quarta-feira, 26 de julho de 2023

Bodas de Azeviche, Dia dos Avós e de N. Sra. Santana

Tenho dito sempre que o dia 26 de julho é uma data especial para a minha modesta e simples existência nesta passagem. Hoje é Dia dos Avós e de Nossa Senhora Santana, padroeira de Uruaçu. Foi em um 26 de julho, no ano de 1980, que decidimos, eu e a Stela, juntar os nossos trapinhos.

Estamos fazendo as Bodas de Azeviche, um material muito resistente, mas, para chegar a essa condição, ele passa por diversas fases. Serve para afastar pesadelos, atrai sorte, saúde e proteção. É uma gema orgânica, produzida por plantas e animais, que vai ser formando com o passar do tempo como as pérolas, os corais e o marfim. Assim também acontece com um casamento que dura todos esses anos.

Sobre o Dia dos Avós, esta data tem o charme a mais porque nos tornamos avós do Juliano e da Martina. Com meus avós maternos não pude ter o prazer da convivência. Minha avó Celina morreu quando minha mãe ainda tinha nove anos. Tenho algumas poucas lembranças do meu avô Edgar Barroso, que faleceu quando eu ainda era criança.

Com meus avós paternos, Ana de Alencar Camapum e Antônio Pereira Camapum, tive o prazer da convivência ao longo da infância, com os dois, e na adolescência apenas com a minha avó Naninha. Esse dois estão bem sedimentados, de forma carinhosa, na minha memória.

São lembranças que sempre resgato neste dia 26 de julho, data do nosso casamento, dos Avós e de Nossa Senhora Santana, padroeira de Uruaçu. Época também das barraquinhas, com seus leilões, correios elegantes e outras tradições que quase não vemos mais. Por ser também dia de Santana, publico abaixo o poema do amigo, poeta, desembargador e membro da Academia Goiana de Letras (AGL), Itaney Campos.

São lembranças que nos fazem reviver esses 43 anos de parceria, amizade, carinho e muito amor. Por tudo isso, acrescentei mais alguns versos ao poema que começou a ser elaborado quando fizemos 31 anos de casados. Nesse ritmo, vai acabar ficando maior do que os Lusíadas, de Camões. Ele está publicado na sequência, logo após os versos do mestre Itaney.

Beijos no coração a todos neste dia tão especial.


Ana e Maria (e o menino)
Itaney Campos
 
E como se ainda fora possível,
e o é, que tudo é medida da fé,
erige-se no largo a santidade
da mãe, em puro milagre,
no colo o Divino menino,
em luz, trazendo as marcas
fatídicas, de fruto pendente nos cravos,
ramo suspenso numa tarde de luto à cruz.
 
O consolo nos lamentos
se abre, nos fumos do incenso
a certeza se evola, a vertigem
sobrepaira tudo,
e uma sobrevida anunciada,
emerge do ventre da virgem.
 
A morte não prevalece.
Sobre o ventre da mãe
palpita o perfil do fruto,
amado sempre, inda que sofrido.
 
Eis aí, a mãe da mãe do filho,
duplicada promessa
do Menino, o miraculoso,
embora o destino predestinado, o doloroso
caminho, o materno
sofrimento, raiz
de nossa redenção.
As quedas, o lanho,
o espinho, as cicatrizes,
o deboche e o chicote,
o colo é o bálsamo de tudo.
A menina Maria se abriga
nos braços cálidos de Ana.
Anteveem ambas o sortilégio
de glória e calvário,
pressentem a bilha de vinho,
o pão repartido, o soluço
inesgotável e o mistério
do sacrifício.

Na morte, o renascimento;
nas chagas, o testemunho
vivo e as possibilidades anunciadas da libertação infinita.
Nos olhos da menina
piedosa e compassiva,
à sombra da prece materna,
abrem-se as humanas veredas. 


O passar do tempo
José Carlos Camapum Barroso
 
O amor, quando faz
Trinta e alguns anos,
Deixa a concha
De madrepérola,
Pois, ao sair do papel,
Em plena lua de mel,
Enrolou-se no algodão.
Em meio a buquê de flores.
Fez-se duro como madeira,
Entrelaçada de amores...
 
O sabor do açúcar trouxe
O perfume da papoula,
Que passou pelo barro
E foi virar cerâmica
(Sem quebrar a louça).
Ah... todos esses anos...
Quantos desenganos
A envergar o aço,
A desafiar o abraço,
A rasgar seda, cetim.
O linho trouxe a renda
E as bodas viraram marfim.
No resplandecer do cristal,
A turmalina cor de rosa
Desaguou na turquesa...
Ao amor e sua beleza,
Juntou-se a maioridade.
 
