terça-feira, 25 de setembro de 2012

UFC e reality show... E assim caminha a humanidade

O universo do entretenimento e da cultura na sociedade “moderna” produziu duas excrescências: o reality show e o famigerado Ultimate Fighting Championship (UFC), que dá continuidade à luta livre e tem atraído um público cada vez maior em todo o planeta, inclusive o feminino. Talvez, esses sejam no momento os mais relevantes exemplos de como a humanidade realmente caminha em direção oposta à civilização.
Um se destaca como atração por saciar o prazer que o ser humano tem pela fofoca, pelas intrigas e a pela curiosidade mórbida em observar os defeitos de caráter e de personalidade das pessoas, o que fazem ou deixam de fazer na intimidade, o voyeurismo, mesmo. O segundo valoriza a violência em si, a capacidade que o ser humano tem de destruir seu adversário – nem precisa ser inimigo, não – basta ser apenas adversário, aquele sujeito, também ser humano, que momentaneamente está do lado oposto.
Faço essas considerações porque fiquei horrorizado, neste final de semana, com a reação de um público jovem, reunido lá em casa, durante um determinado momento da luta, em que o competidor brasileiro (olha o patriotismo!) pendurou seu adversário, não o inimigo, de cabeça pra baixo. Aos berros os garotos e garotas, namorados e namoradas, esposos e esposas – todos, amigos e jovens – gritavam, freneticamente: Quebra! Quebra! Quebra!
Era pra quebrar o quê? O pescoço do sujeito, a coluna, a clavícula? Ou tudo isso numa pancada só? Confesso que me lembrei dos filmes sobre a Roma antiga, não tão antiga assim, né? Os gladiadores lutavam até a morte. Matavam seus adversários de olho no polegar do imperador, que indicava positivo ou negativo, enquanto a massa gritava, também freneticamente: Morte! Morte! Morte!
A vida e a sorte material dos participantes do Big Brother, Casa dos Artistas, da Fazenda, ou de outro reality show da vida, são colocadas em jogo e dependem exclusivamente de suas capacidades de representar no espetáculo, que é acompanhado, analisado e esmiuçado 24 horas por dia por um público faminto de novidade.
Nos reality shows à moda antiga, tipo programa de auditório, o calouro ainda precisava pelo menos demonstrar certa afinação, talento para dançar ou postura no palco. Agora, não. Basta saber fingir, conquistar o público para o “eu”, destruir subjetivamente os competidores. Não é preciso ter capacidade para qualquer coisa objetivamente, basta saber agregar e manipular valores que possam conquistar uma fatia razoável do público.
A verdade é que os meios de comunicação, a indústria cultural, os promotores de espetáculos apostam cada vez mais na mediocridade. É preciso vender um produto que seja de fácil e amplo consumo, possa ser “renovado” rapidamente e dê lucro rápido e seguro. O apostar no talento exige maior investimento e retorno a médio e longo prazo – isso não interessa mais ou, na melhor das hipóteses, interessa pouco.
Gosto de buscar resposta pra todas essas polêmicas na música e no pensamento dos filósofos. Lembrei de Tom Zé, que é músico, pensador arguto e escreveu uma canção interessante, chamada Burrice. Quem sabe, as faíscas da ferradura dos admiradores dessa cultura moderna ao quicar na calçada das ruas nos iluminem e mostrem um novo caminho.
E ainda têm o fundamentalismo religioso a ferir e a matar em nome de Deus. E o ditador da Síria fazendo carnificina diariamente. Bom, vamos tentar digerir essas outras coisas em outro post. Esse aqui já está indigesto demais!



14 comentários:

  1. "Em vários sabores, a burrice está na mesa..."
    Quem lucra com o UFC ? quem lucra com a transformação da barbárie em espetáculo?

    O UFC torna a violência algo banal... e depois as pessoa s se chocam com a violência do cotidiano...mundo em decadência...faz lembrar o também decadente Império Romano. feras e gladiadores para uma platéia sedenta de sangue...qual a diferença? Não há diferença... a lógica é a mesma.

