Tinha uma personalidade que oscilava entre alegrias e tristezas. Não gostava de falar da infância, provavelmente por ter sido abandonado pelos pais e criado por um casal em Santo Amaro da Purificação, Bahia. Trabalhou em farmácia, hospital e circo. Foi protético, desenhista e compositor. Nestas três profissões, mostrou talento e habilidade. Como protético, diziam, suas dentaduras faltavam falar. Seus desenhos foram divulgados com destaque em algumas revistas cariocas, o que lhe rendeu algum dinheiro.
Mas, o sucesso veio quando começou a compor sambas, marchas, músicas natalinas e juninas. Suas primeiras canções foram gravadas por Carmen Miranda, de quem era fã incondicional e por quem cultivava certa paixão. Com a ida de sua intérprete predileta para os Estados Unidos, em 1939, a carreira de Assis começou a declinar. Foi, aos poucos, deixando a profissão de protético. Gastava muito dinheiro com amigos. Endividou-se.
Várias de suas canções têm o feitio alegre, carnavalesco. Em Alegria, por exemplo, diz: “Minha gente era triste amargurada/ inventou a batucada pra deixar de padecer/ salve o prazer, salve o prazer”. Mas, em Boas Festas, expressa um realismo pouco condizente com o espírito natalino: “Já faz tempo que eu pedi/ mas o meu Papai Noel não vem/ com certeza já morreu/ ou então, felicidade/ é brinquedo que não tem”.
Assis Valente foi também irônico, engraçado, não apenas no circo mambembe em que trabalhou como apresentador e palhaço, mas também em canções que brincavam com o cotidiano das pessoas, como em Fez Bobagem e em O Mundo Não Se Acabou.
Com as dívidas, seus momentos de tristeza começaram a ser mais freqüentes e mais intensos. Tentou suicídio várias vezes. Em uma delas, pulou do morro do Corcovado e foi salvo por ter ficado preso aos galhos de uma árvore.
Morreu no banco de uma praça pública, depois de tomar formicidade com guaraná, no dia 10 de março de 1958, quando faltavam nove dias para completar 50 anos.
A imagem a ser preservada é a do Assis Valente brincalhão, irônico, carnavalesco e extremamente talentoso. É esse o Assis que transparece na canção O Mundo Não Se Acabou, abaixo interpretada pela bela voz de Rita Ribeiro. Vejam, ouçam e leiam a letra.
O Mundo Não Se Acabou
Assis Valente
Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
Chamei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora eu soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora eu soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou
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