terça-feira, 12 de março de 2024

Paulo Pestana e as razões de existirmos

O que será de nós, pobres mortais, amigos e parceiros de tantas lutas e jornadas a partir desta semana, que começou com uma segunda-feira de sabor amargo, travoso e travado, depois da inacreditável notícia do falecimento do jornalista, escritor, cronista e crítico musical Paulo Pestana, na madrugada do interminável 11 de março de 2024?

Perguntar não ofende. Mas, há certas perguntas que pairam no ar com o peso de nuvens de chumbo, carregadas pelas águas de março... e que são verdadeiros desafios à nossa frágil razão de existir.

Afinal, existirmos, a que será que se destina...? Pergunta o compositor Caetano Veloso, em sua magistral Cajuína. Um questionamento poético, sensível, que nos coloca em plena reflexão, às vezes perturbadora, do verdadeiro sentido e finalidade da existência, sendo a vida tão efêmera.

Há razões de sobra, no plano divino e dos homens, para a existência de uma figura tão ímpar como a de Paulo Pestana, em sua curta mas profícua passagem por essas paradas, nas quais tivemos o privilégio de estar em boa parte dos seus pouco mais de 66 anos.

Razões de existência não apenas para seus familiares, amigos e conhecidos. Também para as dezenas de pessoas que foram por ele ajudadas de alguma forma e em algum momento. Para milhares de leitores de seus textos impecáveis, crônicas deslumbrantes pelas quais viajávamos todos por uma Brasília fantástica, esmiuçada em seu dia a dia, no mundo das artes e da cultura.

Amanhecemos nesta segunda-feira com a sensação estranha, sentindo-nos menores, vivendo em um mundo apertado, insosso, estranho, desarrumado... Todo mundo perguntando para todo mundo se aquilo tudo era verdade, como se ninguém acreditasse em ninguém, torcendo e rezando para que nada estivesse acontecendo. Não passasse de um pesadelo.

Paulo Pestana chegou em Brasília no mesmo ano que por aqui aportei. Ambos trazendo na mochila muitos sonhos e um caminhão de esperanças. Era 1973, ano de uma década tão intensa no plano político e cultural. Fomos nos conhecendo e nos aproximando, cada vez mais, graças aos jornalismo, a paixão pela música e o gosto pelas crônicas. Aproximação essa que foi sempre regada por momentos boêmios no Butiquim do Tuim (Quituart, do Lago Norte), por algumas festas em comum e, durante alguns anos, por trabalho, também, que ninguém é de ferro...

Foram muitas palavras jogadas fora. E outras tantas agasalhadas, com muito carinho e respeito, na mente, no coração e na alma. Palavras sábias, equilibradas, marcadas pela leveza e bom-humor. É o que importa nessa vida tão efêmera: amizade.

Quando é assim, nesse tom e nessa harmonia musical, existir vale a pena. Mesmo quando, no meio da jornada, alguns dos amigos nos deixem por um lugar desconhecido, cheio de mistérios, mas onde encontrarão outros tantos companheiros que se foram antes do combinado.

RIP, Paulo Pestana! Inté a próxima. 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Há o que comemorar neste Dia Internacional da Mulher?

O que comemorar neste 8 de março de 2024, carimbado no calendário como Dia Internacional da Mulher, num país em que quatro mulheres morreram a cada dia, no ano passado, vítima de feminicídio? Ao todo, mais de 10,5 mil mulheres foram mortas de 2015 (quando a lei sobre o tema foi criada) a 2023 por motivos relacionados à sua condição de gênero.

O que comemorar se, em 2023, um feminicídio ocorreu a cada seis horas, totalizando no ano 1.453 mulheres assassinadas? Levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que uma a cada dez mulheres que foram assassinadas no Brasil foi vítima de arma de fogo. O agressor, em geral, é alguém próximo à vítima. As mulheres negras são 7 de cada 10 mortas.

O que comemorar quando os dados de feminicídios em alta em vez de aproximar afasta o Brasil cada vez mais da igualdade de gênero?

