quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Ministro japonês quer dar guaraná com pesticida aos doentes

Não nos custa nada uma pequena reflexão, neste Dia do Aposentado, sobre a tsunâmica declaração do ministro das finanças Taro Aso, que já foi primeiro-ministro do Japão, assegurando que idosos e doentes deveriam ter permissão para abreviar a vida de forma a aliviar o peso que representam nas finanças japonesas. “Que Deus não permita que sejam forçados a viver quando querem morrer. Eu iria acordar sentindo-me incrivelmente mal por saber que o tratamento era totalmente pago pelo governo”, disse Aso.
Basta lembrar que esse gênio da raça humana, na última segunda-feira, disse aos jornalistas que tinha recebido um telefonema do presidente Bush, dos Estados Unidos, dando lhe parabéns pela esmagadora vitória do Partido Liberal Democrático (PLD), nas eleições legislativas do último domingo. Diante das risadas, corrigiu para Barack Obama.
No caso dos idosos e doentes japoneses, Taro Aso tentou amenizar suas declarações dizendo que foram apenas “opiniões pessoais” e que não quis sugerir como o tratamento de doentes terminais deve ser conduzido. Idiossincrasias à parte, ele mostrou o lado cruel do realismo de quem administra finanças públicas em um país como o Japão, seguidamente tragado por tragédias de grandes dimensões. Ao mesmo tempo, revelou o quanto é limitada e medíocre a sua capacidade de enxergar a vida pela dimensão humana, que nos permite viver em sociedade e construir algo que possa ser chamado de civilização.

O Japão já superou tragédias de todas as naturezas e espécies. Seu povo demonstrou capacidade, disciplina e talento para reconstruir o que restou do Japão pós-guerra, terremotos, tsunamis e outras tantas mazelas. Nascer e morrer tem um custo para o Estado que usufrui do fruto do trabalho de seus cidadãos por décadas. Essa conta gerada nos primeiros e nos últimos anos de vida das pessoas está muito bem paga pelas contribuições e impostos arrecadados, que não são poucos. Quando a conta não fecha, podemos ter certeza que as mazelas da corrupção e da falta de compromisso com o bem público são as grandes responsáveis pelo déficit.
No Japão, pelo menos, o político flagrado em pleno usufruto de desvio de dinheiro público faz a opção pelo haraquiri. No Brasil, não, os políticos flagrados querem ficar livres de qualquer punição, direitos mil e, salvo raríssimas exceções, riem da nossa cara nos bastidores e sonham em voltar ao poder.
Na verdade, essa turma quer tratar os doentes e os idosos como na bela canção de Luiz Gonzaga Júnior, nosso querido e saudoso Gonzaguinha. eles desejam mesmo é isolar os pacientes ao máximo possível, pois trazem perigo a “nossa” vida. Não aceitam dar-lhes guarida, preferem oferecer guaraná com pesticida – “pra acalmar minha dormida”.
Pra essa gente, qualquer investimento em saúde pública é dinheiro jogado fora. Pena que não tenhamos mais o senso crítico e aguçado de Gonzaguinha contra a pilantragem dessa turma. Mas a arte dele está entre nós, continua viva e pronta para ativar o nosso senso crítico.
Tá certo, Gonzaga.




Tá Certo, Doutor
Luiz Gonzaga Júnior

Dá licença, dá licença, ó o menino com meningite aqui, dá licença,
Afasta aí
Dá licença, dá licença, dá licença, dá licença

É um atentado à moral e aos bons costumes vigentes, um certo inconveniente
Deixar este homem doente perambular pelas ruas a cometer tais falcatruas
Incompatível com os estatutos dessa gafieira,
Dançar dessa maneira, desrespeitando o salão, desfigurando o padrão
Fere as normas do edital de formação da nossa firma atual

Esse homem está enfermo, nem precisa exame sério, seu mal está constatado
Depressa, põe no hospital!

Deve ficar bem isolado, em quarto bem fechado
Sem portas ou janelas, pois pode ser contagiante
Dieta mais que rigorosa, medicação bem adequada e muita observação
Pra que não haja agravantes

Em tempo hábil deve ir até o centro de controle para testar sua boa condição,
Se está fechada a ferida

Seu caso deve ser anotado, o seu mal ser vigiado e lhe requer muita atenção
Seu caso deve ser anotado, o seu mal ser vigiado e lhe requer muita atenção

Pois traz perigo à nossa vida
Não dou amparo, nem guarida
Dou guaraná, com pesticida
Pra acalmar minha dormida
Não tô afim de pôr em risco a minha condição

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