quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Morre Elza Soares e a cultura brasileira fica mais pobre


Um dia muito triste para o mundo cultural brasileiro, mais especificamente para a música. Morreu, na tarde desta terça-feira, de causas naturais, a cantora Elza Soares, um dos maiores ícones de toda a história musical do Brasil. Foi considerada, com muita justiça e razão, a "voz do milênio" em uma votação de 1999 da rádio BBC de Londres.

Carioca da gema, ela nasceu em junho de 1930, no Rio de Janeiro. Filha de operário e lavadeira, foi criada na favela de Moça Bonita e, aos 12 anos, foi obrigada pelo pai a se casar com Antonio Soares, conhecido como Alaúde, de quem pegou o sobrenome. Aos 13, ela foi mãe pela primeira vez. Aos 15, já tinha perdido um dos filhos para a fome. Aos 21, já era viúva.

História de vida fantástica, Elza Soares sempre foi uma mulher guerreira, forte e determinada. Em nota distribuída à imprensa, sua assessoria enfatizou:

"Teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo."

Faz parte da sua vida a intensa relação que teve com Mané Garrincha, um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro e mundial. A artista morreu no dia em que se completam 39 anos da morte do Garrincha, com quem foi casada de 1966 até 1982. Eles tiveram um filho, Garrinchinha, que morreu em 1986, em um acidente de carro.


Ex-faxineira e empregada doméstica, Elza Soares sofreu com o preconceito racial. Chegou a atacada por ser negra, por ser mulher, por ser pobre e por ter se casado com Mané Garrincha, sua paixão. Depois de perder o pai, perdeu de forma trágica a mãe, o marido e um filho. Caiu em depressão, mas foi a música, sua veia artística que a levantou e trouxe de volta para vida.

O tempo talhou a voz e a alma e a canção deixou de ser doce como era antes. Nos últimos trabalhos realizados – A Mulher do Fim do Mundo e em Deus é Mulher – quem canta é a Elza de um novo tempo.


Elza fez sucesso interpretando clássicos como Se Acaso Você Chegasse, cuja gravação lançou em 1960. Seu disco mais recente, Planeta Fome, é de 2019. Em 2020, Elza foi homenageada como enredo da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Ela chegou a ser intérprete de sambas da agremiação.

A expressão era uma alusão ao episódio em que foi constrangida por Ary Barroso no programa de calouros que participou nos anos 50. "De que planeta você vem, menina?", ele disse. E ela respondeu: "Do mesmo planeta que você, seu Ary. Eu venho do Planeta Fome."

Uma declaração dada pela cantora para a imprensa resume bem o que ela pensava de si e o que de fato foi na vida artista:

"Eu sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante", comparava Elza. "Eu acompanho o tempo, eu não estou quadrada, não tem essa de ficar paradinha aqui não. O negócio é caminhar. Eu caminho sempre junto com o tempo."

RIP, Elza Soares! Nós continuaremos te amando e admirando seu extraordinário talento. Seguem duas gravações que são bem representativas do universo musical dessa incomparável artista.

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