O que comemorar quando diversos estudos apontam a persistente desigualdade de gênero no mercado de trabalho? A taxa de participação das mulheres, no último trimestre de 2012 a 2022, em nosso país, foi de 52,7%, contra um percentual de participação dos homens de 72,1%; taxa de desemprego de 9,8% contra 6,5%; e a evolução de rendimento habitual de todos os trabalhos, de R$ 2.416 contra R$ 3099.

O que comemorar ante a constatação de que, em 2023, no Brasil, 692 crianças ou adolescentes perderam suas mães para a violência contra as mulheres? Esse número é referente a 400, ou 23%, dos 1.706 casos de feminicídios identificados. Pasmem: em 2,4% dos casos, as mulheres estavam grávidas.

Não dá para comemorar o Dia Internacional da Mulher ao ficarmos sabendo, estarrecidos, que a Assembleia Legislativa de Santa Catarina está realizando, hoje, o 1º Congresso Antifeminista, em Florianópolis (SC). Três mulheres estão à frente dessa aberração. Anotem o nome delas: Pathy Silva, Pietra Bertolazzi e Cris Correa.

Felizmente, graças ao espírito de luta, a capacidade, inteligência e sensibilidade de milhões de mulheres, ao longo de décadas, ocorreram avanços, conquistas. Ainda são poucas, mas devem e precisam ser comemoradas, até para que sejam valorizadas e ampliadas nos anos vindouros.

Valorizar essas conquistas é, também, uma forma de homenagear as 129 mulheres que foram mortas pela repressão ao movimento grevista de uma fábrica, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Foi ali que tudo começou, no ano de 1857, no dia 8 de março. Elas lutavam pela redução da jornada de trabalho, então de 16 horas, para 10 horas diárias, equiparação de salários com os homens, que chegavam a ganhar três vezes mais do que as mulheres, e tratamento digno no ambiente de trabalho.

Nesse contexto, há, sim, o que se comemorar. Presentear as mulheres para que elas continuem firmes, determinadas em suas lutas diárias. Dar flores para as mulheres, em todas as datas, e não somente no dia de hoje, é, sim, uma forma de reverenciá-las. Combina com a beleza, o encanto, o charme das mulheres. E, ao mesmo tempo, serve para lembrar que toda a beleza delas brota e floresce entre espinhos.

Beijos no coração! Um feliz e comemorativo Dia Internacional das Mulheres.


domingo, 25 de fevereiro de 2024

Documentário "A Noite que Mudou o Pop" é imperdível

 

Um dos mais belos e interessantes filmes-documentários já realizados está “em cartaz” no Netflix. Trata-se de A Noite que Mudou o Pop, de Bao Nguyen, sobre a histórica gravação de We Are the World, criada no projeto USA For Africa, que em 1985 arrecadou dinheiro para combater a fome no continente africano.

Tudo começou quando o agente Ken Krager foi procurado para tocar o projeto por Harry Belafonte, ator, cantor e ativista de direitos civis. A ideia era arrecadar dinheiro para amenizar o sofrimento de milhões de mulheres e crianças na África.

O ponto de partida foi a escolha de Lionel Ritchie para fazer o meio de campo do projeto. Logo de cara, Ritchie, também produtor do filme, convidou ninguém menos que Michael Jackson, e os dois fizeram a canção que viria a encantar o mundo e permitir uma arrecadação de fundos nunca vista na história da música.

Quem viveu o mundo da música naqueles inesquecíveis anos 1980 não pode deixar de ver essa maravilha. Principalmente pelo fato de que ele reúne os jovens de então aos grande nome dos anos 1960 e 1970, como Bob Dylan, Ray Charles, Stevie Wonders, Paul Simon, Tina Turner e tantos outros. Tudo numa noite, numa só gravação, sem a presença incomodativa de assessores e de multidão na porta do estúdio a perturbar a chegada dos ídolos.

O registro ocorreu em 24 de janeiro de 1985. Naquele dia era a festa de entrega do então muito prestigiado American Music Awards, em Los Angeles, que seria apresentado por Lionel.

Muitos dos artistas relacionados para gravar já estariam na cidade. Mesmo assim, houve percalços e algumas desistências. Bruce Springsteen fez na noite anterior um show de quase quatro horas do outro lado do país, e mesmo assim aceitou cantar. Nas gravações, ele está visivelmente exausto.

