terça-feira, 10 de abril de 2012

Cora Coralina, a poesia simples que vem do interior


“O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.” (Cora Coralina)

Lá pelo início da década de 80, provavelmente 1981 ou 1982, tivemos – eu, a Stela e um grupo de amigos – a satisfação de conhecer uma das mais interessantes e relevantes figuras da história artística de Goiás: a poetisa, contista e cronista Cora Coralina. Lá mesmo, na cidade de Goiás, no casarão onde viveu e que depois de sua morte, no dia 10 de abril de 1985, seria transformado em um belo e interessante museu (foto acima).
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, ou simplesmente Cora Coralina, era poesia pura. A começar por esse maravilhoso pseudônimo que adotou, passando pelos gestos calmos, a voz macia e o olhar firme e penetrante que demonstrava conhecimento, inteligência, ousadia, coragem, sem perder a humildade, jamais.
Conversamos com ela por alguns minutos. Falamos sobre a beleza dos seus poemas, pensamentos e do tanto que nos orgulhávamos de tê-la como representante da arte e da cultura de Goiás. Agradeceu os elogios, mas ponderou que os turistas tinham o espírito da cordialidade, o dom de observar tudo pelo lado positivo e de enxergar superioridade em coisas meramente corriqueiras da vida.
Essa era Cora Coralina. Uma pessoa admirável, genial, mas de uma simplicidade a toda prova. Doceira de profissão aprendeu muito cedo a ver o mundo pela janela da sensibilidade, trazendo para seus poemas, crônicas e contos a vida cotidiana do interior do país, das fazendas e dos becos da sua (e nossa) Vila Boa de Goiás. Depois que se casou, em 1910, viveu durante 46 anos fora de Goiás, por cidades do interior de São Paulo e na própria capital paulista. Viúva, morou em Penápolis e Andradina, depois voltou, em 1956, para sua terra natal, e morreu no ano de 1985, em Goiânia.
Seu canto, suas palavras fortes, seus versos de amor, suas frases lapidares continuam vivos e fortes na memória nacional, na cultura goiana e no coração de cada um de nós. Quem a conheceu teve um prazer a mais. Quem não conquistou essa oportunidade pode conhecê-la pela beleza dos seus versos e a franqueza das suas palavras, que compõem uma obra só, bela e simples.
Cora Coralina é isso que está no poema abaixo e nos versos da bela canção feita e interpretada pelo também goiano Marcelo Barra, no vídeo que se segue. Depois, é possível dormir em paz, principalmente pela certeza de que Cora Coralina vive.


Humildade
Cora Coralina

Senhor, fazei com que eu aceite
 
minha pobreza tal como sempre foi.
 

Que não sinta o que não tenho.
 
Não lamente o que podia ter 
e se perdeu por caminhos errados
 
e nunca mais voltou.
 

Dai, Senhor, que minha humildade
 
seja como a chuva desejada 
caindo mansa,
 
longa noite escura
 
numa terra sedenta
 
e num telhado velho.
 

Que eu possa agradecer a Vós,
 
minha cama estreita, 
minhas coisinhas pobres,
 
minha casa de chão,
 
pedras e tábuas remontadas. 


E ter sempre um feixe de lenha
 
debaixo do meu fogão de taipa,
 
e acender, eu mesma,
 
o fogo alegre da minha casa
 
na manhã de um novo dia que começa.”



5 comentários:

  1. MARAVILHOSA!!!! aprendi a gostar de Goiás mesmo antes de chegar por aqui.Vim trabalhar no DF mas bom mesmo é "o" Goiás. Aqui pude ver que um lugar lindo igual a este só poderia ter produzido um ser singular como a maravilhosa Cora Coralina !
    abraços, Melissa

    ResponderExcluir
  2. Cora era fantástica e posso imaginar o quão agradável foi ter esse contato com ela, prazer que também pude ter. Segue link para um artigo que escrevi sobre ela quando de uma homenagem realizada no ano passado pelo Senado: https://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2011/08/19/cora-coralina-a-mulher-da-casa-da-ponte

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu, Nelsinho. Li o artigo sobre a Cora Coralina. Muito bom. Inclusive o recomendo a todos que passarem por aqui e aos fãs da poetisa. Abraço.

      Excluir
  3. Belo Poema, Bela música de homenagem . Conheci Cora e conversamos muito na Velha Casa da Ponte . Tenho livro autografado em que faz uma homenagem ao meu filho Thiago: "Thiago nome usado,desusado e renovado, que a felicidade ilumine sua trilha, viver é difícil mas o seu nascimento já é uma dádiva. Parabéns ao blog pela justa homenagem .

    ResponderExcluir