sábado, 19 de outubro de 2013

Porque hoje é sábado, Vinícius de Moraes faz 100 anos



Vinícius de Moraes, sozinho, com os parceirosTom Jobim e Baden Powell
Eu digo faz, e não faria, 100 anos porque Vinícius de Moraes não morreu e não morrerá nunca. Hoje é sábado, dia 19 de outubro, e falar sobre Vinícius de Moraes é tão simples e belo como falar sobre a flor, o amor, o lirismo, o romantismo, a mulher, a música, a poesia e tantas outras coisas admiráveis deste mundo.
Lembro-me de um show de Vinícius, salvo lapso de memória, que ocorreu no ano de 1974, na L2 Sul, em Brasília. Eu voltava de Uruaçu, de ônibus, na agradável companhia dos irmãos Gilberto e Sidney Ponce. Quando chegamos em Anápolis, só havia passagem para bem mais tarde e, dessa forma, eu perderia o show. Convenci os amigos e fomos de lotação – coisa que sempre tem uma margem de risco muito grande, imaginem então naquela época.
Cheguei a tempo de assistir o show. Inesquecível! O poetinha ali, acompanhado de Toquinho, Maria Creusa e uma garrafa de uísque na mesa. Cantou e declamou seus poemas maravilhosos. Fez um desabafo contra o ano de 1973, que levou os três talentos extraordinários do mundo artístico: Neruda, Picasso e Casals. Levei um susto, quando ouvi do poeta, ao terminar de declamar o poema, um sonoro palavrão: "1973, que vá pra puta que pariu!".

Que ano mais sem critério
Esse de setenta e três...
Levou para o cemitério
Três Pablos de uma só vez.
Três Pablões, não três pablinhos
No tempo como no espaço
Pablos de muitos caminhos:
Neruda, Casals, Picasso.
Três Pablos que se empenharam
Contra o fascismo espanhol
Três Pablos que muito amaram
Três Pablos cheios de Sol.
Um trio de imensos Pablos
Em gênio e demonstração
Feita de engenho, trabalho
Pincel, arco e escrita a mão
Três publicíssimos Pablos
Picasso, Casals, Neruda
Três Pablos de muita ajuda
Três líderes cuja morte
O mundo inteiro sentiu...
Ô ano triste e sem sorte.

Outro detalhe da vida de Vinícius que não sairá nunca da minha memória: morreu no dia do meu aniversário. Era 09 de julho de 1980. Foi o aniversário mais triste da minha vida. O dia perdeu toda a graça e não havia mais o que comemorar. Um dia em que descobri que sem Vinícius a gente nem existe.
Porque hoje é sábado e para homenagear essa figura tão querida e matar um pouquinho da saudade, vamos ouvir essa belíssima interpretação de Nana Caymmi para Eu Não Existo Sem Você, feita pelo poetinha em parceria com Tom Jobim. Depois Maria Bethânia, tomando a bênção a Vinícius e a todos os seus grandes parceiros, inclusive Baden Powell, com quem o poeta fez Samba da Bênção.
Depois disso, é possível dormir e alcançar as graças do domingo.



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