Não nos custa nada uma
pequena reflexão, neste Dia do Aposentado, sobre a tsunâmica declaração do ministro das finanças Taro Aso, que já foi
primeiro-ministro do Japão, assegurando que idosos e doentes deveriam ter permissão
para abreviar a vida de forma a aliviar o peso que representam nas finanças
japonesas. “Que Deus não permita que
sejam forçados a viver quando querem morrer. Eu iria acordar sentindo-me
incrivelmente mal por saber que o tratamento era totalmente pago pelo governo”,
disse Aso.
Basta lembrar que esse gênio da raça humana, na última segunda-feira,
disse aos jornalistas que tinha recebido um telefonema do presidente Bush, dos Estados
Unidos, dando lhe parabéns pela esmagadora vitória do Partido Liberal
Democrático (PLD), nas eleições legislativas do último domingo. Diante das risadas, corrigiu para Barack Obama.
No caso dos idosos e doentes japoneses, Taro Aso tentou amenizar
suas declarações dizendo que foram apenas “opiniões pessoais” e que não quis
sugerir como o tratamento de doentes terminais deve ser conduzido. Idiossincrasias
à parte, ele mostrou o lado cruel do realismo de quem administra finanças
públicas em um país como o Japão, seguidamente tragado por tragédias de grandes
dimensões. Ao mesmo tempo, revelou o quanto é limitada e medíocre a sua capacidade
de enxergar a vida pela dimensão humana, que nos permite viver em sociedade e
construir algo que possa ser chamado de civilização.
O Japão já superou tragédias de todas as naturezas e espécies. Seu povo
demonstrou capacidade, disciplina e talento para reconstruir o que restou do
Japão pós-guerra, terremotos, tsunamis e outras tantas mazelas. Nascer e
morrer tem um custo para o Estado que usufrui do fruto do trabalho de seus
cidadãos por décadas. Essa conta gerada nos primeiros e nos últimos anos de
vida das pessoas está muito bem paga pelas contribuições e impostos arrecadados, que não são poucos.
Quando a conta não fecha, podemos ter certeza que as mazelas da corrupção e da
falta de compromisso com o bem público são as grandes responsáveis pelo
déficit.
No Japão, pelo menos, o político flagrado em pleno usufruto de desvio de
dinheiro público faz a opção pelo haraquiri. No Brasil, não, os políticos
flagrados querem ficar livres de qualquer punição, direitos mil e, salvo raríssimas exceções, riem
da nossa cara nos bastidores e sonham em voltar ao poder.
Na verdade, essa turma quer tratar os doentes e os idosos como na bela canção de
Luiz Gonzaga Júnior, nosso querido e saudoso Gonzaguinha. eles desejam mesmo é
isolar os pacientes ao máximo possível, pois trazem perigo a “nossa” vida. Não
aceitam dar-lhes guarida, preferem oferecer guaraná com pesticida – “pra acalmar
minha dormida”.
Pra essa gente, qualquer investimento em saúde pública é dinheiro jogado
fora. Pena que não tenhamos mais o senso crítico e aguçado de Gonzaguinha
contra a pilantragem dessa turma. Mas a arte dele está entre nós, continua viva
e pronta para ativar o nosso senso crítico.
Tá certo, Gonzaga.
Tá Certo, Doutor
Luiz Gonzaga Júnior
Dá licença, dá licença, ó o menino com meningite
aqui, dá licença,
Afasta aí
Dá licença, dá licença, dá licença, dá licença
Afasta aí
Dá licença, dá licença, dá licença, dá licença
É um atentado à moral e aos bons costumes vigentes,
um certo inconveniente
Deixar este homem doente perambular pelas ruas a cometer tais falcatruas
Incompatível com os estatutos dessa gafieira,
Dançar dessa maneira, desrespeitando o salão, desfigurando o padrão
Fere as normas do edital de formação da nossa firma atual
Deixar este homem doente perambular pelas ruas a cometer tais falcatruas
Incompatível com os estatutos dessa gafieira,
Dançar dessa maneira, desrespeitando o salão, desfigurando o padrão
Fere as normas do edital de formação da nossa firma atual
Esse homem está enfermo, nem precisa exame sério,
seu mal está constatado
Depressa, põe no hospital!
Depressa, põe no hospital!
Deve ficar bem isolado, em quarto bem fechado
Sem portas ou janelas, pois pode ser contagiante
Dieta mais que rigorosa, medicação bem adequada e muita observação
Pra que não haja agravantes
Sem portas ou janelas, pois pode ser contagiante
Dieta mais que rigorosa, medicação bem adequada e muita observação
Pra que não haja agravantes
Em tempo hábil deve ir até o centro de controle para testar sua boa condição,
Se está fechada a ferida
Seu caso deve ser anotado, o seu mal ser vigiado e
lhe requer muita atenção
Seu caso deve ser anotado, o seu mal ser vigiado e lhe requer muita atenção
Seu caso deve ser anotado, o seu mal ser vigiado e lhe requer muita atenção
Pois traz perigo à nossa vida
Não dou amparo, nem guarida
Dou guaraná, com pesticida
Pra acalmar minha dormida
Não tô afim de pôr em risco a minha condição
Não dou amparo, nem guarida
Dou guaraná, com pesticida
Pra acalmar minha dormida
Não tô afim de pôr em risco a minha condição
Um homem perde sua humanidade...outros houveram!
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