Seu passamento aconteceu justamente no
dia em que o Ramiro, nosso filho mais velho, faria a apresentação de sua
dissertação de mestrado na UnB, em Direito Constitucional. Foi um dia mesclado
de alegria e tristeza para todos nós. Mas, como tudo nessa vida, esse episódio,
da forma como aconteceu e as circunstâncias que o cercam, serve também para
algumas reflexões.
Já tinha passado de meia-noite, quando
o Ramiro e o Jordano (o mais novo) foram avisados pela vizinha de que um gato
caíra na piscina e estava muito mal. Surgiu a dúvida de que podia ser o Fred.
Meus dois filhos foram até a beira da piscina e concluíram que não era o nosso
gato. Enrolaram o animal não identificado numa toalha, e se propuseram a levá-lo para o
veterinário como tentativa de ainda salvar sua vida. Chegando à clínica, depois
de alguns atendimentos, a cor do gato melhorou e também reapareceu o pelo que
estava encolhido pela umidade. Aí, sim, levaram um susto muito grande: era o Fred.
O gatinho ainda ficou lá por umas seis
horas, mais ou menos, tomando soro, mas não resistiu. Ou seja, os meninos
tentaram salvar um gato que não conheciam, mas acabaram acompanhando o triste
fim de um animalzinho que adoravam. Prefiro pensar como o poeta e jornalista Nelson Ascher, que escreveu esse belo texto abaixo:
Pequena Elegia
Nelson Ascher
Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.
Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.
Gatos não morrem: sua fictícia morte
não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.
Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.
Gatos não morrem: mais preciso
― se somem ― é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso
e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.
Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.
Gatos não morrem: sua fictícia morte
não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.
Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.
Gatos não morrem: mais preciso
― se somem ― é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso
e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.
Embora tenhamos perdido o Fred,
podemos concluir dizendo que nem tudo está perdido na humanidade. O nosso lado
racional às vezes nos torna frio e calculistas. Mas, o emocional, quando fala
mais alto, é bem mais interessante.
Bom fim de domingo para todos e que
venha uma segunda-feira bruta, mas de alma lavada.
E vc ainda conseguiu escrever um texto desses, meu Deus! Eu acho que me prostraria..nenhum texto teria o condão de me tirar do desalento...sofro pelo Fred e pelos meninos...e o pior, digo, melhor, é que o seu texto ainda é legal..como é que a emoçào não te descontrolou e impregnou o texto? Cara, vc mais do que jornalista, tá virando escritor...mas coitado do Fred!
ResponderExcluirCara, depois disso tudo, vc ainda conseguiu salvar o texto! Vc já não é apenas um jornalista, tá virando escritor, aquele que salva o escrito ainda que a vaca tussa, ainda que o gato morra, ainda que o fato escorra...Lindo e triste esse acontecimento.. fora eu, nada me tiraria o desalento..nem escrito eu teria...valeu, amigo!
ResponderExcluirÉ isso aí mestre Itaney! Temos que expressar nossos sentimentos. É até uma forma de suavizar o peso desses eventos nada agradáveis. Abraço.
ExcluirNão estava sabendo do Fred... Que história mais inacreditável... Que descanse em paz.
ResponderExcluirDoce lembrança do nosso gatinho Fred. Suas cinzas estão lá no nosso jardim, adubando os pés de pequi. Ele continuará fazendo parte dos nossos sonhos, e sua imagem, sempre tão delicada, ficará nas nossas lembranças.
ResponderExcluirDelicado, esse era o Fred, muito delicado, lindo, mas sua postura era delicada, redimida . Era muito bom olhar para o Fred. Também estou desolada.
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