sábado, 3 de agosto de 2024

A violão dado não se olha as cordas

Minha mãe disse “como é assustador ter um filho com 70 anos de idade”! Retruquei, na hora: "não é tanto assim, não, mãe... a senhora vai dizer a mesma coisa quando eu fizer 100 anos". Então, é melhor deixar o dito pelo não dito...

E isso foi dito por que, no sábado passado (27/7), ela presenteou-me com um belo violão Yamaha, custeado pelos irmãos, e muito bem escolhido pela sobrinha Tatiana Barroso. Presente pelo 9 de julho, data em que entrei para o time dos setentões.

Peguei o violão, botei de baixo do braço, e pensei com meus botões: agora, lascou; vou ter que aprender a tocar esse instrumento. Lembrei de Kubitschek – apelido do querido amigo Manoel Fernandes Teixeira – exímio tocador de violão, filho do mestre Plínio, que foi o melhor cavaquinho do estado de Goiás, mas, também, um excelente violonista. Cheguei aos tempos atuais, lembrando que esses dois artistas do mundo da música nos deixaram o Rômulo – irmão do Check e filho do Plínio – que está, até hoje, dedilhando o instrumento na nossa querida Uruaçu, e preservando a cultura musical da região.

Lembrei-me, claro, dos amigos Iliomar Campos e Jorge Fernandes, dois parceiros de tantos anos, meses, dias, noites e madrugadas de tantas aventuras e venturas em busca da felicidade maior que só o mundo da música nos proporciona. Dois grandes violonistas, cada um no seu estilo e modo de tocar próprios: um mais próximo do ritmo, outro mais chegado à beleza da melodia.

Pensei também no amigo Hamilton Almeida, jornalista, colega de trabalho no Jornal de Brasília, durante anos, e que nos deixou muito mais cedo do que o combinado. Com ele, saíamos, após o fechamento do jornal, pra relaxar, divertir, tomar uma bem gelada e, vez em quando, quase sempre, tocar um violão e cantar belas músicas, por que, afinal de contas, ninguém é de ferro...

Claro, como não podia ser diferente, lembrei de Nélio Bastos, que não toca um acorde no violão, mas, tira todos os tons e faz todos os sons de forma maravilhosa com a voz. Aí, lascou mesmo... Ao lembrar do Nélio, pensei com meus botões: vou ter que tocar e cantar ao mesmo tempo!?! Fui.

Segui com o violão debaixo do braço e imaginei... em qualquer esquina eu paro, em qualquer butiquim, eu entro, e se houver motivo... Desviei o caminho, carregando o peso do pinho, a memória forte e grandiosa dessa gente toda, entrei resoluto numa escola de música e me matriculei.

Agora, seja o que Deus quiser. Se nada for adiante, ou tudo ficar como dantes, tenho uma lista enorme de elementos para colocar a responsabilidade e ajustar a desculpa. A culpa nunca será do tocador, muito menos do aprendiz. Bem menos ainda será do professor. Ou, menos ainda do instrumento.

Afinal, a violão dado não se olha as cordas, se são de aço ou de nylon. É só uma questão de afinação. Encontrar o tempo certo e o compasso adequado.

Ademã que eu vou em frente! 

11 comentários:

  1. Parabéns! A escola vai ser ótimo pra vc

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  2. Jorge Luiz de Carvalho3 de agosto de 2024 às 19:08

    Grande Zé. Estamos morrendo de saudades de tudo isso que você descreveu com sua verve/poesia tão especial. Voce será um craque do violão como já é das palavras. Nesse momento estou ouvindo Tony Bennett e Lady Gaga cantando Do I love you e lembrando com um amor imenso sobre tudo que voce descreveu
    (So faltou citar a Dalva)
    Um beijo da Te e do Jorge

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  3. Muita saudade, também, parceiro. Verdade, Dalvinha, sempre presente. E o saudoso Rubão... quanta falta faz. Muitos outros... essas memórias dão um livro. Na abertura das Olimpíadas, comentei como é belo o canto da Lady Gaga. Tony Bennett, genial. Abraço carinhoso.

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  4. Zé Carlos, não desista, olha eu, tenho um pandeiro, um violão, uma gaita, um teclado, uma flauta boliviana e por fim comprei um violino, tenho fé em Deus que vou aprender pelo menos um. Ainda não desisti. Com a mãe que tive, conto que dos seus dons musicais, tenho herdado algo, nem que seja uma vontade passiva de tocar.
    Gostei de suas palavras, são palavras misturadas com poesias.
    Um grande abraço primo, um abraço apertado em tia Iracema.😘

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    1. Obrigado, primo. Pena que o blog não registrou seu nome. Estou aqui matutando para reconhecer. A música é tudo nessa vida. Abraço forte.

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    2. Descobri que o comentário é da querida prima Solange Camapum, filha de tia Zizi, musicista e professora de muito talento (in memoriam). Ela me disse que esta se aposentando e vai aprender pelo menos um dos instrumentos que tem em casa. Com certeza, prima, vocês têm dom para música. Vai aprender, sim. Beijos no coração.

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  5. Bom domingo, por favor , só querida Uruaçu!!! É a grande e queridissima Uruaçu.

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  6. Que beleza de crônica, o violão rendeu a fala de bons amigos, e belas lembrancas da querida Uruaçu, quanta saudade temos do que vivemos lá. Sua irmã mais velha.

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    1. Obrigado, Jurinha. Você não é a minha irmã mais velha, mas, sim, uma das irmãs mais novas. Beijos no coração.

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