quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Pra não dizer que não falei de Geraldo Vandré

Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, compositor, cantor, poeta, advogado, conhecido por Geraldo Vandré, faz, hoje (12/9), 88 anos de idade. Uma figura polêmica, cercada de disse-que-me-disse, Vandré – que herdou esse sobrenome do pai José Vandregíselo – é antes e acima de tudo uma fonte inesgotável de inspiração musical para a nossa geração.

Geraldo começou sua carreira musical abraçado ao lirismo de Carlos Lyra, com quem compôs “Quem quiser encontrar o amor” e “Aruanda”, também na sua formação religiosa, apoiada no amor e na solidariedade, em canções como “Fica mal com Deus quem não sabe amar” e “Menino da Laranja”, que estão no primeiro disco de 1964, ao lado da clássica “Berimbau”.

Esse é Geraldo Vandré de corpo e alma. Mais ligado às coisas espirituais do que às materiais. É esse artista que vai compor, cantar e enlouquecer o público, em 1966, no Festival da Canção, com a belíssima “Disparada”, composta com Theo de Barros, um hino aos sonhos e um louvor à insubmissão, em versos como “posso não lhe agradar/ aprendi a dizer não/ ver a morte sem chorar”, ou em “os sonhos que fui sonhando/ as visões se clareando/ até que um dia acordei”.

A trajetória artística de Vandré, em tempos de festivais, repressão política e cultural, vai desaguar em “Pra não dizer que não falei de flores” (“Caminhando”), em 1968. Uma canção que é abraçada pelos movimentos estudantis na luta contra a ditadura militar e vira um hino de protesto. Aqui também Geraldo está ligado às suas raízes, ao ideal de solidariedade e à posição sempre firme e forte contra a submissão: “Vem vamos embora/ que esperar não é saber/ quem sabe faz a hora/ não espera acontecer”.

São dois momentos distintos dos apaixonantes e apaixonados festivais da canção. Em 1966, a Banda foi escolhida em primeiro lugar, mas Chico Buarque não aceitou o prêmio, alegando que a canção Disparada era melhor que a sua. Num decisão política, dividiram o prêmio entre os dois compositores. Em 1968, Caminhando ficou em segundo lugar, perdendo a primeira colocação para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim. Mesmo sendo infinitamente superior do ponto de vista musical, Sabiá foi vaiada pelo público que cantou “Pra não dizer que não falei das flores” a todos os pulmões, naquele momento, naquele local, nas ruas e praças, por anos e décadas.

O último capítulo da carreira musical de Vandré é a canção “Das Terras de Benvirá”. Uma obra sobremaneira poética, que explora temas como saudade, amor e esperança. É como se Geraldo, depois de um longo e tenebroso inverno, desse um mergulho vertical, profundo e certeiro em busca de suas raízes. Antes de abandonar por completo o mundo da música, tinha que voltar às suas origens, mostrá-las ao mundo e dizer em alto e bom som: este sou eu, o resto são meros efeitos colaterais.

Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, o nosso querido e admirado Geraldo Vandré, faz 88 anos. Nós temos muito o que comemorar por ter tido esse talento como inspiração para o nosso universo musical.

Vandré é poeta, um ótimo músico e um eterno cantador. Obrigado, de coração.



5 comentários:

  1. Parabéns Vander. Temos muito que comemorar a Existência de Geraldo em nossa Geração.

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    1. Muito a comemorar, sim, concordo. E obrigado pela participação aqui no blog.

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  2. Falou exatamente o que é, caro amigo. Me intrigava essa diferenciação sobre os estilos dele, mas eu não observava os períodos.
    Adelson

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  3. Do amigo, poeta, escritor e jornalista Luís Turiba, recebi, pelo WhatsApp, um interessante comentário sobre este post: "Muito bom, Zé Carlos. Vandré está na memória da minha geração. Eu sou daqueles que fui ao Maracanã cantar e torcer por "Pra não dizer que não falei de flores', ao mesmo tempo que vaiávamos a lírica "Vou voltar", de Tom e Chico Buarque.
    Uma faixa que levantamos na arquibancada dizia: "Em terra de carcará, sabiá não canta'
    Na realidade o título da canção era "Sabiá".
    Parabéns!

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