sábado, 25 de junho de 2016

Porque hoje é sábado, é dia de poesia...

Saudades
Florbela Espanca

Saudades! 
Sim... Talvez... 
E por que não?
Se o nosso sonho foi tão alto e forte. 
Que bem pensara vê-lo até à morte. 
Deslumbrar-me de luz o coração! 
Esquecer! Para quê?
Ah! Como é vão! 
Que tudo isso, amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte. 
Deve-nos ser sagrado como o pão! 
Quantas vezes, amor, já te esqueci, 
Para mais doidamente me lembrar
Mais doidamente me lembrar de ti! 
E quem dera que fosse sempre assim: 
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!



Lembranças
José Carlos Camapum Barroso

Naquela latada, tem
Velhas vasilhas vazias,
Mãos escorregadias,
Brancas de Branca,
Negras de Generosa...
Amadas e Amélias.

Vasilhas luzidias
Entre dedos brilhantes
E lágrimas cortantes.
Águas que jorram...

Naquela latada, tem
Um mar doce de água
Por onde Maria se foi...
Quantos baldes,
Tantas Abadias...
Tripa de porco,
Buchada de bode
E sangue de boi.

Naquela latada, tem
Um espelho d’água,
Rosto de meninos,
Sonhos e mágoas...

Boca de cisterna,
Beirada de jirau,
Maxixe no monturo
E laranja no quintal.

Naquela latada, tem
Gotas de orvalho,
Rio de lágrimas, suor,
Sorrisos de crianças,
Segredos em dor maior...
Tantas lembranças.

Naquela latada, tinha
Uma casa, uma história,
Réstias de saudades
E uma foto na memória...
Mas como dói.



3 comentários:

  1. Lindo e emotivo! Parabéns! Saudades e boas lembranças nos trás.

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  2. Meu café da manhã de sábado, poesia com lembranças. Obrigado Zé!

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  3. Parabéns Zezão! Jamais vou esquecer sua " Lembranças" com seu "segredo em dor maior".

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