Está nas ruas, praças, meios de
comunicação, discurso de políticos, pregação de religiosos, a discussão sobre
redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Infelizmente, mais uma vez, boa
parte desse debate se dá assentado no emocionalismo e na revolta contra a onda
crescente de violência, principalmente nos grandes centros urbanos. Os
argumentos, pelo menos a maioria deles, são passionais e ancoram na dor de quem
perdeu um ente querido. Este não é o melhor caminho para se entender problema
tão complexo.
A revista Veja desta semana chega a
apelar para as crianças órfãs de pai ou mãe assassinado pela ação violenta de
menores infratores. Traz fotos desses menores segurando velas e assevera que
eles são vítimas da impunidade. Pode até ser que sim. A impunidade
de um modo geral, em sentido amplo, tem grande parcela de responsabilidade por
esse quadro assustador.
Mas, não se pode resumir a
complexidade dessa situação apenas a esse aspecto. Assim, do mesmo modo, não se
pode estigmatizar que todo o cidadão que defende mudanças na nossa
legislação o faz exclusivamente com base em argumentos emocionais.
Não é razoável achar que a redução da
maioridade de 18 para 16 anos será a solução para o problema. Também não é
razoável que não se faça nada pra mudar uma realidade que por si só exige atitude.
Por exemplo, é incompreensível o fato de um jovem
de 17 anos, 11 meses e 28 dias de idade não poder ser julgado como adulto,
mesmo que tenha cometido um crime covarde de tirar a vida do cidadão, também jovem,
Victor Hugo Deppman, de 19 anos de idade, que entregou o celular exigido e não esboçou
qualquer tipo de reação ao assalto. Quer dizer, se o crime tivesse ocorrido uma
semana depois o jovem poderia ser
julgado como adulto?
Esse limite estabelecido pela lei
precisa receber algum tipo de flexibilização. Um juiz, diante de todas as
circunstâncias exaradas do caso citado, não poderia estabelecer que o referido
menor – cujo nome não pode nem ser divulgado – deveria ser julgado como adulto?
Élio Gaspari (foto ao lado), na Folha de S. Paulo do último domingo, sugere algumas mudanças
baseadas nas leis conhecidas nos Estados Unidos como “Três chances e você está
fora” (“Three strikes and you are out”). Ele defende a criação de um mecanismo
de segunda chance no Brasil para “romper as amarras em que está presa a
sociedade na questão da maioridade penal”.
Entre os jovens que queimaram o índio
Galdino – por engano, claro, pois pensavam que se tratava de um mendigo –
estava um menor de 17 anos, que cumpriu pena em um centro de reabilitação por três
meses. Contardo Calligaris, também na Folha de S. Paulo, defendeu, em artigo
publicado no mês passado, que esse jovem deveria ter sido julgado como adulto.
O Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) é hoje o maior responsável pelas amarras que impedem a sociedade de
buscar e encontrar opções intermediárias, alternativas no momento de avaliar
crimes cometidos por jovens como os dois casos citados acima. Esse contexto
abre espaço para que políticos demagógicos, que nunca tomaram as providências
que deveriam ter tomado no quesito segurança pública, façam discurso pela
simples e geral redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Depois, passarão
a reivindicar a diminuição para 14 anos, posteriormente, 12 anos...
Pesquisa feita pelo Datafolha mostrou
que 93% dos paulistanos defendem a redução da maioridade penal para 16 anos. É
verdade que aí existe muito do emocionalismo diante dos últimos casos de
violência, inclusive o da jovem dentista que foi queimada por assaltantes. Mas,
é verdade, também, que essa percentagem nunca ficou abaixo de 80%. Contardo
Calligaris (foto acima) lembra que a indústria armamentista, nos Estados Unidos, usa
exatamente o argumento do emocionalismo para frear campanhas a favor de um
maior controle do porte de armas. Segundo os fabricantes, para que as leis
sejam mudadas é preciso esperar que “as emoções esfriem”. E aí, elas não mudam
nunca porque o tema cai no esquecimento, até que sejam retomadas quando outro
jovem provocar novo massacre em um cinema, escola ou praça pública.
A polêmica é complexa, mas fugir do
debate é inaceitável. Enquanto refletimos sobre o assunto, ouvir a música
abaixo, com imagens do filme “Os Incompreendidos”, de François Truffaut, pode ser
uma boa pedida. Lembrando que Bambino é de Ernesto Nazareth, com letra
maravilhosa de José Miguel Wisnik.
Se as cadeias já não comportam os criminosos adultos, cuja reincidência está em torno de 70%, não faz sentido alterar as leis para encarcerar também os jovens infratores, sem que se promovam mudanças no sistema penitenciário...Ademais disso, o encarceramento vem depois do fato acontecido. Exigem-se, mais do que punição, medidas preventivas, terapêuticas, de acompanhamento psicológico e apoio social aos meninos de rua, às gangues juvenis, com estruturação dos centros de internação que, na verdade, são praticamente presídios de jovens..A crônica colocou a questão com muita propriedade e racionalismo. Nesse tema, o emocionalismo é mau conselheiro. A música, como sempre, é de primeira, para jovens e adultos, de todas as idades.....
ResponderExcluirFala-se da Redução da maioridade como se fosse a solução para a violência.Mas é interessante como as mesmas pessoas que defendem essa tese também são contra o controle da posse de armas pelo cidadão comum. Alegam que ficariam indefesos diante de bandidos talvez sem saber que são essas mesmas armas que vão parar nas mãos de crianças e adolescentes, que, sem nenhuma perspectiva na vida acbam sendo aliciadas pela bandidagem. Assim , vamos reduzindo a idade penal, para 16, depois para 14, depois para 12...assim vai...
ResponderExcluirsaudações, Melissa
Melissa, em toda classe social há pessoas de má índole, que sentem prazer em fazer o mal, não importa se sejam ricos ou pobres. Necessário se faz constituir penas de acordo com a gravidade do ato. Não simplesmente prender e jogar numa cela. Isso não adianta. Vencendo o prazo, voltam a praticar atos absurdos e inconcebíveis. Não tenho a solução mas gostaria que as autoridades no assunto debatessem para chegar a uma solução definitiva e útil. Esses meliantes devem ser punidos sim!! Devem sentir o sofrimento que suas vítimas sentiram para que aprendam a lição e não voltem a praticar, já que são menores e "não tem capacidade de avaliar por si mesmos", as ações em desfavor de outrem. Se houvessem punições, outros pensariam antes de praticar maldades. Com a facilidade das comunicações/informações, eu acho que pessoas a partir de 15 anos já tem condições de discernir o certo do errado. SElma
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