terça-feira, 1 de maio de 2012

Os estragos do crack, da falta de craques e das Cracolândias

Um dos problemas mais complexos das sociedades modernas é, sem sombra de dúvidas, o da disseminação do uso de drogas, principalmente o crack, que se torna cada vez mais popular e de potencial destruidor incomparável. Até o os anos 80 do século passado, o uso de drogas, como a cocaína e a maconha, vinha acompanhado de certo glamour por parte da classe média, estudantes e intelectuais. No final dos anos 80 e início dos anos 90, com o surgimento do crack, essa “realidade” começa a ser substituída rapidamente por uma bem mais dura e assustadora, a partir da disseminação do consumo de drogas entre crianças, jovens, mendigos e idosos – começam a surgir as cracolândias da vida.
Desemprego, a falta de políticas públicas e a ausência do Estado em regiões de favelas, por exemplo, fizeram com que as crianças e jovens começassem a trocar os campos de várzeas, onde aprendiam a jogar futebol, pelas áreas de risco próximas às rodoviárias, ferroviárias, parques abandonados e locais que permitem rápidos e fáceis pequenos e médios furtos, cujos produtos podem ser trocados por pedras de crack e consumidas por ali mesmo.
Daí para o surgimento das cracolândias foi um passo. A mais monumental delas surgiu no centro de São Paulo, nas proximidades das ruas Duque de Caxias, Mauá, Ipiranga e Rio Branco. Historicamente, este local, antes conhecido como Boca do Lixo, viu nascer o cinema marginal, na década de 60, comandado por Rogério Sganzerla, Ozualdo Candeias e Júlio Bressane, entre outros. Na década de 80, o cinema brasileiro escorregou para a pornochanchada e os miseráveis da região conheceram o crack.
Boca do Lixo sempre foi região de prostituição e por isso mesmo tema para a genialidade de Plínio Marcos (foto abaixo), o “escritor maldito de temas malditos”. Os menores daqueles tempos perambulavam chapados de vinho ou cachaça pelos becos marginais. Com a chegada do crack multiplicaram-se os marginais, os menores abandonados, as prostitutas e os mendigos, mas desapareceram definitivamente escritores com a coragem e a sensibilidade de Plínio.
Na música, sambistas, como Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia, Monsueto e tantos outros, desciam o morro e se misturavam com a classe média em rodas de samba e de cerveja. Gonzaguinha e Luiz Melodia trocaram o morro por um mundo em que o uso de drogas ainda era glamouroso, artístico... Gonzaguinha desceu o São Carlos, agarrou-se a um sonho e partiu. Melodia, com sua bela voz, enalteceu o Estácio, Holly Estácio e zombou da classe média pequeno-burguesa.
No futebol não foi diferente. Os meninos das favelas fugiam de casa pra jogar bola nos campos de várzeas, onde os que tinham talentos eram descobertos e tornavam-se craques do Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo e depois da Seleção Brasileira. Eram tempos do samba-canção, da bossa nova, de um Rio de Janeiro dos carnavais e dos blocos alegres e ingênuos. São Paulo de uma economia forte gerava empregos e o samba de Adoniram Barbosa e Paulo Vanzolini faziam rondas pelas noites paulistanas.
Nos tempos do crack, a seleção brasileira sofre pela ausência de craques, com raríssimas exceções, como Neimar, por exemplo. A música popular brasileira andou trocando o samba pelo funk – e a classe média, desvairada, subiu o morro atrás de drogas e da mediocridade dos pagodes. Em tempos do crack e da ausência de craques, haja políticas públicas para superar tantas mazelas culturais e sociais. A implantação das Unidades de Políticas Pacificadoras (UPPs) é um bom começo, mas ainda falta muito a ser realizado.
Pra amenizar um pouco um tema tão denso, Gonzaguinha colocando a perna no mundo, e Luiz Melodia cantando seu Estácio, enquanto Rolando Boldrim conta uma piada e nos garante um pouco de alegria...







2 comentários:

  1. Que voz, hein, do Luis Melodia? E esse sax, dando um respaldo pra voz..Maravilhosos também esse cavaco e o violão! Excelente vídeo, José!

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    1. É verdade, Itaney. Melodia tem uma voz muito linda e seu talento como intérprete é impressionante. Ele dá vida às músicas que canta, com muito suingue e leveza. Ele é genial. O acompanhamento nessa música é perfeito.

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