domingo, 26 de janeiro de 2014

Rolezinho - um fenômeno pouco estudado e mal compreendido


 
Minha mulher foi dar um rolezinho em Paris. Espero que os shoppings de lá, os cafés, barzinhos, restaurantes e museus não se sintam ameaçados ao ponto de fecharem suas portas. Os monumentos seculares não estarão em risco por esse grupo, que inclui um dos meus filhos, amigos e amigas. Imaginem se alguém gritar num café tradicional do centro de Paris: “Fechem as portas, chegou o povo de Brasília!”.
Aqui no Brasil está assim. Basta um grupo de adolescente combinar pelas redes sociais um rolé em um shopping para que as portas do estabelecimento sejam fechadas. O Iguatemi, aqui do Lago Norte, cerrou suas porta neste sábado ao sentir-se ameaçado por um grupo de jovens que combinou um rolezinho por lá. No final, apareceu meia dúzia de gatos pingados mais dispostos a ocupar um espaçozinho na mídia e garantir 15 minutos de fama. No Shopping do Gama houve tumulto e as portas foram fechadas mais cedo. No centro de Taguatinga, rolé e pouca confusão.
São Paulo não pode comemorar a altura a passagem dos seus 460 anos de existência. Tumulto e confusão pra dar com o pau durante os protestos contra os gastos públicos com a Copa. Ação de vândalos e despreparo da polícia pra tomar as providências cabíveis e necessárias falaram mais alto do que o bom senso.

 
Mas, a questão dos rolezinhos é ainda um fenômeno mal estudado e pouco compreendido. Por isso mesmo, as ações preventivas são inócuas e muitas vezes desproporcionais à capacidade de mobilização e de repercussão dos movimentos rolezeiros. Os primeiros estudos, dignos de serem levados a sérios, mostram que os integrantes desses movimentos são da classe C – uma nova classe média com potencial de consumo alto, de cerca de R$ 129 bilhões por mês. Há, entre eles, um número alto de analfabetos, de família sem acesso a infraestrutura básica, com liderança de mulheres e um percentual de 60% de negros.
No Brasil de hoje, há um crescimento forte de jovens com acesso à educação, com potencial para consumo e trânsito livre e integral pelas redes sociais, criando seus blogs, páginas, sites e tendo milhares de seguidores em suas colas. Não dá pra ignorar esse fenômeno e deixar de olhá-lo com senso crítico, sensibilidade, bom senso, e capacidade para criar, a partir dessas observações, projetos válidos de inclusão social, que sejam capazes de fixar e valorizar o homem e a mulher nas regiões em que vivem.

 
Mamonas Assassinas, aquela banda de rock de passagem explosiva e curtíssima pelo nosso mundo cultural, já registrava esse fenômeno do rolezinho na música Chopis Centis, composta e gravada há cerca de 20 anos. Diziam: Esse tal de Chopis Centis/É muito legalzinho/Pra levar namoradas/E dar uns rolezinhos. Ninguém imaginava, naquela época, que chegaríamos a uma situação de barrar tais movimentos na entrada dos shoppings, ou, muito menos, ao ponto de fechar as portas dos estabelecimentos, gerando prejuízos financeiros e riscos para o mercado de trabalho.
Além dos recordes que o Brasil tem de desigualdades sociais, temos novidades no campo social que precisam ser mais bem estudadas e analisadas. Com as soluções nada inteligentes e pouco razoáveis postas em práticas pelas autoridades, corremos o risco de transformar os rolezinhos em verdadeiros rolezões. E os vândalos vão se aproximar e tomar conta do movimento...
Com a palavra, os sociólogos, psicólogos, psiquiatras, antropólogos, cientistas sociais, enfim, todas as cabeças pensantes desse imenso Brasil, cheio de contradições e intolerâncias...
  
 

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