domingo, 22 de abril de 2012

Fernando Lemos, mais uma perda para o jornalismo e a cultura

Fernando Lemos viveu bem com os amigos e em paz com a natureza
Sexta-feira foi dia do Diplomata, ontem (sábado) foi o dia da fundação de Brasília e de morte do libertador Tiradentes, hoje, um domingo de dia lindo, comemora-se o descobrimento do Brasil e homenageamos o Planeta Terra. Fernando Lemos, nosso amigo e admirável jornalista, resolveu nos deixar no emaranhado de todas essas comemorações. Faz sentido, tem tudo a ver com ele, com seu espírito desbravador, seu jeito diplomático de ser, sua paixão pela liberdade e seu amor por Brasília, a cidade que adotou e que ajudou a construir do ponto de vista cultural, artístico e jornalístico.
Fernando Lemos não podia ser enterrado em outro dia que não fosse o do aniversário de Brasília. Dedicou-se apaixonadamente a esta cidade, que sempre foi e sempre será o somatório de sonhos de brasileiros e brasileiras de todas as origens, vertentes, idades, crenças e convicções. Lemos, com o talento e a inteligência que Deus lhe deu, soube escrever seu nome na história de Brasília à frente da Secretaria de Cultura, de Esportes e de Comunicação; à frente de um jornalismo moderno e participativo no Correio Braziliense; e nos bastidores da política e do poder, sempre criativo e mostrando permanente preocupação com o futuro da cidade.
Fernando não precisava gritar para ser ouvido e nem chamar a atenção para fazer-se presente em qualquer lugar ou ambiente. Pelo contrário, chegava devagar, manso, suavemente, e sua presença crescia naturalmente pelo desenvolver das conversas, das ideias que apresentava e do conhecimento que exalava sempre muito profundo sobre os mais diversos assuntos.
Todos nós jornalistas, candangos e brasilienses, que tivemos a oportunidade de usufruir da sua convivência, aprendemos um pouco mais sobre a vida, sobre esta cidade e sobre o jornalismo. Fernando tinha pressa em viver e vivia tudo intensamente. Começou cedo no jornalismo no Rio de Janeiro, onde nasceu. Com apenas 15 anos já estava na redação do Correio da Manhã, depois trabalhou nos jornais Diário de Notícias e Última Hora. Em 1970, com apenas 26 anos veio chefiar a redação do Correio Braziliense a convite de Oliveira Bastos. Em 1977, trouxe o cineasta baiano Glauber Rocha para ser colaborador do jornal.
Além de jornalista, Fernando Lemos também foi consultor político. Nos últimos anos, decepcionado, falava em abandonar tudo isso e dedicar-se exclusivamente aos livros, à natureza à busca da verdade. Sobre isso, escreveu lá no seu blog:

“Jornalista, consultor político, me encaminhando pra abandonar tudo isso e me dedicar a projetos ambientais e de saúde natural, ler e escrever livros, meditar, blogar, garimpar a verdade onde ela esteja, romper com o sistema na medida do impossível. E desaprender as coisas imbecilizantes da civilização. Pra poder enxergar, em vez de ver. Escutar, em vez de ouvir. E viver de acordo com a natureza.

Fernando Lemos deixa muitas saudades, muitos amigos e uma porção de ensinamentos. Sua vontade de questionar a tudo e a todos criou nele uma desconfiança permanente com a capacidade de curar da medicina tradicional, com os medicamentos e os alimentos que não fossem naturais. Entre as suas citações preferidas, estava essa lá no seu blog: "Se todos os medicamentos forem jogados no oceano, será uma libertação para a espécie humana, e um desastre para os peixes".
Seu corpo perdeu a vida, mas sua alma será eterna porque imortalizada naquilo que construiu, no que disse e no que realizou em favor das pessoas, dos amigos e dos seus familiares. Sua alma não está mais neste Planeta Terra, que hoje homenageamos, mas sim vagando pelo Universo em forma de luz, numa velocidade maior e mais significativa do que aquela que marcou sua passagem entre nós.
Em homenagem ao nosso planeta e à grandeza de pessoas como Fernando Lemos, ouçamos abaixo a bela canção Terra, de Caetano Veloso, neste domingo de muita luz no céu azul e claro, mas com algumas nuvenzinhas, esparsas, de tristeza.




3 comentários:

  1. José Carlos, eu li tua homenagem a Fernando Lemos. Comovente. Eu conheci Fernando quando ele chegou ao Correio Braziliense, 1975. Trabalhamos juntos e nos tornamos amigos. Eu escrevi estes dois textos sobre meu doce amigo. Gostaria de repartí-los contigo, que também foi amigo de Fernando. Peço tua ajuda para divulgá-los. Um abraço.
    http://blogdemirianmacedo.blogspot.com.br/2012/04/quem-matou-fernando-lemos.html
    http://blogdemirianmacedo.blogspot.com.br/2012/04/fernando-lemos-morreu-viva-fernando.html

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    1. Miriam, li e recomendo seus dois textos aos amigos e leitores deste blog. O primeiro deles é uma reflexão importante sobre essa visão radical - na minha modesta opinião, equivocada - contra os chamados tratamentos "oficiais". Embora não concordasse com o Fernando, não quis tratar desse tema na homenagem prestada neste blog, mas pretendo fazê-lo futuramente.
      O outro texto do seu blog uma pérola sobre os bons tempos do jornalismo do Correio Braziliense, resgatando fatos interessantes. Grande abraço e parabéns!

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  2. José Carlos, meu faro não falhou, eu tive a intuição que tu acolherias os meus (também modestos) textos. Quem sabe tu e eu não nos conhecíamos em Brasília? Naquele tempo, a cidade era nossa. Nada acontecia sem que estivéssemos presentes, éramos imprescindíveis hehe. Não tinha festa, vernissage, inauguração, velório, protesto, comemoração ou lançamento que fossem bons sem que nós, jornalistas, estivéssemos ali. Parece que hoje mudou. Naquele tempo, desafiávamos o poder, dizíamos em letras garrafais que Brasília 'fedia', o poder fedia. Hoje, os 'coleguinhas' estão todos aboletados no poder, vivendo de prebendas. Talvez isto explique a (quase) indiferença em relação à morte estúpida e desnecessária de Fernando. Cada um presta contas à sua consciência. Um abraço.

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