Os brinquedos de criança não são apenas meros passatempos. Fazem parte também da nossa cultura, tanto que ficam arraigados nas nossas memórias. São reminiscências que nos lembram de épocas, fatos passageiros e mesmo situações marcantes que estão associadas às nossas histórias. E isso não apenas no Brasil, nem tão pouco somente no interior, mas também nos grandes centros urbanos, cercados pela modernização, e nos países que alcançaram alto grau de desenvolvimento tecnológico.
Minha memória dos
brinquedos está fortemente associada a pessoas e às estações do tempo. Jogar
bola era prazeroso sob o sol quente daquele interior goiano ou mesmo debaixo de
um toró daqueles que mal se conseguia enxergar a bola. Mas rodar pião, que era
um brinquedo maravilhoso, está associado ao tempo seco e quente. Já o
triângulo, que tinha esse nome porque as casinhas eram desenhadas com essa
forma geométrica, só pode ser praticado no período das chuvas.
Meus brinquedos também
estão associados de forma carinhosa a Antônio Seabra – um cidadão que
frequentava a nossa casa, executava pequenos serviços e de certa forma fazia
parte da família. Ele construía bilboquês, que a gente chamava de biloquê, e outros brinquedos. Arrasou quando construiu uma mesinha de sinuca, em torno da qual passávamos
horas e mais horas nos divertindo.
Buscar caju nas serras
e pequi no mato era uma atividade plenamente associada à determinada época do
ano. Chegávamos a chamar as primeiras chuvas de “chuva do caju”. Tomar banho
nos córregos e nos rios só era possível e permitido em determinadas épocas do
ano.
De noite, as
brincadeiras enchiam as ruas e geralmente estavam associadas ao folclore brasileiro e
português, com cantigas de roda e outras danças. Boa hora pra se gastar
bastante energia com o Pique de Lata, Cadeirinha Salve e o Pique Esconde. Descer calçada abaixo em carrinho de rolimã era adrenalina pura. Descer a avenida Tocantins de bicicleta, serpenteando os postes de energia elétrica, dava um frio bom na barriga.
Tinham alguns presentes que eram aguardados ansiosamente, nas festas de aniversário e no Natal: chuteiras (vejam a cara do garotão na foto acima), bola de cobertão, revólver de espoleta e depois bicicleta. À medida
que íamos crescendo, no entanto, as brincadeiras começavam a perder a pureza e a inocência,
que ficavam depositadas lá na arte de brincar de cozinhadinho com as meninas...
Comecei a lembrar de
tudo isso depois que vi um belo vídeo do grupo português Deolinda, sobre o qual
já escrevi no blog (para ler ou reler clique aqui). Lembrei
também da canção de João Bosco e de que nossos brinquedos não tinham correlações com o papel machê. Nem tão pouco tínhamos despertado nossas consciências para questões ecológicas – até porque as agressões ao meio físico eram realmente infantis e
facilmente absorvidas pelo meio ambiente.
Assim se passaram
alguns anos. Mas é bom olhar pelo retrovisor e perceber que as nossas
brincadeiras infantis estavam bem associadas ao universo cultural. Não só no
Brasil. Também lá em Portugal, no velho e no novo mundo.
Um contra o outro
Deolinda
Anda, desliga o cabo,
que liga a vida, a esse jogo,
joga comigo, um jogo novo,
com duas vidas, um contra o outro.
que liga a vida, a esse jogo,
joga comigo, um jogo novo,
com duas vidas, um contra o outro.
Já não basta,
esta luta contra o tempo,
este tempo que perdemos,
a tentar vencer alguém.
esta luta contra o tempo,
este tempo que perdemos,
a tentar vencer alguém.
Ao fim ao cabo,
o que é dado como um ganho,
vai-se a ver desperdiçamos,
sem nada dar a ninguém.
o que é dado como um ganho,
vai-se a ver desperdiçamos,
sem nada dar a ninguém.
Anda, faz uma pausa,
encosta o carro,
sai da corrida,
larga essa guerra,
que a tua meta,
está deste lado,
da tua vida.
encosta o carro,
sai da corrida,
larga essa guerra,
que a tua meta,
está deste lado,
da tua vida.
Muda de nível,
sai do estado invisível,
põe o modo compatível,
com a minha condição,
que a tua vida,
é real e repetida,
dá-te mais que o impossível,
se me deres a tua mão.
sai do estado invisível,
põe o modo compatível,
com a minha condição,
que a tua vida,
é real e repetida,
dá-te mais que o impossível,
se me deres a tua mão.
Sai de casa e vem
comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.
Sai de casa e vem
comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.
Anda, mostra o que
vales,
tu nesse jogo,
vales tão pouco,
troca de vício,
por outro novo,
que o desafio,
é corpo a corpo.
tu nesse jogo,
vales tão pouco,
troca de vício,
por outro novo,
que o desafio,
é corpo a corpo.
Escolhe a arma,
a estratégia que não falhe,
o lado forte da batalha,
põe no máximo o poder.
a estratégia que não falhe,
o lado forte da batalha,
põe no máximo o poder.
Dou-te a vantagem, tu
com tudo, eu sem nada,
que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.
que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.
Sai de casa e vem
comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.
Em Morangos Silvestres (Bergman)nos mostra que na fase madura da vida, percebemos o quanto a infância lapidou nossos sentimentos.As brincadeiras,a verdade dos adultos .Ao recordar melhoramos o significado passado.
ResponderExcluirBoa matéria, brinquedos que permanecem e trazem saudades, olha o Gilson Pereira no biloquê na porta da Igreja, ganhava de todo mundo !