    É importante pautar esses assuntos, parabéns..
    abraço, Melissa

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  2. Existe muita civilização no UFC, justamente no fato de ser um esporte, uma manifestação cultural específica, solidificada em regras definidas e legalizada dentro do corpo social. É uma transposição da violência pura em um jogo com objetivos e limites previamente traçados.

    A vida é violenta, o mundo é um lugar perigoso e hostil. A civilização é parte da vida e se faz nesse mundo; . Tudo bem que a política é o sonho de criação da vida tipicamente "humana", mas no processo de construção desse espaço artificial de convivência, muita porrada é distribuída por aí, todos os dias.

    As arvores não cantam samba e os animais não apreciam vinho em suas tocas. Para que os nossos homens civilizados possam tomar vinho e cantar samba, muita força foi empregada, muita gente morreu ou foi excluída da vida boa e pacata.

    Identificar civilização com paz e refinamento de gostos é esquecer-se da guerra e do sangue que repousa na fundação das nossas casas.E a violência mais feia é justamente a que não é vista, pois fica eternizada nos meios institucionais seletivos, enquanto alguns bebem e cantam no gozo da paz civilizatória.

    Essa violência do UFC é inofensiva. São pessoas livres e muito bem pagas fazendo algo que tem profunda reflexividade na nossa mente. Todo mundo gosta de brigar e acaba fazendo isso de diversas forma no dia a dia. Formas legalizadas, constitucionalmente aceitas, "civilizadas" existem aos montes.o UFC é apenas uma delas. Gostar ou não dessa manifestação de violência, especificamente, é um aspecto subjetivo muito menor e não tem nada a ver com o progresso. Nenhum de nós está acima da violência como conceito abstrato.

    Quem nega esse nosso desejo de violência, de imposição e superação, só pode se achar maior do que a vida. Não conheci ninguém que tenha atingido esse status, ainda.

    PS: Os gladiadores eram escravos e lutavam até a morte. O maior problema deles, muito mais do que praticar violência para o deleite do público, me parece ser o fato de que o faziam por um processo de exclusão absoluta, de negação do seu direito de determinar os rumos de sua própria vida. Tenho certeza que boa parte dos senadores que guarneciam e perpetuavam o espetáculo tomava vinho e abominavam essa violência gratuita do coliseo. Isso os fazia mais "civilizados" do que a plebe?

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    1. Vamos por parte, como diria Jack, o Estripador, e começando pelo fim:
      1) Se algum senador de Roma criticava a luta de gladiadores como forma de diversão, ele não deixa de ter razão porque o fazia ao sabor de algumas taças de vinho. Um pouco de vinho é bom pra ajudar a clarear as ideias. Agora, se se deliciava com as lutas e mesmo assim as criticava, esse mesmo senador era apenas incoerente, mas nem por isso seu argumento deixava de ser válido. A plebe rude não era menos civilizada só porque gostava da violência entre gladiadores e pedia a morte dos derrotados, mas sim porque não tinha acesso à educação e aos estudos dos filósofos. E também alguns deles estavam ali por obrigação ou por gostar de bajular a realeza.
      2) É fato que a violência existe na sociedade e até no processo de evolução e de conquistas pela humanidade. Nem por isso, ela (a violência) precisa ser, nem é interessante que seja, transportada para dentro de uma jaula, onde duas pessoas se mutilam e se destroem para divertir uma plateia, que agora inclui até jovens caras-pintadas.
      3) Engano seu achar que os animais não apreciam vinho. Pode fazer o teste com o Kant (cachorro aqui de casa e não o filósofo, claro). Aposto que ele vai adorar. Eles só não têm a capacidade de produzir essa bebida maravilhosa para seu próprio deleite. Agora, eles só brigam entre si para garantir a sobrevivência, o espaço territorial, a fêmea, ou coisas do gênero. Eles ainda não inventaram a luta como modalidade de “esporte”. Quanto às árvores, elas realmente não cantam samba, mas, quando o vento passa por entre as folhas, faz um barulhinho melodioso, que lembra uma valsa. Ou não?
      4) Realmente existem outras violências MAIS feias do que as do UFC. Principalmente nas injustiças sociais, na corrupção que retira dinheiro dos hospitais etc. Mas, isso é só uma questão de graduação – para mais ou para menos. A violência, que vocês jovens apreciam como esporte, continua sendo feia.
      Confesso, meu filho, que esperava argumentos mais convincentes e melhores estruturados de um filósofo e advogado da sua envergadura. Mas, é claro, a causa a que você se propôs a defender não ajuda muito, né? Beijos.

