segunda-feira, 20 de julho de 2020

Amigo é pra se guardar aqui e na mesa de bar


Amigo é coisa pra se guarda do lado esquerdo do peito... Assim falava a canção de Milton Nascimento, e deve continuar assim falando hoje e sempre. Nos dias atuais, em que enfrentamos uma pandemia, mais ainda. Estamos isolados, distantes de familiares e dos amigos. Daquelas pessoas que podem nos apoiar e emprestar um ombro reconfortante e uma palavra amiga e estimulante para enfrentarmos tantos desafios no dia a dia.


O cruel de tudo isso é que estamos distantes dos amigos de copo e de bar. Aqueles fiéis e autênticos companheiros, que são capazes até de tomar uma, ou até mesmo duas, em homenagem a um parceiro ausente, distante, ou mesmo para aqueles que os deixaram por um outro mundo, provavelmente melhor que este. O desprendimento dos amigos costuma ser tanto que chegam a oferecer “um gole pro santo”...


E nós brasileiros valorizamos tanto a amizade que o Dia do Amigo é comemorado por aqui duas vezes no ano. A primeira comemoração, mais popular e bem conhecida, acontece no dia 18 de abril. No Brasil, Uruguai, Argentina e Moçambique a comemoração ocorre no dia de hoje, 20 de julho, em função do já consagrado Dia Internacional do Amigo, criado pelo argentino Enrique Ernesto Frebbaro, por considerar a chegada do homem à lua um símbolo de união entre todos os seres humanos. Várias nações consideram o 30 de julho como O Dia Internacional da Amizade.


O cartunista Péricles Maranhão, da revista O Cruzeiro, que deixou de circular há muitos anos, criou o personagem Amigo da Onça e por consequência a expressão que se tornou popular, justamente por trazer no seu bojo uma crítica àquele sujeito que pensa mais em si do que nos amigos.


O personagem foi baseado em um garçom que sempre se aproximava de Péricles para saber o que o freguês estava fazendo. O cartunista explicou que ganhava a vida assim, fazendo aqueles desenhos de humor para a revista Cruzeiro. E o garçom não titubeou: “Puxa, eu queria ter um vidão desse”.

Na verdade, Péricles tirou a expressão de uma piada antiga e bastante popular, que não nos fará mal algum recordá-la nesta página:

- O que você faria se estivesse na selva e aparecesse uma onça na sua frente?
- Dava um tiro nela
- E se você não tivesse uma arma de fogo?
- Furava ela com minha peixeira
- E se você não tivesse uma peixeira?
- Pegava qualquer coisa, como um grosso pedaço de pau, para me defender
- E se não encontrasse um pedaço de pau?
- Subia numa árvore
- E se não tivesse nenhuma árvore por perto?
- Saía correndo
- E se suas pernas ficassem paralisadas de medo?
Nisso, o outro perdeu a paciência e explodiu:
- Peraí! Você é meu amigo ou amigo da onça?"


Amizade é um bem que não faz mal a ninguém e é bem mais feliz quem a tem. Digo isso porque jogo naquele time das pessoas que valorizam os amigos. Sem eles, a vida perde muito da sua razão de ser. As grandes tragédias da humanidade, além de outras razões, revelavam sempre por trás o dedo forte e temerário da inimizade. Os nazistas, por exemplo, tinham por princípio considerar o povo judeu seus inimigos. Deu no que deu.

O bom mesmo é ter sempre, ao nosso redor, verdadeiros amigos, e deixar os amigos da onça, os falsos amigos, apenas para o universo das piadas e das charges humorísticas.

Melhor repetir com Milton Nascimento que “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”...

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