Um aspecto magistral do documentário foi a captação de reações preciosas. Bob Dylan, por exemplo, era o mais incomodado de estar ali. Além disso, sabia que cantava mal e se omitiu nos coros. Stevie Wonder e Ray Charles eram reverenciados como deuses por artistas que vendiam muito mais discos do que eles. Novatos como Cyndi Lauper e Kim Carnes não conseguiam esconder o nervosismo diante dos ídolos.

Michael Jackson mostra todo seu talento de voz e conhecimento musical, embora não tocasse nenhum instrumento. Compôs uma bela e imortal canção, em forma de hino, e teve a felicidade de encontrar os versos iniciais que marcaram a música: “We are the world/ we are the children/ We are the ones who/ make a brighter day.

Peço licença para reproduzir um trecho da crítica do jornal The New York Time, republicada no Brasil pelo Estadão:

A Noite que Mudou o Pop ganha seu título arrogante de duas maneiras. Até que alguém invente uma máquina do tempo, é a melhor maneira de ver o que foi a primeira metade da década de 1980, graças a um desfile de referências estilísticas e tecnológicas e até mesmo anacronismos: cabelos grandes, fitas cassete, cores primárias, jaquetas de beisebol de cetim, calças de couro, collants, casacos de pele, permanentes, walkie talkies e até mesmo um Rolodex. (As fitas cassete, ao contrário dos permanentes, estão de volta).

É também uma ilustração maravilhosa da velha máxima de que o show business tem a ver com relacionamentos. A sessão de We Are the World reuniu a maioria dos cantores que fizeram de 1984 “o melhor ano da música pop”, como muitos o chamaram, e se beneficiou de um conjunto único de variáveis. O filme mostra que a cadeia de ações que antecedeu aquela noite se resumiu a ligar para amigos, pedir favores e lançar a música com um amplo apelo demográfico. Veja aqui como alguns músicos talentosos e um empresário incansável organizaram um evento de gala em apenas quatro semanas.”

O ZecaBlog, sempre antenado com o mundo da cultura, não poderia deixar de destacar para seus leitores e leitoras a importância desse filme. Ele foi visto 11,9 milhões de vezes em sua primeira semana de lançamento no mês de janeiro, ficando no topo da lista de filmes em inglês da Netflix.

Pra matar a saudade, que tal o vídeo da canção...


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Quando a Poesia e a Música se encontram

Musicar um poema é acentuar-lhe as emoções, disse, certa vez, o poeta português Fernando Pessoa, um dos mais geniais da literatura mundial. Ele teve alguns de seus textos musicados, como canções-concertos de raras belezas, admirados no mundo das artes.

No Brasil, vários poemas foram musicados. Podemos citar Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Cecília Meirelles, Haroldo de Campos e, como não poderia deixar de ser lembrado, Vinícius de Moraes, o nosso “poetinha”, entre tantos outros.

O compositor e cantor Raimundo Fagner teve a sensibilidade e a ousadia de musicar o poema Fanatismo, da também portuguesa Florbela Espanca, trazendo para nossa alma a beleza infinita desses versos:

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

Música e poesia são artes que se cruzam no tempo. Sempre existiu uma vontade de conciliação dessas duas formas diferentes de comunicação e expressão. Mas, esse tema me foi despertado, no dia de hoje, ao receber, bem cedo, um poema do amigo, jornalista, poeta e escritor Maranhão Viegas.

Fez-me lembrar que, em 2011, no nascedouro deste blog, tive um poema musicado por Ocelo Mendonça, multi-instrumentista, arranjador, professor de música e membro da Orquestra Nacional do Teatro Cláudio Santoro. Ocelo gravou os instrumentos e foi acompanhado pela bela voz do cantor Leonel Laterza.

Maranhão recorda ter escrito uma poesia que virou letra de música. Ele frisa que “não pensava em música quando escrevi. Pensei em poesia. Mas a música já estava ali, desde sempre. Foi o que me disseram mais tarde Marcos Mendes e Maria Cláudia, criadores da melodia, dos arranjos… e intérpretes gentis que deram tratos ao que escrevi. Fazendo poesia virar melodia”.