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  3. Do amigo, Ivan Carvalho, recebi o seguinte e-mail:
    "Zé, se tem uma coisa que é proibida aqui em casa são essas lutas. E olha que me acho liberal pra caramba. É a barbárie em seu estado mais puro. Nem diversão é. Não acrescenta nada. Lamentável que faça parte da programação de emissoras de TV. Enfim, a humanidade segue um caminho extremamente perigoso, com a perda de valores que eram tão caros para nós, nossos pais e avós. Um abraço, Ivan"

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  4. Da minha mulher Stela, recebi o seguinte comentário sobre a opinião acima de nosso filho Ramiro Barroso:
    "Coisa maravilhosa é a verve de um bom advogado. Justifica o injustificável. E consegue até mesmo convencer os incautos. Beijos, Stela."

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  5. 1) - Benza Deus, o blog que sempre é maravilhoso, agora pegou fogo em família. Zé, o mundo tornou-se uma coisa só (ja falamos sobre isso)! Vestimos iguais, comemos os mesmos sanduiches, tomamos os mesmos vinhos e a mesma comida e no geral ouvimos as mesmas musicas (podemos gostar ou não).
    Desde os primórdios, o nosso organismo foi preparado para a defesa/violencia a que nossos antepassados foram submetidos e há um que de violencia em toda a nossa existencia e nisso concordo plenamente com meu querido filho Ramiro. Como apos a queda do muro de Berlim, a politica virou uma violência só e chegamos ao lulismo (se não viu, veja a entrevista do Francisco Oliveira no Roda Viva), mais uma vez meu filosofo querido tem razão. E aí então, o que fazer?

    2 - A nossa unica salvação é a arte, que voce tão bem representa no nosso Blog. Só os livros, a pintura o teatro o cinema e a musica (cuidado!!!) irá nos salvar. Ah! o amor e os amigos tambem, né?!

    3 - Não é possivel em um meio comercial como a TV, reproduzir arte diariamente ( raramente acontece!!) porque arte e cultura depende de uma gama de coisas que infelizmente a audiência da TV aberta não esta disposta a se chatear com isso!! É mais facil descansar, depois do onibus nosso de cada dia, com as novelas, os reality shows e ate mesmo com esse espetaculo deprimente (ao menos para mim) representado por essas lutas. É obvio que o Ramiro tem total razão qdo coloca que são 02 pessoas preparadas, treinadas e bem pagas que se colocam frente a frente e aí o a luta tem a sua lógica (lembre-se que várias meninas acham terrivel 22 homens correndo atrás de uma bola). O espetáculo atende aos que querem assisti-lo. Voce estranhou quando pessoas do nosso convivio, com boa formação, de classe média, gritaram quebra, quebra!! Mas Ze, se não houvesse a catarse (podemos ou não concordar com ela) onde estariamos todos nós ?

    PS - ainda bem que o Ivan é liberal prá caramba ne?! Já pensou se não fosse, ein, ein, ein, ein!!!!!!

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    1. Caro amigo, Jorginho.
      Desculpe-me discordar de dois aspectos que são fundamentais:
      1) A catarse também ocorre no teatro, no cinema, nos shows de músicas, no Carnaval e em tantas outras manifestações culturais, e mesmo esportivas, como o futebol, o basquete, voleibol (que as meninas adoram) e tantos outros. Não precisamos desse tipo de catarse, onde duas pessoas se mutilam e derramam sangue dentro de uma jaula. Ou seja, nós temos muitas opções. Inteligência - que não abrange apenas uma boa capacidade de raciocínio, mas também bom-senso, sensibilidade, equilíbrio, observação, cultura etc - serve pra isso: para que nós possamos cada vez mais nos distanciar dos comportamentos animalescos.
      2) Não precisamos reproduzir a violência que existe no mundo lá fora nas práticas esportivas e nos entretenimentos, apenas pelo raciocínio singelo (frágil) de que ela existe no mundo. A INTELIGÊNCIA (naquele sentido amplo), aliada à cultura, está aí pra nos ajudar. Não é tão difícil assim.
      Abraço

