sábado, 13 de outubro de 2012

Brincadeiras de antigamente, de ontem, de hoje e de sempre


Os brinquedos de criança não são apenas meros passatempos. Fazem parte também da nossa cultura, tanto que ficam arraigados nas nossas memórias. São reminiscências que nos lembram de épocas, fatos passageiros e mesmo situações marcantes que estão associadas às nossas histórias. E isso não apenas no Brasil, nem tão pouco somente no interior, mas também nos grandes centros urbanos, cercados pela modernização, e nos países que alcançaram alto grau de desenvolvimento tecnológico.
Minha memória dos brinquedos está fortemente associada a pessoas e às estações do tempo. Jogar bola era prazeroso sob o sol quente daquele interior goiano ou mesmo debaixo de um toró daqueles que mal se conseguia enxergar a bola. Mas rodar pião, que era um brinquedo maravilhoso, está associado ao tempo seco e quente. Já o triângulo, que tinha esse nome porque as casinhas eram desenhadas com essa forma geométrica, só pode ser praticado no período das chuvas.
Meus brinquedos também estão associados de forma carinhosa a Antônio Seabra – um cidadão que frequentava a nossa casa, executava pequenos serviços e de certa forma fazia parte da família. Ele construía bilboquês, que a gente chamava de biloquê, e outros brinquedos. Arrasou quando construiu uma mesinha de sinuca, em torno da qual passávamos horas e mais horas nos divertindo.
Buscar caju nas serras e pequi no mato era uma atividade plenamente associada à determinada época do ano. Chegávamos a chamar as primeiras chuvas de “chuva do caju”. Tomar banho nos córregos e nos rios só era possível e permitido em determinadas épocas do ano.
De noite, as brincadeiras enchiam as ruas e geralmente estavam associadas ao folclore brasileiro e português, com cantigas de roda e outras danças. Boa hora pra se gastar bastante energia com o Pique de Lata, Cadeirinha Salve e o Pique Esconde. Descer calçada abaixo em carrinho de rolimã era adrenalina pura. Descer a avenida Tocantins de bicicleta, serpenteando os postes de energia elétrica, dava um frio bom na barriga.
Tinham alguns presentes que eram aguardados ansiosamente, nas festas de aniversário e no Natal: chuteiras (vejam a cara do garotão na foto acima), bola de cobertão, revólver de espoleta e depois bicicleta. À medida que íamos crescendo, no entanto, as brincadeiras começavam a perder a pureza e a inocência, que ficavam depositadas lá na arte de brincar de cozinhadinho com as meninas...
Comecei a lembrar de tudo isso depois que vi um belo vídeo do grupo português Deolinda, sobre o qual já escrevi no  blog (para ler ou reler clique aqui). Lembrei também da canção de João Bosco e de que nossos brinquedos não tinham correlações com o papel machê. Nem tão pouco tínhamos despertado nossas consciências para questões ecológicas – até porque as agressões ao meio físico eram realmente infantis e facilmente absorvidas pelo meio ambiente.
Assim se passaram alguns anos. Mas é bom olhar pelo retrovisor e perceber que as nossas brincadeiras infantis estavam bem associadas ao universo cultural. Não só no Brasil. Também lá em Portugal, no velho e no novo mundo.



Um contra o outro

Deolinda

Anda, desliga o cabo,
que liga a vida, a esse jogo,
joga comigo, um jogo novo,
com duas vidas, um contra o outro.
Já não basta,
esta luta contra o tempo,
este tempo que perdemos,
a tentar vencer alguém.
Ao fim ao cabo,
o que é dado como um ganho,
vai-se a ver desperdiçamos,
sem nada dar a ninguém.
Anda, faz uma pausa,
encosta o carro,
sai da corrida,
larga essa guerra,
que a tua meta,
está deste lado,
da tua vida.
Muda de nível,
sai do estado invisível,
põe o modo compatível,
com a minha condição,
que a tua vida,
é real e repetida,
dá-te mais que o impossível,
se me deres a tua mão.
Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.
Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.
Anda, mostra o que vales,
tu nesse jogo,
vales tão pouco,
troca de vício,
por outro novo,
que o desafio,
é corpo a corpo.
Escolhe a arma,
a estratégia que não falhe,
o lado forte da batalha,
põe no máximo o poder.
Dou-te a vantagem, tu com tudo, eu sem nada,
que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.
Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que
mais perde se não vens.



Um comentário:

  1. Em Morangos Silvestres (Bergman)nos mostra que na fase madura da vida, percebemos o quanto a infância lapidou nossos sentimentos.As brincadeiras,a verdade dos adultos .Ao recordar melhoramos o significado passado.
    Boa matéria, brinquedos que permanecem e trazem saudades, olha o Gilson Pereira no biloquê na porta da Igreja, ganhava de todo mundo !

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