domingo, 3 de abril de 2016

Síndrome do ninho vazio: como sabê-la, sem tê-la?



O que dizer quando um filho sai de casa? Nada. E ao mesmo tempo muita coisa. As mães principalmente têm um rol de palavras a desabafar sentimento de tristeza e desalento. Principalmente porque de algumas décadas para cá esse processo passou a ocorrer mais tardiamente. Isso reforça laços de aproximação e nos enche de apegos.

Filho ou filha, não importa, quando saem de casa deixam um vazio imenso nas estantes, biblioteca, salas, corredores e jardins. É uma flor que, de repente, desaparece do vaso bem ali da nossa frente.
Nosso filho Ramiro passou, há menos de um mês, a morar com a doce Vanessa Dumont, bem ali na Asa Norte, poucos quilômetros do Lago Norte, mas parece um caminho mais longo que uma Belém-Brasília. Ficam demorados dias sem aparecer... Menos de uma semana, é verdade, mas parece uma eternidade.
Quando chega apresentam-se duas situações curiosas. Primeiro, temos a impressão de que saiu agora há pouco, mas demorou para voltar. Merece um pito, esse menino: por onde andou? Não avisa que vai demorar? Não telefona dando notícias? Logo cai a ficha de que já não mora mais por aqui, e que está apenas passeando muito bem acompanhado! São duas alegrias que chegam. Aí é só prazer, conversas e divertimento.

A questão é não deixar a distância física superar a espiritual. A síndrome do ninho vazio pode e deve ser superada com pequenas coisas, mensagens, telefonemas, curtidas e tweetadas. No nosso tempo, em que saíamos de casa, eram só cartinhas e telegramas – telefonemas? muito raramente. Mesmo assim, as distâncias eram superáveis.
Todos os filhos deixam um imenso vazio quando saem de casa. Está certo que são vazios diferentes, moldados pelo estilo de cada um nesta vida. Aquele mais conversador, expansivo, deixa um buraco que haja saudade para preenche-lo. O mais tímido, aquele caladão, fechado no seu mundinho, quando nos deixa parece que ficou um buraco negro em seu lugar, no meio da sala. Estranho, né?
Mais como diria o mestre Guimarães Rosa: É vida que segue! E quem não a vive pode ser atropelado pelas idiossincrasias que nos cercam. Para superá-las, um pouco de poesia e música ajuda bastante. Vinícius de Moraes e Chico Buarque, então...


Poema Enjoadinho
Vinícius de Moraes

Filhos...  Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos?  Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!



3 comentários:

  1. Choro ou não choro? Eis a questão. Nestas horas melhor mudar os companheiros.

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  2. É bem isso mesmo, Zeca. Ótimo texto.

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  3. O que nos conforta companheiro é saber que eles sentem a mesma coisa...rs,rs,rs

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