Assim, os dois momentos do passado cruzaram-se no presente por mero acaso da paixão de dois jornalistas por poesia e música. Resolvi compartilhar com os amigos e amigas do ZecaBlog. Espero que apreciem e possam fazer suas considerações sobre o encontro dessas duas artes.

Beijos poéticos e musicais no coração.

Desvarios
José Carlos Camapum Barroso
 
Hoje em meu desvario
Vou perguntar aos céus
Qual será meu desafio
Na hora do último adeus
 
Vou perguntar ao tempo
Que é senhor da razão
Se amanhã o sofrimento
Será menor que a paixão
 
Vou perguntar às paredes
Se devo ouvir e calar
Palavras que matam a sede
Escondem o sentido do verbo amar
 
Não quero um novo dia
Antes d’a noite chegar
A lua tem como agonia
Os raios do sol a brilhar
 
Não quero em meu desvario
Notas de dor, compaixão
Se choro aumenta o frio;
Se canto, chega o verão
 
É noite já vem o dia
É dia já vai escurecer
Faz tempo essa agonia
Meu desvario vai adormecer...

O teu olhar e o meu
Maranhão Viegas
 
O teu olhar e o meu
veem a mesma direção
 
O teu invade o guardado
O meu já sabe que não
 
Vista de longe a paisagem
Viagem na contramão
Esfrego os olhos aflito
recorro à intuição
 
Ei, sujeito, se emende
Abra o olho, ele te mostra
O olhar que tens aí dentro
Já encontrou a resposta
 
O olho fechado é cego
O olho aberto é clarão
Pra um olho que inveja o vento
Ventania é furacão

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Carnaval Na Venda reforça alegria dos brasilienses

O Carnaval de Brasília ganha um reforço de fazer inveja às folias famosas do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. O Carnaval Na Venda, conhecido e popularizado como CarNaVenda, está de volta. Depois de suspenso pela pandemia da Covid-19, a folia volta este ano com toda força, no bar Na Venda, a partir de sábado (10/2), com apresentações para todos o gosto e aptas a aplacar qualquer desgosto.

Começa pelo som fervescente e moderno da Funqquestra, passando pela riqueza sonora, sempre alegre e irreverente do Liga Tripa, até desaguar na riqueza rítmica do show Carnaval do Brasil de Renata Jambeiro. Para encerrar a festa, em alto estilo e com vibração máxima, ninguém melhor que Dhi Ribeiro, com seu repertório e energia contagiantes.

Funqquestra - Foto de Nina Quintana

Conheço o grupo Liga Tripa desde o seu nascedouro, há 45 anos, no final da década de 1970. De lá pra cá, suas apresentações foram marcadas pela irreverência, nas ruas, com muita poesia e melodias criativas. Promete happy hour carnavalesco de muita qualidade e animação, no domingo, das 18h às 22h.

Na segunda-feira, Renata Jambeiro é garantia de encantamento com o show Carnavais do Brasil, um passeio rico e diverso pelos ritmos que marcam o carnaval brasileiro e incluem axé, frevo, maracatu, marcha-rancho e marchinha carnavalesca.

Liga Tripa - foto de Marcelo Dischinger

Dhi Ribeiro dispensa comentário. Seu talento fala mais alto. É uma artista bastante conhecida do público brasiliense. Sabe contagiar a plateia, com sua vibração máxima, muita alegria e um repertório impecável de sambas.

Em todos os dias do evento, o DJ Marcelo Luiz, que fez história no comando das pick-ups do saudoso Gate’s Pub, aquecerá o ambiente. Em sua playlist carnavalesca, músicas de todos os tempos e estilos dentro do universo do melhor carnaval do mundo!  

Renata Jambeiro - foto de Alex Pires

“Com seu estilo brasiliense, num clima de festa de entre quadra no nosso ‘Baixo Asa Sul’, o CarNaVenda valoriza a música made in Brasília, com artistas de quatro gerações”, afirma Gustavo Vasconcellos, à frente da GRV Música, Media e Entretenimento, produtora do evento.

