“Envelhecer
é muito triste!”, ponderou minha mãe Iracema no trajeto da casa de Celiana,
minha irmã caçula, com quem ela mora, até a da mana Juracema, onde iria passar
o fim de semana. No longo caminho, do condomínio Verde, no Jardim Botânico, até
o Entre Lagos, na região do Paranoá, coloquei para tocar um playlist de
músicas românticas, sentimentais, na maioria interpretadas por cantoras e
cantores das antigas.
Fez
esse comentário ao ouvir uma música que falava justamente sobre as dificuldades
trazidas e ampliadas pelo passar dos anos. Ponderei que só vive muito quem vive
bem, ou, em outras palavras, quem procura viver prazerosamente, com alegria e
perfeita interação com as coisas do mundo e com as pessoas. Exceção, claro, do
acometimento de doenças graves que ceifam a vida, em alguns casos, de forma
dolorosa, sofrida, e dos acidentes fatais, que levam as pessoas antes do combinado,
muitas vezes com tenra idade.
Preciso
destacar que ela esteve feliz, ao longo de todo trajeto, com o repertório
musical que a fazia viajar no tempo ao ouvir as vozes de Nelson Gonçalves, Dolores
Duran, Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso...
Lá
pelas tantas observou que a cantora que ela mais apreciava sempre foi Nora Ney.
Interrompi para dizer, entusiasmado: “ela está no playlist, vai aparecer
a qualquer momento”. Não demorou dez minutos. Entrou a voz bela e penetrante da
cantora, dizendo “ninguém me ama/ ninguém me quer/ ninguém me chama/ de meu amor”.
Ela, radiante de alegria, fez vários comentários. “Essa música é linda demais, e ela canta maravilhosamente bem”, ponderou. E para minha surpresa disse que seu irmão Batista Barroso, meu padrinho de batismo, de saudosa memória, “adorava cantar essa música!”.
Sucederam-se vários outros momentos mágicos ao longo do caminho que acabou não sendo tão demorado assim. Outras músicas, até mesmo de cantores mais novos, como a bela Borbulhas de Amor, versão do poeta Ferreira Gullar, cantada por Raimundo Fagner. Bastaram os primeiros acordes para ela relembrar, cheia de uma felicidade indescritível: “dancei muito essa música nas festas da terceira idade”...
Outros
momentos ainda vieram, como ao surgir a voz suave, melodiosa e romântica de
Moacir Franco. “Só me vem à memória minha cunhada Vandira Barroso, que adorava
as músicas do Moacir”, relembrou na hora. Também ao indagar, plena de convicção,
quando surgiram os versos de “sua ilusão entra em campo, no estádio vazio”: “ele fez em homenagem a Garrincha, né?”.
Justamente,
Garrincha, que viveu e nos deu tantas alegrias nessa nossa existência. Mané,
que com as pernas tortas, driblou tantos adversários e tantas adversidades na
vida, sempre com alegria. Essa é a receita para se viver bem: buscar e
compartilhar alegrias, felicidades, interagindo sempre e mantendo acesa a chama
que alimenta os sonhos. A vida é longa sempre quando se vive bem no intervalo
de tempo em que estivermos nessa dimensão.
Ao
final do trajeto, minha mãe, que está com 86 anos, perdeu boa parte da visão e
convive com o Mal de Parkinson, ressalvou: “é, você tá certo, a vida tem muitas
coisas boas para se viver”.
Quanta coisa aprendi num trajeto de pouco menos de uma hora de duração. Imaginem o que minha mãe já aprendeu em quase 87 anos de existência...
Você nos emociona sempre com suas palavras tio querido!
ResponderExcluirObrigado, querida, pelas palavras carinhosas e participação aqui no blog.
ExcluirMuito bonito o relato. Viver é uma lição de vida.
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirMaravilhosa percepção Zé, a gente sente o tempo ao mesmo tempo reconhece o passado e valoriza o presente!
ResponderExcluirBoa observação. É isso mesmo. Obrigado.
ExcluirQue bela descrição de um trajeto. Parabéns amigo!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirEla sempre fala da saudade de Uruaçu. Aproveite esses momentos especiais. A convivência com nossas mães deve ser apreciada com muito amor.
ResponderExcluirSim, isso é muito importante nessa nossa vida tão passageira. Obrigado!
ExcluirQuerida e amada Iracema. Quantas lembranças, juntamente com minha mãezinha e o querido Batista, a pesar de bem mais nova que eles, curti muito com eles. Sinto saudades deste tempo. Amo vc Iracema. Desejo muita saúde e vida longa. Um bjo no coração.
ResponderExcluirMuito obrigado pelas palavras carinhosas ❤️ Minha mãe ficou feliz e pediu pra agradecer suas palavras.
ExcluirMuito bom esses momentos de convivência entre mãe e filho. É sentir de perto o amor do filho. Da mãe nem precisa dizer porque é amor incondicional. E ouvindo essas músicas das antigas não tem melhor.
ResponderExcluirTem razão. Um momento maravilhoso, sem igual. Obrigado pela participação por aqui.🙏
ResponderExcluirQue maravilha,são esses momentos que fica guardado em nossas memórias.Saudades tia Iracema.
ResponderExcluirTambém acho, momentos que ficam pra sempre. Presente de Deus. Obrigado.
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