Um dos problemas mais
complexos das sociedades modernas é, sem sombra de dúvidas, o da disseminação
do uso de drogas, principalmente o crack, que se torna cada vez mais popular e
de potencial destruidor incomparável. Até o os anos 80 do século passado, o uso
de drogas, como a cocaína e a maconha, vinha acompanhado de certo glamour por
parte da classe média, estudantes e intelectuais. No final dos anos 80 e início
dos anos 90, com o surgimento do crack, essa “realidade” começa a ser
substituída rapidamente por uma bem mais dura e assustadora, a partir da
disseminação do consumo de drogas entre crianças, jovens, mendigos e idosos –
começam a surgir as cracolândias da vida.
Desemprego, a falta de
políticas públicas e a ausência do Estado em regiões de favelas, por exemplo,
fizeram com que as crianças e jovens começassem a trocar os campos de várzeas,
onde aprendiam a jogar futebol, pelas áreas de risco próximas às rodoviárias,
ferroviárias, parques abandonados e locais que permitem rápidos e fáceis
pequenos e médios furtos, cujos produtos podem ser trocados por pedras de crack
e consumidas por ali mesmo.
Daí para o surgimento
das cracolândias foi um passo. A mais monumental delas surgiu no centro de São
Paulo, nas proximidades das ruas Duque de Caxias, Mauá, Ipiranga e Rio Branco.
Historicamente, este local, antes conhecido como Boca do Lixo, viu nascer o
cinema marginal, na década de 60, comandado por Rogério Sganzerla, Ozualdo
Candeias e Júlio Bressane, entre outros. Na década de 80, o cinema brasileiro
escorregou para a pornochanchada e os miseráveis da região conheceram o crack.
Boca do Lixo sempre foi
região de prostituição e por isso mesmo tema para a genialidade de Plínio
Marcos (foto abaixo), o “escritor maldito de temas malditos”. Os menores daqueles tempos
perambulavam chapados de vinho ou cachaça pelos becos marginais. Com a chegada
do crack multiplicaram-se os marginais, os menores abandonados, as prostitutas
e os mendigos, mas desapareceram definitivamente escritores com a coragem e a
sensibilidade de Plínio.
Na música, sambistas,
como Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia, Monsueto e tantos outros, desciam o
morro e se misturavam com a classe média em rodas de samba e de cerveja.
Gonzaguinha e Luiz Melodia trocaram o morro por um mundo em que o uso de drogas
ainda era glamouroso, artístico... Gonzaguinha desceu o São Carlos, agarrou-se
a um sonho e partiu. Melodia, com sua bela voz, enalteceu o Estácio, Holly Estácio
e zombou da classe média pequeno-burguesa.
No futebol não foi
diferente. Os meninos das favelas fugiam de casa pra jogar bola nos campos de
várzeas, onde os que tinham talentos eram descobertos e tornavam-se craques do
Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo e depois da Seleção Brasileira. Eram
tempos do samba-canção, da bossa nova, de um Rio de Janeiro dos carnavais e dos
blocos alegres e ingênuos. São Paulo de uma economia forte gerava empregos e o
samba de Adoniram Barbosa e Paulo Vanzolini faziam rondas pelas noites
paulistanas.
Nos tempos do crack, a
seleção brasileira sofre pela ausência de craques, com raríssimas exceções,
como Neimar, por exemplo. A música popular brasileira andou trocando o samba
pelo funk – e a classe média, desvairada, subiu o morro atrás de drogas e da
mediocridade dos pagodes. Em tempos do crack e da ausência de craques, haja políticas
públicas para superar tantas mazelas culturais e sociais. A implantação das
Unidades de Políticas Pacificadoras (UPPs) é um bom começo, mas ainda falta muito a ser
realizado.
Pra amenizar um pouco um tema tão denso, Gonzaguinha colocando a perna no mundo, e Luiz Melodia cantando seu Estácio, enquanto Rolando Boldrim conta uma piada e nos garante um pouco de alegria...
Que voz, hein, do Luis Melodia? E esse sax, dando um respaldo pra voz..Maravilhosos também esse cavaco e o violão! Excelente vídeo, José!
ResponderExcluirÉ verdade, Itaney. Melodia tem uma voz muito linda e seu talento como intérprete é impressionante. Ele dá vida às músicas que canta, com muito suingue e leveza. Ele é genial. O acompanhamento nessa música é perfeito.
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