Mais que música de primeira, o CarNaVenda proporcionará uma estrutura especial ao público, com decoração temática, área coberta, cercamento, segurança, conforto e drinks e petiscos e drinks com a qualidade reconhecida do Na Venda. Para melhor comodidade de todos, o evento será restrito a 500 pessoas por dia.

Dhi Ribeiro - foto de Patrícia Regina

Serviço:


10/02 (das 18h às 22h)
Artista: Funqquestra
Ingressos dia Funqquestra
 
11/02(das 18h às 22h)
Artista: Liga Tripa
Ingressos Liga Tripa
 
12/02 (das 18h às 22h)
Artista: Renata Jambeiro
Ingressos dia Renata Jambeiro
 
13/02 (das 18h às 22h)
Artista: Dhi Ribeiro
Ingressos dia Dhi Ribeiro
 
Valores:
Até 09/02: de R$20 a R$40 por dia (Sympla)
A partir de 10/02: de R$30 a R$60 por dia (Sympla e Na Venda)
 
Indicação etária: a partir de 18 anos
Local: CLS 411 Sul

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Dia de saudar Iemanjá e repudiar a intolerância

 

Quero ser o primeiro a saudar Iemanjá! Nem que seja ali na Prainha, de braços e coração abertos para o Lago Paranoá. Jogar flores e levar oferendas para Rainha do Mar não precisa ser em águas salgadas. Onde tem água, Iemanjá reina e aceita reverências.

Meu pedido vai para que fiquemos livres das intolerâncias, principalmente, políticas. Que Iemanjá nos livre de todo o ódio despejado contra a democracia brasileira, desaguado sobre ideais progressistas/sociais, impulsionado para ameaçar instituições democráticas e abraçar a mentira e a esquizofrenia coletiva.

Foram tempos difíceis, de exaltação ao autoritarismo, regado pelo preconceito, injúria e discriminação racial, de gênero e credo. Anos de ataques frontais e perturbadores à cultura de um modo geral, e particularmente de forma intensa àquelas de cunho popular.

Presenciamos a cultura do ódio contra divindades do candomblé, com discursos e práticas violentas de ataque aos pais e mães de santos dos terreiros. Gente que adora chutar imagens de santas – Nossa Senhora, principalmente – e varrer estátuas e quadros de representações religiosas. Pelo fim das intolerâncias, cantemos e oremos a Iemanjá.

Tenho certeza de que a Rainha do Mar atenderá nossos apelos. Façam também seus pedidos, ao ler a oração postada abaixo. Também, ao ouvirem o canto de Maria Bethânia e a belíssima interpretação ao vivo dos filhos de Dorival Caymmi: Dori, Nana e Danilo.

Beijos, boa noite e um feliz dia Dois de Fevereiro, dia de festa no mar, no ar, na terra e nos lagos e rios.

Iemanjá, derramai vossos poderosos fluídos sobre todos nós.

Que vossa misericórdia continue a se estender sobre todos os reinos. Que os fracos sejam protegidos pelos vossos braços e que os humildes sejam enaltecidos pelo ruído do mar.

Que os movimentos das ondas transmitam muita paz e amor.

Que os orgulhosos percam a arrogância e sintam como é bom ser bom, porque a maldade só nos torna pequenos perante o vosso reino, Senhora,

Que os doentes recebam de vós, minha Santa Rainha, a cura para todos os males, através das emanações e de vossas vibrações e que nós sejamos purificados em vossas sagradas águas.

Que a força do vosso reino seja para nós um escudo contra as más influências dos seres inferiores, pois ainda somos crianças no reino em que vivemos e mal o conhecemos.

Que o vosso sagrado manto agasalhe todos os necessitados e traga o vosso calor de Santa Mãe, que vós sois.

Senhora, tende piedade de tantos que, como eu, vos invocamos neste momento sublime.

Atendei-nos em nossos pedidos.

Senhora Rainha do Mar e para tanto deixamos nossas súplicas na sétima onda do vosso mar.