O que fazer agora, então?
A água-marinha já não
Banha a mesma porcelana...
Resiste a louça, coberta
Em palha, guardada
Em opala, que desperta
O brilho fino da prata...
 
Como passam os anos...
Novos, antigos desenganos
Trazem um cheiro de erva
Ao amor balzaquiano...
Tudo agora é pérola!
E a força do Nácar ajudou
A passar trinta e um anos.
 
Como não ficar sozinho...?
Entre anos e desenganos,
Vieram as Bodas de Pinho.
E nós, em nosso ninho,
A aguardar indecisos:
O que será meu Deus
Essa tal Bodas de Crizo?
Aos trinta e três anos...
Melhor seria “Bodas de Cristo”.
 
Os dias se passaram...
Agora podemos caminhar
Rumo às Oliveiras...
Símbolo da amizade,
Da paz e prosperidade.
Um ramo apenas bastará,
A nos encher de esperança.
Depois de tanta turbulência,
Teremos “terra à vista”.
Sinal de que a vida continuará
A nos oferecer conquistas!
 
Debaixo da Oliveira,
O tempo passa devagar,
Suas folhas são perenes,
Nos deixam mais serenos
A espera do amanhecer...
Árvore da prosperidade,
Bendita e bem-vinda
Até que o sol possa nascer.
Vamos caminhar pela praia,
Onde os corais de uma nova
Vida irão resplandecer.
 
Corais sedimentados,
Incrustados e fortalecidos
Pelos grãos de areia...
Depósito compartilhado
De alegrias, dores e amor...
Logo, logo, chegarão
As Bodas de Cedro,
Árvore de tronco largo,
A sustentar sonhos
E lembranças tão altos,
Distantes e altivos,
Que nem a vista alcança.
 
Madeira de lei
A sustentar nosso leito,
A fortalecer no peito
Mais um ano de caminhada.
Essa a nossa estrada,
Com sabores e dissabores
Superados pelo chá
Do Cedro-Rosa
E pelo óleo milagroso
Dessa madeira vermelha.
Do alto de seus galhos,
Podemos o futuro avistar:
Há uma pedra no meio
Do caminho... no meio
Do caminho, uma pedra há:
Nossa aventurina,
De tantas aventuras,
Com seus fluidos benignos,
Pronta para nos agasalhar.
Pedra esverdeada,
Que emociona e purifica.
Traduz a maturidade
De uma vida tão rica
De prazer e criatividade.
 
Aos 38 anos, então,
É tempo de comemorar
Com o vinho guardado
Em barril de carvalho.
Néctar dos deuses,
Balsamo de dores
A revigorar amores
Contidos nos corações.
 
E veio o mármore...
Rocha firme, calcário,
Sob pressão e calor,
Dá beleza ao casamento
E à vida, mais valor.
 
Novas bodas aos 40 anos,
Desta vez, a tão sonhada
E cobiçada esmeralda...
Pedra encravada
Entre a prata e o ouro,
No amor incondicional
Guardada há 40 anos.
Estímulo ao coração
Nos traz renascimento...
 
Pedra do amor eterno,
Da fidelidade e perseverança...
Lembranças que nos fazem crianças
Jovens e adultos para sempre,
Muito além da eternidade.
 
Nos 41 anos de casamento,
Juntaremos nossos trapos,
Embrulhados em papel de seda,
Até que a esmeralda,
Bem dilapidada e conservada,
Se transforme em ouro...
Conseguiremos alcançar
Outros tantos anos até os 50...
 
Bodas de Prata Dourada,
A suavidade da caminhada
Longa e perseverante,
São a riqueza da relação
Que num cuidado constante
Enche de amor o coração.
Logo chegará o Azeviche
Essa gema orgânica natural
Que nos garante o equilíbrio,
Firmeza e a fortaleza ao casal.
 
Azeviche, gema orgânica,
Sedimentada no tempo
Fortalecida na dinâmica
Do bom relacionamento.
São 43 anos de junção
De cacos e pedaços
De amores e carinhos
Guardados no coração.

2 comentários:

  1. Parabéns Zeca pelas bodas de Azeviche, pelo dia dos avos e por sempre se lembrar da terrinha aqui Uruaçu, os poemas são lindos e os que falam de amor me tocam o coração, não conhecia o que é Azeviche... Parabéns.

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    1. Obrigado, Rodrigo, sempre atento às publicações aqui do blog. Sua participação sempre enriquece os posts.

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