domingo, 17 de julho de 2016

Brasília dos ipês, sinfonias, queimadas e poesias...



Viver em Brasília nesta época do ano é ao mesmo tempo triste e belo. Sofrível porque insuportável a secura do ar, a ausência do verde, queimadas e doenças respiratória e viroses de toda a natureza. Mas, o alvorecer, o pôr do sol e a beleza do ipê de junho até o final do ano é de enlouquecer até os mais insensíveis cidadãos que habitam ou transitam por esta cidade. A passagem das flores roxas, amarelas, rosas, brancas e, em dezembro, de novo o ipê amarelo a dar adeus à seca.


Os fotógrafos e cinegrafistas amam esta época do ano em Brasília. A beleza das imagens é algo de dar inveja a morador de qualquer outra cidade do mundo. Os bombeiros e o pessoal da Defesa Civil não enxergam tanto prazer assim no horizonte, coberto de fumaça, poeira, e labaredas que resistem a horas e horas de esforços para debanda-las.
E o ipê sempre reaparece, pomposo, gerando, flores que desafiam as queimadas, a secura, as doenças dos olhos e as insensibilidades da alma. Os poetas amam essa época do ano; os plantonistas de pronto-socorro e hospitais, muito pelo contrário. Pais e mães, com crianças no colo, sofrem nas filas dos respiradores.



Mas, quando, a poeira se dissipa e a fumaça dos incêndios desaparece do céu, a beleza do alvorecer e do entardecer com as nuvens coloridas e o amarelo pleno do pôr do sol é poesia pura. Vinícius e Tom Jobim registraram essa beleza, em Sinfonia da Alvorada.
Minha homenagem a Brasília dessa época do ano vai por meio dos ipês, essa árvore forte, resistente, que exala beleza e sabedoria.


Árvore sagrada
   José Carlos Camapum Barroso

 Ipê, em pé, retorcido,
Curvas exuberantes.
Árvore cascuda
Que não se curva
Ao vento, ao tempo...
Nem aos tormentos
Da nova civilização.
Casco que se verga
A fazer zumbir
Flechas certeiras
De civilizações antigas,
Verdadeiras...

Galho que se curva
À beleza da flor,
Do amarelo-amor
Roxo-vinho,
Branco-ternura,
Rosa-delicado...

Ipê-Mirim, gigante
Pela própria natureza...
Pronto Paratudo,
Para que possam ver
A Tabebuia sagrada,
Nodosa e obscura
Que nos viu nascer.

Pau-d’arco e flecha
A erguer moradia,
A deslizar pelos rios,
Sonhos e fantasias...
Árvore da cidade,
No campo e cerrado,
Abraçada ao mundo
Que nos viu crescer.

Árvore centenária
Que não veremos morrer.




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