Elomar Figueira Melo é
o nosso Guimarães Rosa da música popular brasileira. Ambos valorizaram o jeito
de falar do homem do interior do sertão ou da caatinga, criando personagens de valor literário e contando, cada um a seu modo e usando as ferramentas
próprias (romances, poesias e canções), histórias e causos fantásticos, dignos
de serem preservados. A autenticidade é comum a esses dois brasileiros.
Sair da pequena
Cordisburgo para o mundo, só com muito talento. Guardadas as devidas
proporções, Elomar fez algo semelhante. Transformou o pequeno mundo lá das
bandas do Rio Gavião em um universo bem pra lá das quadradas das águas
perdidas.
Elomar tem raízes
ibéricas e arábicas em sua musicalidade, graças à influência dos portugueses no Nordeste brasileiro. Tem sangue latino e suas veias
sempre estiveram abertas para influencias como as de Atahualpa Yupanqui, Mercedes
Soza, Violeta Parra e tantos outros. A poesia de Elomar, como bem ressaltou
Ernani Maurílio, em março de 1979, tem algo de Pablo Neruda, quando diz assim: “É
duro moço ritirá pru trecho alei/ c’ua pele no osso e as alma nos bolso do véi/
me espera, assunta viu/ sô imbuzêro das bêra do rio”.
O álbum duplo na Quadrada das Águas Perdidas é uma
obra-prima da música brasileira. Comprei esse disco, em vinil, lá pelo início
da década de 80. Mais tarde, o Ramiro, meu filho, ainda adolescente, tomou-se
de amores pelo álbum e o comprou em CD. O canto de Elomar, lírico, telúrico,
compromissado com a vida é capaz de atravessar gerações e derrubar fronteiras.
Elomar é um trovador
místico, poeta, músico, cantador, violeiro e um arquiteto que virou criador de
bode no interior da Bahia. Inspirou o cartunista e amigo Henfil na criação de
Francisco Orelhana e da graúna. Casou-se com Adalmária e tiveram três filhos:
Rosa Duprado, João Ernesto e o maestro e violonista João Omar.
Escolher músicas na
obra de Elomar não é fácil. A primeira postada abaixo é Violeiro, que apareceu
num compacto simples, em 1968, como a primeira gravação do artista. Depois, a
música foi relançada no belo LP “...Das Barrancas do Rio Gavião”. A segunda
música é a obra prima História de Vaqueiros, nesta gravação histórica de Elomar
no violão e Xangai no canto. Tenho uma particular admiração pela música
Arrumação, que é do álbum Na Quadrada das Águas Perdidas, mas também foi
gravada no disco Cantoria, na voz ímpar do cantor goiano Francisco Aafa. Essas
três gravações somam algo em torno de quinze minutos, mas são capazes de dar uma
pequena ideia da grandeza da obra de Elomar.
Li no site oficial do
cantor e compositor esse texto significativo:
“Para Figueira Mello o que importa é concluir suas
óperas, antífonas e galopes, pôr tudo em partituras a nanquim e enfardados em
campa antiga, guardar o monobloco passageiro do tempo até a estação futura,
benvinda quadra remota, onde o aguarda uma geração que, por justiça, haverá por
certo de ouvir e amar sua música tão fora de moda nestes dias. Ó Tempora ! Ó
Mores !”
É isso que eu
consegui passar pro Ramiro e tenho certeza de que, com a mesma facilidade, será passado para novas
gerações, porque isso é Elomar - um gênio.
Nossa José, eu não conhecia este poeta, estou encantada! SEu texto está muito bom, parabéns, li num instante e quando vi tinha acabado, peninha, mas me deliciei com os videos...
ResponderExcluirOLha, quanta gente boa espalhada por este Brasil de dimensões continentais...
O Blog está bem diversificado, eu sou assim tambem, gosto de escrever sobre a diversidade...
abraços da amiga capixaba
Renata
Prezada amiga Renata. É isso mesmo. Elomar é um grande poeta e um músico de muito talento, com forte influência da música clássica, inclusive. Tenho certeza de que quanto mais você conhecer o trabalho dele, mais irá gostar. Obrigado pelo carinho para com o nosso trabalho neste blog. Grande abraço deste amigo goiano, de Uruaçu.
ResponderExcluirFIQUEI FELIZ POR POSTAR EM SEU BLOG UM POUQUINHO DE ELOMAR. PRA MIM "O MIÓ QUE EXISTE NO MERCADO". SOU MUITO FÃ DO TRABALHO DO GRANDE MESTRE VIOLEIRO E ACHO UMA PENA QUE POUCAS PESSOAS CONHEÇAM ESSE MARAVILHOSO TRABALHO. CONTINUO APRESENTANDO A MEUS AMIGOS. ENQUANTO ESSE JOVENS POR AÍ OUVEM FUNK, AXÉ E CALYPSO, CONTINUO FIEL ÀS GRANDES OBRAS DO MESTRE. AINDA OS OUÇO EM VINIL. GRANDE ABRAÇO E PARABÉNS.
ResponderExcluirElomar é um daqueles gênios que falam do seu lugar de uma forma universal...
ResponderExcluirabs,
Meslissa