Assim seja”.



sábado, 23 de dezembro de 2023

Natal e os múltiplos caminham que ele ilumina

A religiosidade é uma coisa boa nessa nossa curta passagem por esta vida. Desde que imbuída do espírito da caridade, do amor ao próximo e do respeito pelas pessoas que praticam outras religiões, ou que não praticam religião nenhuma, ou não acreditam no mesmo Deus que acreditamos, ou até mesmo para com aqueles que não acreditam em nenhum Deus.

O espírito verdadeiramente cristão é aquele que professa, procura e pratica sempre o bem, sem olhar a quem. E isso não é fácil. Exige muita abnegação, humildade no sentido mais amplo e grandioso da palavra. Aliás, humildade é palavra-chave nessa vida.

Pelo mundo a fora, existem maneiras e datas diferentes de comemorar-se o nascimento de Cristo. A Igreja Ortodoxa, por exemplo, não comemora o nascimento menino Jesus no dia 25 de dezembro, mas, sim, no dia 7 de janeiro, pois não reconhece a reforma do calendário implantada pelo Papa Gregório, no ano de 1582, que corrigiu uma defasagem de treze dias entre a data do calendário e a data real das mudanças das estações – equinócio e solstício. Os ortodoxos continuam seguindo o calendário de Júlio Cesar, criado em 45 A.C.

O Natal é uma época mágica, em que o cenário cinza de diversas cidades do mundo é dominado por luzes coloridas, pinheiros enfeitados e estrelas que piscam, em uma atmosfera de fantasia que só esse período consegue proporcionar. A decoração nos lares também seguem esse modelo, com o mesmo espírito do (re)nascimento, da luz, da vida no sentido amplo.

A decoração de Natal é extensiva às comemorações de fim de ano. Servem para saudar o Ano Novo, depois de ter encantado as pessoas na chegada do menino Jesus. Todo ano é assim, aqui em casa. A Stela mostra seu extremo bom-gosto para decoração de casa e ambientes festivos. O vídeo abaixo é da nossa casa, pronta para o Natal, com fundo musical de Noite Feliz. E os versos abaixo tentam contextualizar tudo isso...

É vida que segue cheia de esperanças e sonhos de renovação.

 

Luz natalina
José Carlos Camapum Barroso
 
Rainha que floresce
Na noite de Natal
É como um açoite
De esplendor celestial.
 
É dádiva de Deus!
Uma nova mensagem
A pulsar nos corações:
Há vida a nos embalar,
Esperança na Terra!
Basta abrir os olhos
Para que a luz possa entrar...
 
Luz que é divina,
Eterna e nos ensina
Um modo novo de cantar,
Amar, viver a vida.
Rainha-da-Noite e do dia
Dai-nos hoje, e sempre,
A esperança perdida. 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Cultura renasce das cinzas com investimentos da Lei Rouanet

 

Fênix, ave mitológica que renasce das cinzas

Nada mais adequado e ajustado do que comparar o atual momento vivido pela cultura brasileira com a fênix – ave mitológica que renasce das próprias cinzas, tem forte ligação com o Sol (luminosidade) e com a ideia de renascimento. A retomada de investimentos culturais – via Lei Rouanet – alcançou a cifra de R$ 16,3 bilhões liberados em 2023, cinco vezes mais do que a média de recursos investidos ao longo de quatro anos do governo anterior, de extrema-direita, radicalmente contrário a atividades culturais.

Os dados são do Ministério da Cultura e foram divulgados pelo site Metrópoles, nesta quarta-feira (20/12). Para se ter uma ideia da explosão de recursos investidos pela Lei Rouanet, a quantia disponibilizada por Lula nos últimos 12 meses é maior que a ofertada nos quatro anos de Jair Bolsonaro. Neste primeiro ano do governo Lula, foram aprovados 10,6 mil projetos, ante 13,6 mil entre 2019 e 2022.

Esses mais de 10 mil projetos incluem sete segmentos: artes cênicas, artes visuais, audiovisual, humanidades – engloba literatura, filologia e história –, museu e memória, música, e patrimônio cultural. A área mais contemplada neste ano foi artes cênicas, que obteve a liberação de R$ 4,4 bilhões em incentivos fiscais. O setor musical angariou R$ 3,9 bilhões; o de artes visuais, R$ 2,3 bilhões.

