quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Vovô Toinho, os ensinamentos que ficam e os que passam...

 
Meu avô Toinho metia a mão no bolso pra tirar dinheiro como quem procura batata no fundo de um saco de estopa, daqueles que não têm fim. Fazia-o lentamente, sem pressa alguma, de forma cerimoniosa e bastante calculada. Até o dinheiro sair cá pra fora dava vontade de desistir do agrado. Era assim com os netos, imagine-se como procedia para com os cobradores ou fregueses que aguardavam o troco no modesto Armazém Camapum, encravado no coração da pequena, porém descente, cidade de Uruaçu, no grande estado de Goiás, de um país imenso chamado Brasil.
Seu Toinho tinha hábitos interessantes. Conferia tudo meticulosamente, em seus mínimos detalhes, principalmente o troco que dava e o pagamento que recebia. Era quase impossível passá-lo pra trás nos negócios. Comprava produtos da região e os revendia aos comerciantes de Anápolis. Cheguei a vê-lo enfiar a mão no fundo de um saco de coco babaçu, trazido pelo pessoal da roça, e de lá de dentro tirar uma pedra, ou algum objeto estranho e mais pesado que o ar...
Como era temperamental, às vezes tinha vontade de arremessar o objeto encontrado na cabeça do espertalhão que certamente o julgara um velho gagá. E tinha reações semelhantes, ou piores, em suas desavenças com o vizinho Joaquim Rodrigues, principalmente quando esse senhor, motorista de carro que fazia especial (não existia táxi naquela época), engraçava-se com seus netos.
Ainda está na minha memória uma dessas contendas. Vovô Toinho com uma picareta nas mãos tentando derrubar o muro do vizinho. Eu e meu irmão, ao brincarmos no pé de laranja, tínhamos quebrados umas telhas da garagem de Joaquim Rodrigues, que se sentiu no direito de reagir. Meu avô partiu pra tréplica, aos berros:
- Essa porcaria desse muro foi construído no meu terreno! Vou derrubar e, se alguém achar ruim, vai embora junto. Ninguém mexe com meus netos – com minha vó Naninha e minha mãe com a paciência de uma Iracema, tentando acalmá-lo.
Normalmente, era um homem tranquilo. Religioso e caridoso. Muito querido pela família e admirado na comunidade uruaçuense. Tentou passar para este seu neto seus dotes e talentos para fazer negócios. Mas, acredito que nessa empreitada não foi muito feliz, não...
Aprendi com ele a observar atentamente as coisas que nos cercam nesta vida. A valorizar o trabalho, a honradez e a honestidade. Abriu, bem cedo, uma caderneta de créditos para mim, onde anotaria o que eu ganhasse. Fui pra rua vender laranja, pirulito, engraxar sapatos...
A tal da caderneta deve ter se perdido nos anos subsequentes à morte do vovô Toinho. Os créditos financeiros, provavelmente, foram espalhados pelos quatro cantos, carregados pelos ventos que fazem girar o relógio do tempo e as pedras dos moinhos que não perdoam nossos sonhos.
Mas os créditos morais, esses ficaram guardados no fundo da alma, num cantinho do coração reservado ao caráter... E até hoje nos impulsionam pela vida afora, ajudando a enfrentar tempestades e a remar contra a maré.
Meu avô era filho de casal português vindo para o Brasil em busca de uma vida nova. Ele, cearense, migrou para o interior de Goiás atrás de novos tempos. E este seu neto trocou a pequena cidade de Uruaçu pelo sonho de Brasília, a capital do futuro.
É vida que segue...

5 comentários:

  1. Muita ternura, muito amor, uma bonita homenagem para seu avo. Ele deixou uma raiz no seu coração, o filho de português cearense, uma raiz goiana em Uruaçu, que você nunca vai perder.

    Jean-Marie

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  2. Um texto que revolve lembranças permeadas de ternura..comovente!

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  3. Bela homenagem ao vovô Toinho, muitos ensinamentos até hoje passam nas nossas lembranças : Às netas vaidosas e sempre bonitas que passavam aos domingos para lhe pedir a benção, mal viravam as costas e ele resmungava : Não sei para que tanto vestido se só se tem um corpo. Vovô deixou para nós uma certeza, o trabalho nos engrandece. Sua postura reservada e avassaladora quando necessário. Muitas saudades.

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  4. SOU UM LEGITIMO CAMAPUM TENHO UM GRUPO NO WATSSAP E OUTRO NO FACEBOOK ENVOLVENDO SOMENTE ALGUNS DO NOSSO POVO OS CAMAPUNS É UM GRUPO AINDA PEQUENO MAS ESTA SE EXPANDINDO AOS POUCOS .,
    CASO O SR. JOSE CARLOS CAMAPUM QUEIRA NOS AJUDAR A MONTAR ESSE QUEBRA CABEÇA ESTAREI SEMPRE AS ORDENS PARA RECEBER DE VOCÊ OU DE ALGUM DOS NOSSO PARENTES INFORMAÇÕES QUE VÃO SER UTEIS PARA SEREM DIVULGADAS AOS NOSSO PARANTES ESPALHADOS NO NOSSO BRASIL
    MEU OBJETIVO É INTERARGIRMOS UNS COM OS OUTROS E PARA ISSO QUERO UNIFICAR E APROXIMAR MAIS OS CAMAPUNS JÁ QUE ESTÃO ESPALHADOS NESSE BRASIL TODO.
    MEU AVO VEIO DO CEARÁ PARA O MARANHÃO E LA CONSTRUIU
    FAMÍLIA .
    ESTAS INFORMAÇÕES SÃO MUITO VALIOSAS PARA NÓS,
    MEU OBJETIVO E ME APROFUNDAR NESSE ASSUNTO E SABER MAIS SOBRE NOSSA ORIGEM E ASSIM REPASSAR AOS DEMAIS CAMAPUNS QUE REALMENTE É UMA FAMÍLIA MUITO EXTENSA..

    CASO VOCE ESTEJA DISPOSTO A COLABORAR CONOSCO PEÇO QUE ENTRE EM CONTATO EM MEU E-MAIL bento713@hotmail.com OU bento7132023@gmail.com. EU E TODOS OS CAMAPUNS FICARÃO GRATOS PELA SUA AJUDA ..AFINAL VOCÊ TAMBÉM É UM CAMAPUM E FAZ PARTE DESSE MEMBRO QUE CONSTRUIU ESSE CORPO CHAMADO FAMÍLIA CAMAPUM..
    AGRADEÇO A SUA ATENÇÃO E SUA COMPREENSÃO.. ABRAÇO;

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