O
que comemorar neste 8 de março de 2024, carimbado no
calendário como Dia Internacional da Mulher, num país em que quatro mulheres
morreram a cada dia, no ano passado, vítima de feminicídio? Ao todo, mais de 10,5
mil mulheres foram mortas de 2015 (quando a lei sobre o tema foi criada) a 2023
por motivos relacionados à sua condição de gênero.
O
que comemorar se, em 2023, um feminicídio ocorreu a
cada seis horas, totalizando no ano 1.453 mulheres assassinadas? Levantamento
do Instituto Sou da Paz mostra que uma a cada dez mulheres que foram
assassinadas no Brasil foi vítima de arma de fogo. O agressor, em geral, é
alguém próximo à vítima. As mulheres negras são 7 de cada 10 mortas.
O
que comemorar quando os dados de feminicídios em alta em
vez de aproximar afasta o Brasil cada vez mais da igualdade de gênero?
O
que comemorar quando diversos estudos apontam a
persistente desigualdade de gênero no mercado de trabalho? A taxa de
participação das mulheres, no último trimestre de 2012 a 2022, em nosso país,
foi de 52,7%, contra um percentual de participação dos homens de 72,1%; taxa de
desemprego de 9,8% contra 6,5%; e a evolução de rendimento habitual de todos os
trabalhos, de R$ 2.416 contra R$ 3099.
O
que comemorar ante a constatação de que, em 2023, no
Brasil, 692 crianças ou adolescentes perderam suas mães para a violência contra
as mulheres? Esse número é referente a 400, ou 23%, dos 1.706 casos de
feminicídios identificados. Pasmem: em 2,4% dos casos, as mulheres estavam grávidas.
Não
dá para comemorar o Dia Internacional da Mulher ao
ficarmos sabendo, estarrecidos, que a Assembleia Legislativa de Santa Catarina
está realizando, hoje, o 1º Congresso Antifeminista, em Florianópolis (SC). Três
mulheres estão à frente dessa aberração. Anotem o nome delas: Pathy Silva,
Pietra Bertolazzi e Cris Correa.
Felizmente,
graças ao espírito de luta, a capacidade, inteligência e sensibilidade de
milhões de mulheres, ao longo de décadas, ocorreram avanços, conquistas. Ainda
são poucas, mas devem e precisam ser comemoradas, até para que sejam
valorizadas e ampliadas nos anos vindouros.
Valorizar
essas conquistas é, também, uma forma de homenagear as 129 mulheres que foram
mortas pela repressão ao movimento grevista de uma fábrica, em Nova Iorque, nos
Estados Unidos. Foi ali que tudo começou, no ano de 1857, no dia 8 de março. Elas
lutavam pela redução da jornada de trabalho, então de 16 horas, para 10 horas
diárias, equiparação de salários com os homens, que chegavam a ganhar três
vezes mais do que as mulheres, e tratamento digno no ambiente de trabalho.
Nesse
contexto, há, sim, o que se comemorar. Presentear as
mulheres para que elas continuem firmes, determinadas em suas lutas diárias.
Dar flores para as mulheres, em todas as datas, e não somente no dia de hoje, é,
sim, uma forma de reverenciá-las. Combina com a beleza, o encanto, o charme das
mulheres. E, ao mesmo tempo, serve para lembrar que toda a beleza delas brota e floresce entre espinhos.
Beijos no coração! Um feliz e comemorativo Dia Internacional das Mulheres.
Excelente matéria Zeca. Infelizmente nossa realidade.
ResponderExcluirObrigado, amiga
ExcluirExcelente matéria Zecabarroso.
ResponderExcluirObrigado, Lastênia, pela participação aqui no blog.
ExcluirEu não sabia desse movimento anti feminista!!! Incrível!!
ExcluirPois é, mais uma aberração neste tempo tão sombrio...
ExcluirVerdade de meu amigo, sua fala sempre coerente e reflexiva!
ResponderExcluirObrigado pelas palavras carinhosas e a participação no blog.
ExcluirMatéria oportuna. Lindo e triste Brasil. Parabéns! 😘
ResponderExcluirObrigado! Infelizmente, vivemos um momento muito triste da nossa história.
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