Para se ter uma ideia da tragédia ocorrida nos quatro anos do governo bolsonarista de extrema-direita, os recursos investidos pela Lei Rouanet foram inferiores aos valores investidos pelo governo Michel Temer, em 2017 e 2018, como pode ser constato no gráfico divulgado pelo Ministério da Cultura. Em quatro anos, Bolsonaro investiu o mesmo valor que Temer em dois anos.

O argumento do bolsonarismo sempre foi o de que os recursos da Lei Rouanet eram fontes de corrupção. Falso. Se existem desvios, em qualquer área, o correto é combater a corrupção, investigar, processar e punir eventuais envolvidos. O que a extrema-direita quer evitar, e sempre fez isso, é o desenvolvimento da cultura e da educação por serem essenciais para a evolução de uma visão crítica, progressista e, até mesmo, em muitos aspectos, revolucionária.

O presidente Lula rebateu esse falso argumento da extrema-direita já na origem, ao assinar o decreto que permitiu a medida, afirmando: “Vão dizer que a mamata voltou”. Os recursos da Lei Rouanet são oriundos de isenção fiscal. Isso quer dizer que tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem escolher projetos aprovados pelo governo para destinar parte de seu Imposto de Renda.

Dessa forma, em vez de ir para o cofre da União, o dinheiro vai para os idealizadores dos projetos, que devem prestar contas ao Ministério da Cultura sobre o que foi feito com os recursos liberados.

O Sudeste representa, de longe, a região mais contemplada com a liberação de recursos via Lei Rouanet: R$ 11,1 bilhões. Desse total, São Paulo responde por mais da metade, com autorização para captar R$ 6 bilhões.

O valor concedido ao estado mais populoso do Brasil configura, sozinho, mais do que a soma do que foi disponibilizado às regiões Norte, Sul, Nordeste e Centro-Oeste. Na outra ponta da tabela está o Acre, autorizado receber R$ 2 milhões em isenções, com apenas quatro propostas contempladas.

No governo Lula, o número de produtos contemplados com recursos da Lei Rouanet também sofreu um aumento exponencial. Em comparação com 2022, o número de produtos que receberam verbas por meio da lei cresceu 65 vezes, passando de 61 mil para mais de 4 milhões.

A Lei Rouanet foi criada em 1991 por Sergio Paulo Rouanet, ministro da Cultura de Fernando Collor, com o objetivo de fomentar projetos e iniciativas culturais no país.


domingo, 17 de dezembro de 2023

Festas de fim de ano também são cultura, e democracia


Comemorações de fim de ano também são cultura! Trazem um viés interessante e bem-vindo de valorização dos laços afetivos, de troca de informações, vivências e experiências, tanto no plano do trabalho, como também, e principalmente, da vida. Coloco neste cenário, a comemoração de fim de ano da Ouvidoria-Geral do SUS, do Ministério da Saúde, onde trabalho. A reunião foi na nossa casa, num ambiente regado a muita alegria e confraternizações.

Esse tipo de evento – marcado pelo encontro físico de membros de equipes – tornou-se mais comum nas últimas décadas. Vem sendo ampliado e estimulado pelas empresas e órgãos públicos, justamente por fortalecerem o espírito de equipe e a todos preparar para desafios futuros.

Na nossa OuvSUS não é e nem poderia ser diferente. A gestão do Ministério da Saúde, em sintonia plena com um governo democrático, que busca a união e a reconstrução do Brasil, o foco principal está em construir alternativas para uma maior participação social, ampliando e modernizando os canais de comunicação entre população e os órgãos que compõem o Sistema Único de Saúde (SUS) - tão aplaudido e recomendado por outros países.

Esse tipo de comemoração tem-se mostrado eficiente para fortalecer a coesão da equipe como um todo, oferece oportunidade ímpar para construir laços interpessoais mais profundos, e os colaboradores sentem que estão tendo condição para compartilhar experiências pessoais, descobrir interesses comuns e, dessa forma, fortalecer relações que vão além das demandas profissionais.

