quinta-feira, 23 de julho de 2020

Em meio à pandemia, quem nos salva são as artes


As artes continuam sendo um bálsamo para as dores nesse tempo tão difícil. Músicos, poetas, escritores, atores, humoristas, todos estão levando adiante seus trabalhos, não apenas pela arte da sobrevivência, mas também pela arte da empatia para com o drama vivido por pessoas, famílias, povos, enfim, a humanidade como um todo.

Um dia desses, assisti um vídeo da cantora Estela Ceregatti, publicado no Facebook, cantando, com aquela sua voz maravilhosa, uma melodia ainda embrionária, inspirada nesses tempos de pandemia e isolamento que todos estão vivendo e tentando sobreviver. Achei lindíssima, embora, como ela faz questão de frisar, ainda seja um projeto em seu nascedouro.

A delicadeza da música, inspirou em mim alguns versos relacionados a esse cenário de separação e afastamento em que se encontram as pessoas e suas famílias, e muitas vezes são unidas pela beleza da arte e a presteza da cultura.


Por coincidência, recebi dois poemas relacionados, de alguma forma, a esse tema. Um deles, do poeta, escritor e desembargado Itaney Campos. O outro, do irmão dele, Ítalo Campos, psicanalista, poeta e escritor. Os dois, como eu, goianos, uruaçuenses da gema.

Publico a seguir os três poemas, e abaixo o vídeo com o canto de Estela Ceregatti, mato-grossense da gema. Na sequência, Concerto de Aranjuez, composição de Joaquín Rodrigo, em uma Live belíssima da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro. 

Esperamos que contribua para estancar, de alguma forma, tristezas, dores, saudades, e tragam boas lembranças e esperanças para os que vivem esses dias tão conturbados da nossa história.


Retorno
Ítalo Campos

Sim um sol cobriu meu coração,
um sol mãe girando em vibração.
Um vento de savana,
uma brisa de cerrado,
uma energia bacana, vindo do mais além.

Uma clara resistência escura,
uma alegria de origem pura,
um pássaro encontrando o ninho,
o violeiro seu pinho.

De pardo estou ficando mais preto.
Aquecido pela luz da noite,
embalado pela luz do dia.
Reunido todo Anjo e Arcanjo,
na roda de capoeira,
canta vozes, atabaque e berimbau,
vamos navegar juntos
esta nau universal.
Mama África, óh! minha mãe...


Ventos Cinzentos
Itaney Campos

De súbito, na tarde de aparente
calma, irrompeu o vento ruidoso
que tornou o mundo silencioso
e lacrou o abraço de nossa gente.

Mesmo assim as estátuas deliravam
de febre, pássaros atordoados
caíam de um céu de chumbo, e voavam
por entre as cinzas de grandes tornados.

Aranhas teciam fios noturnos
inoculando as manhãs de tons soturnos
infiltrando na terra o seu veneno.

O medo transitava pelas praças
cerrando janelas e portais, em arruaça
perversas, rugindo qual fora o demo!




Aurora
José Carlos Camapum Barroso

O sol brotou em mim
Raios de felicidade
Que trouxeram enfim
Paixões ao anoitecer

A lua derramou em ti
Gotas de saudades
Que desataram assim
Laços apertados...

O sol e a lua enfim
Juntos na Aurora
Aqueceram em nós
Lembranças findas.

Nosso amor aqui
Fez reviver em mim
E despertou em ti
Sonhos do passado

Esse teto, esse lar
Hoje um só lugar
Que enfim abriga
A ilusão do amar




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