O Cerrado é antes de
tudo um forte, que resiste ao fogo das queimadas, à mão desalmada de uma civilização em busca desenfreada pelo progresso. O cerrado tem sua cultura
própria, um jeito especial de viver e de sobreviver, sem perder a imponência,
jamais, em sua missão de resistir às intempéries.
Os desenhos retorcidos,
distorcidos e encurvados das plantas do Cerrado enganam os que as julgam
frágeis. Essas árvores são capazes de sair do cinza-enegrecido causado pelas
queimadas de agosto/setembro para um verde exuberante, com as primeiras chuvas
do caju e do pequi nativos no Centro-Oeste. Antes mesmo dessas chuvas, neste
exato momento, já se pode ver algumas plantas mostrando um verde-novo em meio
ao amarelecido da grama e do mato. Mesmo agora, já surgem lá no meio do
cerrado o amarelo retumbante, exuberante, radiante, cheio de vida da flor do ipê.
O Cerrado não é apenas
essa beleza que nos enche de orgulho e satisfação. É também sinônimo de
sustentabilidade para uma sociedade que mal consegue se manter em suas
próprias raízes. O futuro está aqui, em meio a essa biodiversidade que salta aos
olhos, capaz de produzir alimentos, medicamentos, energia e abrir portas para
um turismo ímpar, sem similares em qualquer região do mundo.
O quadrilátero do
Distrito Federal, desenhado e traçado pela Missão Cruls – sobre a qual
já escrevi aqui no blog –, também está assentado em uma região do Cerrado de rara
beleza e de riquezas ainda bastante desconhecidas. Nós goianos, temos orgulho
de ter cedido a Brasília uma das mais belas e ricas áreas do Centro-Oeste. As
principais fontes de água do Brasil nascem neste Planalto Central, que mostra força
e pujança desde as entranhas da terra.
Estão em sintonia com
essa realidade os órgãos e instituições que fazem eventos, encontros,
seminários voltados para conscientizar a população do valor que traz em si
mesma essa região do Cerrado. No Memorial JK está acontecendo, desde ontem e
vai até domingo (dia 16), o VII Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, com exposições
de artes e culturas dessa região tão rica.
Ontem foi o Dia do
Cerrado. Como fui acometido de mais um rompimento de vaso sanguíneo na região
do olho – semelhante ao que aconteceu no ano passado e me fez escrever uma
crônica aqui no blog –, não pude, no dia certo, render minhas homenagens a essa
região que amo de paixão e que me viu nascer e crescer, em meio aos pés de
pequis, de buritis, de jatobás e das flores do cerrado e outras tantas maravilhas.
É simplesmente genial a música Flor do Cerrado,
do saudoso Waldir Azevedo, que morou por essas bandas e sabia o valor de
tamanha beleza. Admiro também os versos da música, com o mesmo título
de Flor do Cerrado, composta por
Caetano Veloso, na voz de Gal Costa e aqui intercalada por Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Dizem
os versos: “Mas, da próxima vez que eu for a Brasília/Eu trago uma flor do
Cerrado pra você”. É um belo presente para se oferecer à pessoa amada.
Admiro também as pessoas
que interagem com a natureza e curtem essa convivência de forma respeitosa e
saudável. Minha irmã Juracema tem esse dom e sempre está acampando aqui no DF ou
lá pelas bandas de Goiás. Na Caesb, onde trabalho, o colega José Marcos Feitosa também
merece ser homenageado. Além de ter participado de um trabalho de pesquisa, que rendeu um belo livro sobre a Área de Proteção Ambiental (APA)
do Cafuringa, ele sempre reúne a família e vai acampar no Cerrado brasiliense,
em meio a rios, cachoeiras, plantas e, claro, a incomparável Flor do Cerrado.
Maravilha!Belos comentários sobre o cerrado.Mesmo tendo o encontro e várias atitudes para salvar o cerrado, inclusive PL do Pedro Wilson já aprovado p/transformar o Cerrado e a Caatinga em Patrimônio Nacional,o que irá acontecer por acordo de lideranças de todos os partidos,enquanto não se transforma em Lei, estão detonando até as Canelas de Ema, de Brasília a Uruaçu a devastação é tão grande que parece emendar com Niquelândia o desmatamento do cerrado, seria preciso denunciar, fazer matéria em Jornais,85% do cerrado já desapareceu.A luta é pelos 15%, é desesperador! Eu viajo nessas estradas só lamentando...sinto vontade de chorar...e eu e muitas pessoas sabem a beleza e a importância do cerrado,quantos remédios naturais. Só em Goiás 2.000 famílias dependem do cerrado para sobreviver.E as flores, e o pequi, e o doce de Buriti ???Parabéns meu irmão por não esquecer do cerrado.Mas a situação está gravíssima, vamos lutar pela urgência urgentíssima pela Lei, que ela seja sancionada.Dilma o Cerrado e a Caatinga esperam por Vossa Excelência ! Valeu,belo texto, de extrema importância.
ResponderExcluirPois é, é o bioma do nosso rincão, onde se fincam as nossas raízes e que precisa de proteção, eis que excessivamente devastado, desprovido da fauna exuberante, incinerado a cada seca, derrotado a cada dia pelas infindas extensões das lavouras de soja....Que Deus e a Agroindústria tenham piedade de nós, meu santo José!
ResponderExcluirItaney, hoje já existem muitas alternativas para harmonizar a convivência entre a produção de alimentos e a preservação ambiental. A formação de uma consciência ampla sobre esses caminhos é fundamental para o futuro. Grande abraço.
ExcluirZé Carlos, é ótimo que você tenha tido a ideia de dizer algo sobre nosso cerrado de tantas flores lindas e exóticas. As queimadas e desmatamento estão acabando com essas belezas, as plantas medicinais e também a fauna. Não se vê + os veadinhos, calangos, camaleões e tantos outros que habitavam em nossos campos. Caju da serra, mangaba, murici, etc... É uma pena que nós humanos, amando tanto a natureza a destruimos em favor de um progresso que talvez seja efêmero. Ontem, em nossa terrinha, fomos tentar pescar umas traíras (tinha muita) lá na represa e nada, mas dentro
ResponderExcluirda mata, a gente atravessa uma mata bem legal, vimos muitos quatis, siriemas,araras e ouvimos cantos de´pássaros que não conseguimos identificar. Apesar o calor, foi muito bom.Abraços Selma
Selma, gostei muito das suas observações. Realmente, o Cerrado é muito rico, bonito e também muito resistente. Mas a sua capacidade de resistir à ação truculenta da "civilização" está se esgotando. O Planalto Central é o nascedouro de muitos rios brasileiros, no entanto, eles estão sob ameaça do crescimento urbano desenfreado, principalmente aqui no Distrito Federal.
ResponderExcluirUm grande abraço e obrigado pela participação.