domingo, 26 de janeiro de 2014

Um ano depois, Santa Maria sofre com a dor e o esquecimento

Rua da boate Kiss, madrugada de 27 de janeiro de 2013
Rua da boate Kiss, madrugada de 27 de janeiro de 2014
 O dia 27 de janeiro virou sinônimo de tragédia. Uma tragédia que parece não ter fim. Um ano depois do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, os dramas e os sofrimentos vão além da perda de 242 vidas de jovens e da dor de suas famílias. Até hoje, 42 sobreviventes ainda lutam para respirar, expelir a fuligem grudada às paredes dos pulmões. Vão continuar nessa luta por pelo menos mais cinco anos.
A tragédia não se encerra por aí. A cidade de Santa Maria está dividida entre os que sofrem e protestam por tudo que aconteceu e os que pregam o esquecimento e pedem a retomada da rotina da cidade. A cidade parou. Comerciantes e empresários consideram 2013 o pior ano da economia local.  Jornalistas da redação do jornal Diário de Santa Maria dizem que são procurados por empresários e comerciantes para que reduzam a cobertura do acontecido, como forma de ajudar a recuperar o ânimo da cidade.



Todos os réus permanecem em liberdade. O processo contra os quatro acusados está na fase de audiências e não existe prazo para o julgamento. Projeto de lei estabelecendo regras para o funcionamento de casas noturnas tramita no Congresso em regime de urgência, mas está parado aguardando votação em plenário desde outubro do ano passado.
A indignação, a tristeza e a revolta uniram o país inteiro com repercussão mundo afora, naquele 27 de janeiro de 2013, o último domingo do mês. Um ano depois, tudo parece caminhar para o esquecimento até que nova e assustadora tragédia volte a acontecer nos mesmos moldes e padrões de sempre. O jornalista Ricardo Eugênio Boechat, da rádio Band News, alertou durante meses seguidos que o assunto iria cair no esquecimento. Infelizmente, estava certo.
Nesta segunda-feira, dia 27 de janeiro de 2014, o assunto voltará a fervilhar nos meios de comunicação. Depois, gradativamente, cairá no esquecimento. Como forma de lutar contra essa apatia, coloco abaixo a oração que fiz em versos no dia da tragédia.
Só uma força superior, divina, poderá acalmar as almas de todos os que sofreram e sofrem até hoje com esse drama.

Oração do adeus
José Carlos Camapum Barroso 

Santa Maria, mãe de Deus,
Quanta tragédia com filhos teus!
Quantos corpos, jovens,
Queimados na madrugada...
No silêncio de uma alvorada,
Rompido pelo grito de dor.

Santa Maria, rogai por eles...
Perdoai suas ofensas,
Seus delírios e rebeldia.
Lembrai-vos da fé professada
Na crença em um novo dia,
Finda bem antes de florescer.

Santa Maria, cidade de sonhos,
De tantos jovens irmãos...
Filhos de um mesmo Pai!
Acalentados em esperanças,
De uma bem regada ilusão...

Quantos são...?
Importa ainda,
Se apenas já eram?
Se apenas ficaram,
Entre escombros,
Na memória de pais
Amigos e irmãos?
 
Agora, são... Números,
Estatística mundial,
Recorde de horror...

Santa Maria! Dai-lhes paz,
Assim como os seus pais
Sempre lhes deram amor.
Dai alívio aos que ficam
Mergulhados na dor.

Santa Maria,
Dai-lhes a reencarnação
A vida eterna e o perdão...
Perdoaremos, então,
A todos que porventura
Os tenham ofendidos.


Amém!


2 comentários:

  1. Agradeço, em nome de minha família, pela linda oração. Que Deus continue nos dando serenidade para que possamos continuar vivendo, um dia após o outro. A saudade é imensa, eles estão pra sempre em nossos corações, tão perto e tão longe...

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    1. Valquíria, desejamos, de coração, que vocês encontrem conforto e paz. Obrigado pela sua participação aqui no blog. Fico feliz em saber que você gostou do poema-oração.

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