Tem ganhado dimensão no Brasil deste século justamente por propiciar uma dinâmica de equipe, promovendo ambiente de trabalho mais colaborativo e amigável. Segundo especialistas, a confraternização é propícia para fomentar a comunicação aberta e a integração entre os diferentes setores de uma empresa ou de um órgão público.

Aconteceu no nosso evento de fim de ano, na sexta-feira (15/12), como acontece em outros com objetivos semelhantes, o reconhecimento e a valorização dos colaboradores por tudo que foi feito ao longo do ano que se encerra.  

Gestos simples, como premiações simbólicas e a expressão de gratidão durante o evento, elevam a autoestima dos colaboradores, assim como reforçam a ideia de que cada contribuição é fundamental para o êxito da equipe como um todo. Percebe-se, facilmente, que a confraternização naturalmente estimula o engajamento e a motivação de todos os membros da equipe.

Isso é cultura. É enriquecimento dos modos de viver em sociedade, seja no ambiente de trabalho ou em sociedade. Sendo cultura, é – e sempre será – tema para o ZecaBlog. E mais uma vez, nos dedicamos a tratá-lo por aqui, com a esperança e o sonho de poder ajudar no engrandecimento de todos que querem construir uma nova sociedade, um novo mundo, mais justo, verdadeiramente democrático e humanizado.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Seminário vê convergências entre literatura russa e brasileira

Fiódor Dostoiévski

Taí um tema que sempre me foi caro: o que há em comum entre obras literárias brasileiras e russas? Particularmente, vejo algumas boas e interessantes convergências, embora os cenários culturais sejam tão distintos. Graciliano Ramos, com sua Angústia, tem muito de Fiódor Dostoiévski, com seu Crime e Castigo e outras obras desse extraordinário escritor russo.

Esse é o tema central, enriquecido por questões diversas, do seminário “Uma Conversa Íntima - Convergências entre as Literaturas Russa e Brasileira”, encontro literário que acontecerá nesta sexta-feira (15/12), na Biblioteca Nacional de Brasília, das 19 às 21h30. Realizado pela Agência Russa Para Cooperação Internacional Humanitária “Rossotrúdnichestvo” e pelo Instituto Cultural Casa de Autores, o seminário tem o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal e Biblioteca Nacional de Brasília.

Graciliano Ramos

Um dos objetivos do encontro literário é apresentar os fios semânticos que conectam os dois povos, estimulando os participantes a mergulharem no estudo dos laços culturais e humanitários através de um conhecimento mais substantivo da cultura russa.

Andrey Prokin, diretor da Casa Russa no Brasil, destaca que “apesar da distância geográfica, há temas e influências mútuas na criatividade entre os nossos países”. Segundo ele, há pontos de entrelaçamento na literatura que podem ser encontrados tanto na prosa quanto na poesia. “A cultura russa, especialmente a popular, inspirou escritores e poetas no Brasil. Autores modernos de Brasília e de Moscou, em suas obras, tentam dar respostas a questões muito semelhantes. E se o Brasil é formado a partir das ‘três raças tristes’ descritas por Vinícius de Morais, na canção deste país também há uma lágrima russa”, acrescenta Prokin.

Cecília Meireles

O fenômeno promove situações curiosas, como a relatada por Maurício Melo Júnior, presidente da Casa de Autores. “Por muitos anos um poema de Eduardo Alves da Costa circulou pela internet que teimava em atribuir o texto ao poeta russo Vladimir Maiakovski. Isso se dá por conta das experiências pessoais dos autores, marcados por questões sociais, como a pobreza e a falta de perspectiva”.

Andrei Prokin e Maurício Melo Jr.

Maurício relembra que autores como Nelson Rodrigues, por exemplo, diziam-se fortemente influenciados por Dostoiévski. Enquanto outros intelectuais brasileiros fizeram imersões na Rússia, construindo pontes. Ferreira Gullar e Jorge Amado, este bastante lido na Rússia, chegaram a morar em Moscou.

Todas essas nuances, histórias e casos poderão e deverão surgir nesse bate-papo literário, bem apropriado para uma sexta-feira...