sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Thiago de Mello morre, faz escuro mas eu canto


Morreu na madrugada desta sexta-feira (14), em sua casa, na cidade de Manaus, de causas naturais, o poeta Thiago de Mello. Uma das vozes mais afinadas, intensas e contundentes contra as injustiças sociais, a violência, a opressão e a degradação do meio ambiente no planeta Terra, que “flutua hoje no espaço como um pássaro em extinção”, como ele dizia.

Fez a cabeça da nossa geração de universitários dos anos de 1970. Mas, infelizmente, sempre houve preconceito e incompreensão acerca da sua obra, tão vasta, sensível e acima de tudo humanista. Muitos tentaram rotular Thiago de Mello como um poeta dos versos engajados, tomados por uma ideologia e excessivamente políticos. Coisa de quem não conheceu verdadeiramente a obra desse grande poeta.

Foi reconhecido internacionalmente como um dos grandes autores da literatura regional. Escreveu um clássico da literatura brasileira, que é o poema Os Estatutos do Homem, escrito em abril de 1964, quando Thiago de Mello era adido cultural da embaixada do Brasil no Chile e amigo de Pablo Neruda.


Nascido em 1926 em Barreirinha, no Amazonas, ele sempre foi um defensor da natureza. "Para fazer algo em defesa da humanidade é preciso, em primeiro lugar, que cada um de nós tente persuadir pelo menos um companheiro, que cada um de nós faça qualquer coisa por este planeta Terra tão degradado", afirmou, durante a Feira Internacional do Livro de Havana, em 2005.

A 34ª Bienal de São Paulo fez, em setembro do ano passado, uma bela homenagem a Thiago de Mello. “Faz escuro mas eu canto”, esse ícone da resistência à ditadura militar, foi o tema daquela bienal. O verso faz parte de Madrugada Camponesa, poema, de 1965, que também ganhou uma versão musical por meio de uma parceria entre Thiago de Mello e o músico Monsueto Menezes, no mesmo ano em que foi lançado.


Na década de 1980, tivemos a oportunidade de assistir a um recital do poeta, em Brasília, no Teatro Galpão, na avenida W3 Sul, logo depois de Thiago retornar ao Brasil, em 1978, quando seu nome já era conhecido internacionalmente por lutar pelos direitos humanos, ecologia e a paz mundial. Uma figura mansa, suave, vestido com sua bata branca, só emanava beleza e amor pelas coisas da vida, a natureza e o ser humano.

O poeta é membro da Academia Amazonense de Letras e recebeu o destaque de Personalidade Literária do Prêmio Jabuti, em 2018. Seu corpo será velado no Palácio Rio Negro, no centro histórico de Manaus. O governo do estado decretou luto de três dias.

Descanse em paz, grande poeta. Seguiremos cantando sempre que a escuridão ameaçar a nossa existência.


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