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  6. Tio Zezé ia muito bem até ofender os bichos na última linha do penúltimo parágrafo: "comportamentos animalescos". Deixe os bixins fora disso porque a selvageria gratuita é bem mais a cara do homo sapiens. No mais achei lindo o duelo entre os dois gladiadores (titio e primito) e os apartes das outras feras. Eu, porém, que também sou inteligentíssima, vou ficar fora da discussão. Prefiro assistir ao pau comer na rinha das ideias. Beijos!

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    1. Olá, Maurinha.
      Não houve a intenção de ofender os bichinhos. O comportamento animalesco, no caso, quer dizer apenas a irracionalidade. Nós temos capacidade para racionalizar, então, devemos usá-la, né? Beijos.

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  7. UAU...e eu que sempre sonhava com a possibilidade do Boxe
    ser extinto da categoria de esporte !!!"Somos racionais,o que vale a pena são as artes, sem elas morreríamos,palavras de filósofo".Sem a violência gratuíta o que perderíamos? O que ainda é capaz uma emissora de TV,Eleger Presidente, derrubar presidente.Fico com o Gabeira : nesses momentos críticos que nossos lares são invadidos,existe um aparelhinho chamado controle,alguma coisa CULT está no ar, faça a opção conforme atenda sua sensibilidade.Não sei se estou sendo ingênua...talvez.

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  8. Por uma questão de espaço, vou enviar o meu comentário em mais de uma postagem:

    O debate que se trava no blog do Zé poderia um dos tantos sobre as aberrações da cultura pós-moderna, cultura que também tem aspectos admiráveis. O peculiar é que se trava entre indivíduos da mesma família e no meio pós-moderno por excelência: a internet. O que há 30 anos ou mais seria privado, hoje transborda para a esfera pública.

    E se torna público não porque o Zé tenha aderido a um modismo, mas porque, como um homem da pólis, quis, a meu ver, valorizar, converter em valor político, ou seja, válido para a sociedade, o que poderia ser um conflito de gerações.

    O Zé entendeu que não se trata de apenas uma contenda entre pai e filho. Caso fosse, uma boa conversa, ainda que franca, à volta de uma garrafa de vinho, resolveria a parada. Não. Essa questão é uma questão de toda a sociedade e, desse modo, deve ser discutida publicamente. Ela se refere às ideias e ao comportamento de uma grande parcela da população (jovens e não tão jovens; gente que frequentou universidades e gente que parou ali pelo ensino médio).

    É evidente que, como nos disse o antropólogo Claude Levi-Strauss, o ser humano praticamente não mudou nada em cinco mil anos. O que tem havido é atualização tecnológica. Somos guiados pelos mesmos instintos, inclinações e apetites. Mudando-se as circunstâncias, esse ímpeto é suavizado por forças do tipo institucional, que podem ser leis, códigos religiosos, etc.

    De fato, a “violência” nunca esteve ausente da vida humana, mas é antiquíssima a aspiração igualmente humana a uma vida sem violência. E aí é que há uma costumeira distorção conceitual. Seria muito saudável que pudéssemos distinguir entre violência e agressividade, não só para compreender melhor o problema quanto para encontrar uma solução. Se é que pode ser 'solucionado'. A violência é uma manifestação da agressividade natural dos animais, entre eles os humanos, mas é uma manifestação que nos faz mal. A agressividade é uma força que nos ajuda a vencer os desafios da vida, onde não há aquele tipo de 'paz eterna'. Se temos de conseguir um emprego, construir uma casa, plantar uma terreno, tocar um instrumento, é preciso uma certa dose de agressividade. Caso contrário, ficamos passivos aguardando que algo venha nos socorrer.

    O ideal da civilização, portanto, é que a violência seja reprimida com inteligência e que agressividade seja canalizada para os fins mais nobres que pudermos encontrar: esportes (entre eles as lutas), artes, construções.

