Eu, à frente, Juarez, Iracema com Mozart no colo |
Quando eu nasci um anjo da guarda operou verdadeiro milagre. Deus
decidiu no último minuto a meu favor, passou uma mensagem pro anjinho, mais ou
menos assim: deixa esse menino ir ao mundo, ele tem cara e jeito de gente boa!
Então, como hoje é o dia do Anjo da Guarda, quero deixar aqui registrado meu
agradecimento e farei uma oração em louvor ao meu protetor.
Conta minha mãe Iracema que quando nasci vi a morte de perto. Tanto que
o médico achou por bem me batizar logo ali, com o nome de José. Passado o
susto, já no quarto, quando ficou sabendo que o seu primogênito, teimosamente,
iria sobreviver, dona Ira – como a chamamos carinhosamente – resolveu manter o
nome escolhido pelo médico, acrescentando Carlos, e abandonando a sua própria
escolha, que era a de me dar a graça de Rui.
Na primeira metade da década de 1950, os recursos médicos e hospitalares
em Uruaçu eram escassos. Meu avô, Antônio Pereira Camapum, Seu Toim,
então resolveu que o parto daquela menina de apenas 16 anos de idade deveria
acontecer na cidade goiana de Anápolis. Não sei se teria sobrevivido se o parto
tivesse sido feito em Uruaçu; também não consigo imaginar o contrário. Sei
apenas que provavelmente não teria esse nome pomposo, universal e ao mesmo
tempo tão raro.
Acredito também que Uruaçu não é lugar para se morrer, mas sim para se
viver ampla e intensamente. Por isso mesmo, sou duplamente agradecido a vovô
Toim, que teve a ideia de mandar minha mãe pra Anápolis. Hoje, posso dizer
orgulhoso: sobrevivi em Anápolis e não morri em Uruaçu.
Luca Giordano |
Até gostaria de saber como minha mãe fez para sobreviver à penosa viagem
de Uruaçu até Anápolis. Ela é piauiense e como todo nordestino, antes de tudo,
uma mulher muito forte.
Enfrentou estrada de terra, muita poeira, buraco e costela de vaca –
pois, era julho e não chove no inverno goiano, mas fazia e faz até hoje frio em
Anápolis. Um dia inteiro de viagem... Saía-se cedo de Uruaçu e chegava-se no
final da tarde em Anápolis. Quase doze horas na boleia do caminhão de Seu
Joaquim Caetano, sacolejando, passando calor e respirando poeira...
Dona Iracema também sobreviveu ao parto
“natural”, que de natural não teve nada. Uma criança de 4,3 quilos, bem
distribuídos por 52 centímetros faz qualquer parto deixar de ser normal. Tanto
que doutor Oscar, o ginecologista, pediu apoio para o experiente doutor Bonfim,
na tradicional Casa de Saúde Santa Lurdes de Anápolis. Ambos lutaram para tirar
a criança com vida e não deixar a mãe morrer. Tive convulsões, fiquei roxo, mas
engatei uma segunda e rompi lá na frente. Filho de nordestinos é assim
mesmo, antes de tudo, um forte.
Os médicos venceram e eu ganhei na sorte grande. Sobrevivi e minha
mãe, também. Melhor que ganhar um prêmio acumulado da Mega Sena. Acho que é por
isso que eu jogo e não consigo acertar nada na Loteria. Ninguém tem uma sorte
tão grande duas vezes...
Nasci no meio da tarde. Anápolis faz até um friozinho gostoso no mês de
julho. Brasília, nessa época, também, que até me faz lembrar aquele dia de
inverno... Queria mesmo estar em Anápolis, nascendo novamente, sobrevivendo
mais uma vez, curtindo aquele tempinho ameno de julho... Sem sofrimentos para
Iracema, claro, uma criança de 16 anos que então se tornava mãe...
Queria estar lá de novo, olhar bem nos olhos daquele anjo da guarda,
enviado por Deus, e dizer agradecido: Valeu, amigo!
Viva o anjo da guarda e aqueles que nos guardam de todos os males nessa
temporária existência. Amém.
Maravilhosa história Primo. Aqueles que receberam o sopro e proteção de um anjo da guarda, sabem reconhecer o seu valor.
ResponderExcluirSua história só aumenta minha admiração e carinho por você e por tia Iracema.
Saudações
José Camapum de Carvalho
Valeu, Zé, obrigado pelas palavras gentis e pela participação aqui no blog.
ExcluirQue História bonita Zé Carlos. Sempre acreditei em Anjos da Guarda, Graças às orações e cuidados de minha Mãe. Que bom que vc tem vivido pra dar Orgulho ao Anjo e nossa Querida Tia Iracema.
ResponderExcluirObrigado, Alessandro, pelo carinho e pela participação aqui no blog.
ResponderExcluirValeu!!!
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