Fernando Lemos viveu bem com os amigos e em paz com a natureza |
Sexta-feira foi dia do
Diplomata, ontem (sábado) foi o dia da fundação de Brasília e de morte do
libertador Tiradentes, hoje, um domingo de dia lindo, comemora-se o descobrimento
do Brasil e homenageamos o Planeta Terra. Fernando Lemos, nosso amigo e
admirável jornalista, resolveu nos deixar no emaranhado de todas essas
comemorações. Faz sentido, tem tudo a ver com ele, com seu espírito desbravador,
seu jeito diplomático de ser, sua paixão pela liberdade e seu amor por
Brasília, a cidade que adotou e que ajudou a construir do ponto de vista
cultural, artístico e jornalístico.
Fernando Lemos não
podia ser enterrado em outro dia que não fosse o do aniversário de Brasília.
Dedicou-se apaixonadamente a esta cidade, que sempre foi e sempre será o
somatório de sonhos de brasileiros e brasileiras de todas as origens,
vertentes, idades, crenças e convicções. Lemos, com o talento e a inteligência
que Deus lhe deu, soube escrever seu nome na história de Brasília à frente da
Secretaria de Cultura, de Esportes e de Comunicação; à frente de um jornalismo
moderno e participativo no Correio Braziliense; e nos bastidores da política e
do poder, sempre criativo e mostrando permanente preocupação com o futuro da
cidade.
Fernando não precisava
gritar para ser ouvido e nem chamar a atenção para fazer-se presente em
qualquer lugar ou ambiente. Pelo contrário, chegava devagar, manso, suavemente,
e sua presença crescia naturalmente pelo desenvolver das conversas, das ideias
que apresentava e do conhecimento que exalava sempre muito profundo sobre os mais
diversos assuntos.
Todos nós jornalistas,
candangos e brasilienses, que tivemos a oportunidade de usufruir da sua
convivência, aprendemos um pouco mais sobre a vida, sobre esta cidade e sobre o
jornalismo. Fernando tinha pressa em viver e vivia tudo intensamente. Começou
cedo no jornalismo no Rio de Janeiro, onde nasceu. Com apenas 15 anos já estava
na redação do Correio da Manhã, depois trabalhou nos jornais Diário de
Notícias e Última Hora. Em 1970, com apenas 26 anos veio chefiar a redação do
Correio Braziliense a convite de Oliveira Bastos. Em 1977, trouxe o cineasta
baiano Glauber Rocha para ser colaborador do jornal.
Além de jornalista, Fernando
Lemos também foi consultor político. Nos últimos anos, decepcionado, falava em
abandonar tudo isso e dedicar-se exclusivamente aos livros, à natureza à busca
da verdade. Sobre isso, escreveu lá no seu blog:
“Jornalista,
consultor político, me encaminhando pra abandonar tudo isso e me dedicar a
projetos ambientais e de saúde natural, ler e escrever livros, meditar, blogar,
garimpar a verdade onde ela esteja, romper com o sistema na medida do
impossível. E desaprender as coisas imbecilizantes da civilização. Pra poder
enxergar, em vez de ver. Escutar, em vez de ouvir. E viver de acordo com a
natureza.”
Fernando Lemos deixa
muitas saudades, muitos amigos e uma porção de ensinamentos. Sua vontade de
questionar a tudo e a todos criou nele uma desconfiança permanente com a
capacidade de curar da medicina tradicional, com os medicamentos e os alimentos
que não fossem naturais. Entre as suas citações preferidas, estava essa lá no
seu blog: "Se todos os medicamentos forem
jogados no oceano, será uma libertação para a espécie humana, e um desastre
para os peixes".
Seu
corpo perdeu a vida, mas sua alma será eterna porque imortalizada naquilo que
construiu, no que disse e no que realizou em favor das pessoas, dos amigos e
dos seus familiares. Sua alma não está mais neste Planeta Terra, que hoje
homenageamos, mas sim vagando pelo Universo em forma de luz, numa velocidade
maior e mais significativa do que aquela que marcou sua passagem entre nós.
Em homenagem
ao nosso planeta e à grandeza de pessoas como Fernando Lemos, ouçamos abaixo a
bela canção Terra, de Caetano Veloso, neste domingo de muita luz no céu azul e
claro, mas com algumas nuvenzinhas, esparsas, de tristeza.
José Carlos, eu li tua homenagem a Fernando Lemos. Comovente. Eu conheci Fernando quando ele chegou ao Correio Braziliense, 1975. Trabalhamos juntos e nos tornamos amigos. Eu escrevi estes dois textos sobre meu doce amigo. Gostaria de repartí-los contigo, que também foi amigo de Fernando. Peço tua ajuda para divulgá-los. Um abraço.
ResponderExcluirhttp://blogdemirianmacedo.blogspot.com.br/2012/04/quem-matou-fernando-lemos.html
http://blogdemirianmacedo.blogspot.com.br/2012/04/fernando-lemos-morreu-viva-fernando.html
Miriam, li e recomendo seus dois textos aos amigos e leitores deste blog. O primeiro deles é uma reflexão importante sobre essa visão radical - na minha modesta opinião, equivocada - contra os chamados tratamentos "oficiais". Embora não concordasse com o Fernando, não quis tratar desse tema na homenagem prestada neste blog, mas pretendo fazê-lo futuramente.
ExcluirO outro texto do seu blog uma pérola sobre os bons tempos do jornalismo do Correio Braziliense, resgatando fatos interessantes. Grande abraço e parabéns!
José Carlos, meu faro não falhou, eu tive a intuição que tu acolherias os meus (também modestos) textos. Quem sabe tu e eu não nos conhecíamos em Brasília? Naquele tempo, a cidade era nossa. Nada acontecia sem que estivéssemos presentes, éramos imprescindíveis hehe. Não tinha festa, vernissage, inauguração, velório, protesto, comemoração ou lançamento que fossem bons sem que nós, jornalistas, estivéssemos ali. Parece que hoje mudou. Naquele tempo, desafiávamos o poder, dizíamos em letras garrafais que Brasília 'fedia', o poder fedia. Hoje, os 'coleguinhas' estão todos aboletados no poder, vivendo de prebendas. Talvez isto explique a (quase) indiferença em relação à morte estúpida e desnecessária de Fernando. Cada um presta contas à sua consciência. Um abraço.
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