quinta-feira, 26 de julho de 2012

Bodas de Pinho no meu caminho, regado a muito vinho...

Exame de rotina. O médico pergunta ao paciente se está tudo bem. Quer saber se ele sente algum incomodo, e aproveita pra fazer outros questionamentos pertinentes à consulta.
- Qual sua idade?
- Acabei de completar 58 anos.
- Ótimo. Novo, muito novo – diz o médico, bem mais jovem que o paciente. E acrescenta – Casado?
- Casado. Por coincidência, estamos fazendo hoje 32 anos de casados.
- TRINTA E DOIS ANOS DE CASADOS?!?! – diz, entre assustado e incrédulo, o jovem doutor, como se tivesse lendo resultado tenebroso de um exame de laboratório.
- E tem mais, doutor...
- Mais...?
- A gente se ama até hoje. Como se fôssemos recém-casados...
- Bom, então, acho que o senhor procurou o médico errado. O senhor deveria ter procurado um psiquiatra...

* * *

Se tal diálogo tivesse acontecido comigo, o médico teria ouvido poucas e boas. No mínimo, iria ouvir que quem precisa realmente de um psiquiatra seria o próprio. Ou teria lembrado a ele, os versos de Vinícius de Moraes: “... que seja eterno enquanto dure”.
Melhor pensando, teria pedido a ele que lesse o texto que escrevi, em 2011, sobre o passar dos anos em um casamento. Esse mesmo texto, reproduzo abaixo com algumas atualizações, em função de termos chegado, este ano, às convidativas Bodas de Pinho. Melhor seria se o pinho, nesse caso, fosse sinônimo de violão.
PS - A Stela me lembrou que nos casamos no dia de Santana (26 de julho), e que é ela quem nos abençoa. Confesso que desse departamento, eu entendo muito pouco. Mas, lembro que Santana, como o próprio nome indica, era a protetora de minha avó Ana Alencar e padroeira de Uruaçu. 



O passar do tempo
José Carlos Camapum Barroso


O amor, quando faz
Trinta e alguns anos,
Deixa a concha
De madrepérola,
Pois, ao sair do papel,
Em plena lua de mel,
Enrolou-se no algodão.
Em meio a buquê de flores,
Fez-se duro como madeira
Entrelaçada de amores...

O sabor do açúcar trouxe
O perfume da papoula,
Que passou pelo barro
E foi virar cerâmica
(Sem quebrar a louça).
Ah... Todos esses anos,

Quantos desenganos
A envergar o aço,
A desafiar o abraço,
A rasgar seda, cetim.
O linho trouxe a renda
E as bodas viraram marfim.
No resplandecer do cristal,
A turmalina cor de rosa
Desaguou na turquesa...
Ao amor e sua beleza,
Juntou-se a maioridade.

O que fazer agora, então?
A água-marinha já não
Banha a mesma porcelana?
Resiste a louça, coberta
Em palha, guardada
Em opala, que desperta
O brilho fino da prata...

Ah... Como passam os anos...
Novos e novos desenganos
Trazem um cheiro de erva
Ao amor balzaquiano...
Tudo agora é pérola!
E a força do Nácar ajudou
A passar trinta e um anos.

Como não ficar sozinho...?
Entre anos e desenganos,
Vieram as Bodas de Pinho.
E nós, em nosso ninho,
A aguardar indecisos:
O que serão Bodas de Crizo?
Aos trinta e três anos...
Melhor seria: Bodas de Cristo.

4 comentários:

  1. Parabéns, esse pinho é como o cerne da aroeira, não apodrece jamais...E veja que Santana é, mais que a avó de Jesus, padroeira de Uruaçu, padroeira de Goiás e primeiro nome da encantadora Vila Boa, nossa primeva capital...Mas o seu maior trunfo, por certo, é ser a padroeira do casal..abraços fraternais..Ah, agora o poema ficou melhor ainda..e pode äs vezes esquecer a rima, que é de menos....

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  2. Que lindo !!!!!! Nesse mundo de hoje, onde já não se namora, mas "fica" e "pega" um amor tão bonito e duradouro chega a ser sublime... Parabéns para você e sua "ESTRELA"
    abraços,
    Melissa

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  3. Zeca, que venha o crizo, a oliveira, a coral e as famosas de ouro e brilhante.
    Bem... você que é forte como um touro, podemos esperar a de jequitibá, rss.
    Eu ainda estou na erva, nome sugestivo que não é minha praia, nas celebrações prefiro mesmo um vinhosinho, beijos e boa sorte com sua Stelinha,
    Rener.

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  4. Perfeito seu texto... Os meus pais tmb comemoram 32 anos de casados no próximo dia 23/01/13 e são eternos namorados.
    Muito Feliz!

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