terça-feira, 15 de março de 2011

Resgate da poesia passa pelos novos talentos

Diz o ditado que filho de poeta, poetinha é! Em se tratando de Matheus Carvalho (foto), esse ditado é plenamente válido, inclusive com o diminutivo poetinha para lembrar Vinícius de Moraes. Matheus não é apenas filho do poeta Itaney Francisco Campos, que inclusive deu-me a honra de abrir esse Blog com Áspera Flor. Ele é filho também da poesia que foi Margot Machado Gonçalves, a nossa querida “Margozinha”, que nos deixou tão prematuramente, mas nunca sai dos nossos pensamentos, pelos bons frutos que deixou nesta vida.
Matheus não foi filósofo porque não quis, não seguiu advogado porque buscou novos caminhos. Deixou de ser procurador federal porque preferiu os rumos de Vinícius de Moraes também na diplomacia. Curte as amizades, um bom papo, e eventualmente, quando não está viajando pelo mundo, nos dá o prazer de sua presença lá em casa.
A arte de escrever e falar bem é um dom que herdou dos pais e compartilha com suas duas irmãs – Raquel e Ana Laura, duas charmosas “sobrinhas”, lindinhas demais, como costuma dizer a Stela.
A poesia de Matheus fala por si só. Seus versos são mais do que “estas coisas”, ou “qualquer coisa”, ou tantas outras coisas. Têm ritmo e musicalidade. Fluem livremente pelo seu pensamento que viaja solto. Depois de resgatarmos a boa música brasileira, por meio do samba, vamos trazer de volta o prazer pela poesia, contando, em ambas as missões, com a ajuda dos novos talentos. Eu assino embaixo. E vocês? Confiram.


Estas Coisas
(Matheus Carvalho)

Estas coisas me definem.
Olhando longe pela janela,
Penso sempre em minha sina
Quando se forem todas elas.

Haverá sentido em falar
De mim como sou (estarei morto?),
Em vez de outro, ignaro
Do ser anterior, agora oco?

Mortas coisas e pessoas,
Morto eu? Falso sobrevivente,
Andando a esmo inutilmente,
Corpo sem mente?

Ser sem nexo,
Renascido das cinzas
Não para ser Fênix
Mas novamente cinzas?

Do que chamar este estranho
Bando de cacos, ator sem roteiro,
Amnésia ambulante,
Sem eira, sem beira e sem paradeiro?

Chamar pelo mesmo nome?
Palavras deslizam entre entes
Díspares ao longo do tempo,
Sem algo que as dome.

Este alter ego nascido
No meio da vida, com peito
E cabeça vazios, exige
Porém algum respeito.

Que ninguém ouse
Desacatar este novo senhor,
Esta outra coisa
Que logo sou

5 comentários:

  1. Parabéns Matheus! Seu sumido, ressurgiu em grande estilo.

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  2. Obrigado demais, Zé Carlos. Estou muito lisonjeado com o texto, é mais do que eu mereço. E você também está sumida, Isadora! Abração pra vocês dois.

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  3. Sou suspeito pra falar, ainda mais que o Zé Carlos, em sua generosidade, vincula a criatividade e inteligência de Matheus aos genes. Não tô muito certo disso não, a não ser que sejam genes do lado materno. O texto é realmente de boa poesia. E o texto de Zé Carlos é sobretudo uma homenagem justa a Margot, que os tinha no coração. Valeu, Zeca!

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  4. Matheus,que belo poema,e porque o achei encantandor? porque a simplicidade da escolha das palavras em nada diminue a profundidade que a mensagem nos toca no fundo da alma.Em sua prosa há também esse estilo.Tocou em mim um : Ôpa Matheus ! essa fala é minha, mexeu nos meus caderninhos??? Brincadeira... apenas me indenfiquei muiiiito.Parabéns,pelo grande estilo.Fernando Pessoa sorriu lá em cima.Acredite nisso. Juracema

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  5. Querido Zé Carlos,
    os seguidores de primeira deste blog, Itaney e Raquel, fizeram-me ver o que perdia ao não frequentá-lo diariamente. Belos textos, posts, poesia... Aliás, bela oportunidade de conhecer a poesia de nosso querido Matheus que, faltou você lembrar, também herdou de nosso "poetinha" o culto discreto e charmoso pela estrela que traduz na abóboda celeste o devir-poético do mundo.
    Parabéns pelo blog!
    Grande abraço, Marlon

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