segunda-feira, 21 de maio de 2012

O talento de Elomar, o Guimarães Rosa da nossa música

Elomar Figueira Melo é o nosso Guimarães Rosa da música popular brasileira. Ambos valorizaram o jeito de falar do homem do interior do sertão ou da caatinga, criando personagens de valor literário e contando, cada um a seu modo e usando as ferramentas próprias (romances, poesias e canções), histórias e causos fantásticos, dignos de serem preservados. A autenticidade é comum a esses dois brasileiros.
Sair da pequena Cordisburgo para o mundo, só com muito talento. Guardadas as devidas proporções, Elomar fez algo semelhante. Transformou o pequeno mundo lá das bandas do Rio Gavião em um universo bem pra lá das quadradas das águas perdidas.
Elomar tem raízes ibéricas e arábicas em sua musicalidade, graças à influência dos portugueses no Nordeste brasileiro. Tem sangue latino e suas veias sempre estiveram abertas para influencias como as de Atahualpa Yupanqui, Mercedes Soza, Violeta Parra e tantos outros. A poesia de Elomar, como bem ressaltou Ernani Maurílio, em março de 1979, tem algo de Pablo Neruda, quando diz assim: “É duro moço ritirá pru trecho alei/ c’ua pele no osso e as alma nos bolso do véi/ me espera, assunta viu/ sô imbuzêro das bêra do rio”.
O álbum duplo na Quadrada das Águas Perdidas é uma obra-prima da música brasileira. Comprei esse disco, em vinil, lá pelo início da década de 80. Mais tarde, o Ramiro, meu filho, ainda adolescente, tomou-se de amores pelo álbum e o comprou em CD. O canto de Elomar, lírico, telúrico, compromissado com a vida é capaz de atravessar gerações e derrubar fronteiras.

Elomar é um trovador místico, poeta, músico, cantador, violeiro e um arquiteto que virou criador de bode no interior da Bahia. Inspirou o cartunista e amigo Henfil na criação de Francisco Orelhana e da graúna. Casou-se com Adalmária e tiveram três filhos: Rosa Duprado, João Ernesto e o maestro e violonista João Omar.
Escolher músicas na obra de Elomar não é fácil. A primeira postada abaixo é Violeiro, que apareceu num compacto simples, em 1968, como a primeira gravação do artista. Depois, a música foi relançada no belo LP “...Das Barrancas do Rio Gavião”. A segunda música é a obra prima História de Vaqueiros, nesta gravação histórica de Elomar no violão e Xangai no canto. Tenho uma particular admiração pela música Arrumação, que é do álbum Na Quadrada das Águas Perdidas, mas também foi gravada no disco Cantoria, na voz ímpar do cantor goiano Francisco Aafa. Essas três gravações somam algo em torno de quinze minutos, mas são capazes de dar uma pequena ideia da grandeza da obra de Elomar.
Li no site oficial do cantor e compositor esse texto significativo:

“Para Figueira Mello o que importa é concluir suas óperas, antífonas e galopes, pôr tudo em partituras a nanquim e enfardados em campa antiga, guardar o monobloco passageiro do tempo até a estação futura, benvinda quadra remota, onde o aguarda uma geração que, por justiça, haverá por certo de ouvir e amar sua música tão fora de moda nestes dias. Ó Tempora ! Ó Mores !”

É isso que eu consegui passar pro Ramiro e tenho certeza de que, com a mesma facilidade, será passado para novas gerações, porque isso é Elomar - um gênio.






4 comentários:

  1. Nossa José, eu não conhecia este poeta, estou encantada! SEu texto está muito bom, parabéns, li num instante e quando vi tinha acabado, peninha, mas me deliciei com os videos...
    OLha, quanta gente boa espalhada por este Brasil de dimensões continentais...
    O Blog está bem diversificado, eu sou assim tambem, gosto de escrever sobre a diversidade...
    abraços da amiga capixaba
    Renata

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  2. Prezada amiga Renata. É isso mesmo. Elomar é um grande poeta e um músico de muito talento, com forte influência da música clássica, inclusive. Tenho certeza de que quanto mais você conhecer o trabalho dele, mais irá gostar. Obrigado pelo carinho para com o nosso trabalho neste blog. Grande abraço deste amigo goiano, de Uruaçu.

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  3. FIQUEI FELIZ POR POSTAR EM SEU BLOG UM POUQUINHO DE ELOMAR. PRA MIM "O MIÓ QUE EXISTE NO MERCADO". SOU MUITO FÃ DO TRABALHO DO GRANDE MESTRE VIOLEIRO E ACHO UMA PENA QUE POUCAS PESSOAS CONHEÇAM ESSE MARAVILHOSO TRABALHO. CONTINUO APRESENTANDO A MEUS AMIGOS. ENQUANTO ESSE JOVENS POR AÍ OUVEM FUNK, AXÉ E CALYPSO, CONTINUO FIEL ÀS GRANDES OBRAS DO MESTRE. AINDA OS OUÇO EM VINIL. GRANDE ABRAÇO E PARABÉNS.

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  4. Elomar é um daqueles gênios que falam do seu lugar de uma forma universal...
    abs,
    Meslissa

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