
Quem sabe, uma descoberta da urgência
infalível – corpo que pede espírito. Alma que transcende ao tempo. Matéria em
fazimento orgânico de um nascimento novo, aprendendo a ser humano. De novo.
Uma
daquelas coincidências que talvez só tenha ocorrido em razão do isolamento
imposto pelo novo coronavírus aconteceu neste sábado. Recebi do amigo e
jornalista Maranhão Viegas um texto sobre sonhos e pesadelos. Na hora, deu um
estalo e a memória fez-me lembrar de uma poesia, feita alguns anos atrás, sobre
o mesmo tema: sonhos e pesadelos.
Retidos em casa, isolamento compulsório, oscilamos
dia a dia entre sonhar e ter pesadelos. Perdemos o sono de madrugada. Só conseguimos
dormir mais tarde. Preocupados conosco, os parentes, amigos, vizinhos,
indagamos a todo momento onde vai parar a humanidade?
Quem sabe esses textos ajudem a relaxar um pouco,
refletir um tanto para que possamos sonhar muito e ter poucos pesadelos...
Sinais trocados
José Carlos Camapum Barroso
Paz em trânsito
Quando transito
Tranquilo pelos
Meus sonhos
Desengarrafados
De ansiedades
Paz no trânsito
Quando tranquila
Dorme a cidade
Na madrugada
De ruas enluaradas
E sinais vazios
Transito em paz
Até o amanhecer
Quando o sonho,
Então, se desfaz
Em pesadelos reais
Até adormecer...
É isso mesmo, amigo. Seguimos em quarentena e resistindo. Assim, quem sabe, nos redescobrimos, e venceremos mais esse desafio. O futuro será melhor, sem esse vírus. Pode ter certeza.
ResponderExcluir