quinta-feira, 9 de julho de 2020

"Gracias a la vida!" e aos 66 aninhos de existência


Confesso que me senti um ano mais velho no dia de hoje.
Como se mais que 365 dias tivessem passados desde o último dia 9 de julho.
Um peso maior de responsabilidade para com os meus e comigo mesmo...
 Um olhar distante e quase infinito para aquele 9 de julho de 1954.
Dificuldade para vislumbrar o futuro, os dias que virão.
Meio que cansado, um tanto quanto frustrado e com um grau de cobrança 
exagerado para com os fazeres, os afazeres e os quereres para o bem.
Nuvens pesadas, cortadas por raios fulgurantes da amarga desventura, 
de um tempo tão sombrio como o que vivemos. Vento forte a desviar os ideais.
Relâmpagos e trovões. Frio intenso, muito frio...

Acordei sobressaltado. Tinha dormido com pouca coberta e agasalhado um pesadelo desconcertante sobre passar dos tempos, idade e razões da existência. Pesadelo pesado para a madrugada do aniversário de qualquer ser humano. Principalmente para quem atingiu a marca dos 6.6, com potência de muitos cavalos, velocidade acima da média permitida e queimando bastante combustível.

Acordei. Agasalhei-me junto ao cobertor de orelha que a Stela me proporciona na maior parte desses meus anos de existência.



Aí, pude refletir melhor e sem a influência dos “raios fulgurantes da amarga desventura”. O que dizer no dia do seu aniversário, além dos agradecimentos pelas felicitações de todos que se manifestaram de alguma forma?

Agradecer, de coração, aos amigos reais, manifestantes pelas vias virtuais das redes sociais, é o óbvio e o mínimo que podemos e devemos fazer.

Aniversário é aquilo que normalmente não se quer, mas como viver sem fazê-lo? Então melhor é vivê-lo intensamente e esquecer que representa apenas o passar dos tempos. Representa muito mais. Diriam os otimistas de plantão que essa data traduz sabedoria, acúmulo de experiência, conquistas e outros prazeres.


Nos tempos em que comemoravam meu aniversário, como diria Fernando Pessoa, "eu era feliz e ninguém estava morto". Tinha uma saúde de dar inveja e o passar dos anos era sempre uma conquista digna de ser registrada nas folhas de um diário. Se fizermos como o poeta Carlos Eduardo Drummond e formos ao dicionário, a definição de aniversário é burocrática, desprovida de emoções, pesada, como geralmente é pesado o “pai dos burros”.

Mas, leve e poética é a definição do próprio Carlos Eduardo Drummond ao vocábulo:


"Aniversário: espécie de relicário,
Muitíssimo bem guardado
Nas folhas do meu diário,
Dos versos que eu escrevi,
Com todo amor, e não li,
Durante o ano passado."

Eu até arrisquei dizer algumas palavras em versos:


Aniversário é perda de tempo...

Melhor seria passá-lo ausente,

Distante de tudo, de fatos e fotos,

Angustiante cantar dos parabéns,

Palmas agudas e alucinantes

Entre apagar de velas e dos tempos...

Mas, como dar-lhe essa forma contraída

Se o que representa é a própria vida!


Ou, como diria poeticamente Fernando Pessoa:


Para, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...”


Ou, então, Carlos Drummond de Andrade:


“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
 está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos
do sofrimento, perdemos também a felicidade.

12 comentários:

  1. Belo texto, de muita força poética, diga-se, Como não poderia deixar de ser uma reflexão que se apoia em Pessoa, Drummond e, ora viva, no Próprio aniversariante escritor/blogueiro, na sua leve crônica de aniversário! E vejam que modéstia: propala estar com toda a potência nas turbinas! Rsrs Queria ter esse otimismo, gente! 👏👏👏👏👍👍🎼🎼Parabens, Zé Carlos!

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    1. Obrigado mestre Itaney pelas palavras carinhosa e a participação no blog.

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  2. Parabéns Zé! Amigos como você não fazem anos, fazem história. Sou muito grato pela nossa amizade e pela nossa aliança por meio dos netos. Um ano de muitos desafios, mas de convívio intenso com a família que amamos. "Gracias a la vida que me ha dado tanto
    Me ha dado el sonido y el abecedario;
    Con el las palabras que pienso y declaro:
    Madre, amigo, hermano, y luz alumbrando
    La ruta del alma del que estoy amando."

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    1. Obrigado, amigo Carlos. Também sou grato pela sua amizade. Abraço

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  3. Como sempre um mestre. Palavras ditas não voltam, escritas, ficam guardadas para o sempre. Belas e verdadeiras. Parabéns, Zé. Feliz primavera!

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  4. Feliz aniversário meu amigo poeta. O aniversário é seu e o presente é nosso, pelos versos, pelo texto que apesar de tristes são cheios de poesia. Um grande abraço virtual, que em breve possamos brindar essa data.

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  5. Que beleza de reflexão para celebrar a vida, o aniversário. Parabéns, JC, beijos.

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  6. Oi José Carlos, sinto que aniversário é uma dádiva da vida. Festejemos o aniversario com carinho, agradecimento a Deus pelas oportunidades concedidas e pelo que há de nos conceder o decorrer da vida, até quando Ele achar oportuno que aqui fiquemos. Quem sabe para atitudes que Lhe agradem?!?!!!???!!!rsrsrsrs você está me alcançando...
    Musica linda Gracias a lá vida!

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