    Muito embora, o homem não mude em essência, muda a orientação mais geral das sociedades. O que lamentavelmente tem se verificado nos últimos tempos é uma orientação, na maior parte subliminar, para a violência. Já de cara avisando que me inclino para um funcionamento liberal em matéria de economia e política, percebo que a violência decorre de uma ordem que parte do centro do capitalismo e se irradia em todas as direções encontrando por onde passa o auxílio sempre prestativo de todo o tipo de capataz: publicitários, gente da mídia, da moda, líderes empresariais, políticos.

    A ordem é: o capital precisa de uma taxa de retorno cada vez maior. Alguém pode me lembrar que Marx disse isso no século XIX, que estou chovendo no molhado e que o socialismo, afinal mostrou-se inviável. Logo, se o socialismo e seu ideal igualitário não funcionou, passemos ao que funciona.

    Numa sociedade competitiva, não há lugar para a derrota e para a fraqueza. Que cada um se muna de suas armas e lute, se quiser sobreviver. Para dourar essa pílula, há todo um jogo de aparências a respeito de avanços legislativos, defesa de direitos humanos e ecologia. À sombra da ideia de progresso humano, as relações se configuram brutais, seja de forma visível (crimes, esportes violentos) ou sutil (acordos tácitos de exclusão nos mais variados grupos).

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  9. (segunda parte)

    No estágio atual, o capitalismo disseminou pacientemente um arsenal ideológico de justificativas para legitimar a violência. Se é uma atividade empresarial legal e remunerada, então qual o problema em tirar o sangue de alguém num ringue e transmitir para todo o planeta? Que mal há em juntar numa casa vigiada por câmeras um bando de trogloditas da intriga incitando a população ao exercício da trama, da mentira, do cinismo? Que mal há em prostituirem-se adultos sob todas as formas possíveis e imagináveis?

    Eis a questão: nós não estamos decidindo como canalizar ou sublimar nossa agressividade, como nos liberar sexualmente, como nos abrirmos para um jogo social mais franco. Nossas aspirações por mais espaço, por mais ar foram embalados em pacotes comerciais, da mesma maneira que as drogas também se tornaram um item de consumo em massa. E um certo sentimento inconsciente de que estamos sendo manipulados para competir em benefício desse sistema nos torna ainda mais agressivos, digo, violentos.

    Dizer que a violência televisiva e dos videogames não leva as pessoas a irem mais além da reunião do sábado à noite é ser bastante ingênuo.

    A verdadeira catarse seria libertária e sazonal, como as festas carnavalescas, os folguedos de todos os matizes. O mundo das diversões pós-modernas criou o consumidor de catarse, subvertendo o sentido desse instrumento. E consolidou o mau gosto, sob a desculpa de que o chique é ser esperto, de que não há lugar para fracassados ('loosers'): você pode até apelar, quebrar as regras, corromper...perder jamais!

    Ficando apenas no terreno das lutas, não me consta que lutadores de judô, caratê ou capoeira sejam menos virís (inclusive os do sexo feminino) do que um lutador de UFC. A diferença é como utilizam a agressividade.

    Sem querer defender uma sociedade de 'bons moços', sem fazer a apologia da carolice, sem embarcar no sonho de um economia em que cada um ganhe exatamente o mesmo que o outro, é preciso refletir sobre se nós precisamos realmente do UFC, do Big Brother e de baboseiras semelhantes.

    Acho que não. Acho que precisamos de uma sociedade politizada, bem informada, laica, liberal, mas com todo um arcabouço legal e cultural que nos defenda da violência, da arrogância, da manipulação.

    Colocar no cachorro o nome de um filósofo, por si só não o tornará menos agressivo, mas se compramos um pitbull e o atiçarmos contra o vizinho, poderemos perceber consequências bastante diversas.

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  10. Grande Nelsinho, bela contribuição para o debate sobre o tema. Realmente, a preocupação não tem nada de contenda entre pai e filho, nem mesmo chega a ser um conflito de gerações. A preocupação é apenas com o sonho, com o ideal político, aquela ideia de que podemos e devemos construir uma sociedade melhor. E para isso precisamos desses jovens que estão admiravelmente bem preparados. O Ramiro é um exemplo que se destaca entre eles. Por isso, fiz essa reflexão e coloquei no blog.
    Grande abraço e obrigado pela participação.

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