sábado, 13 de abril de 2013

A cachaça é nossa, ninguém tasca, eu bebi primeiro...

 
Parece notícia de pouca monta, mas não pode ser visto por esse ângulo o fato de os Estados Unidos terem reconhecido, finalmente, a cachaça como bebida exclusiva e genuinamente brasileira. Esse é o último preconceito para com essa bebida tão nacional quanto o samba e a paixão pelo futebol. Já escrevi aqui sobre as raízes dessa visão distorcida que remontam aos tempos da escravidão (para ler ou reler, clique aqui).
O Brasil fatura anualmente algo em torno de 17 milhões de dólares com a exportação de cachaça, mas, desse total, apenas cerca de 10% vêm dos Estados Unidos. A maior dificuldade de emplacar o produto no mercado norte-americano era justamente a ausência desse reconhecimento, que caiu por terra, definitivamente, esta semana. A cachaça não mais terá o rótulo de “brazilian rum”. Os países que mais importam o nosso produto são justamente aqueles que reconhecem a cachaça como genuinamente brasileira: Inglaterra e Alemanha.
Nossas exportações vão aumentar e por consequência a produção, com geração de mais renda e empregos. Os empresários brasileiros comemoraram e nós, apreciadores dessa bebida, também, porque a tendência é termos mais investimento em qualidade.
O produto feito de forma artesanal, em alambiques de cobre, e depois curtido em toneis de madeira, vem ganhando mercado aqui e lá fora pela sua qualidade. Ao contrário de bebidas como uísques, brandies e também vinho, que vão sempre para envelhecimento em toneis de carvalho, a cachaça tem a notável particularidade de ser envelhecida em diversas madeiras. Além do próprio carvalho, usamos a umburana, bálsamo, ipê, eucalipto, jequitibá, amendoim e muitas outras. Ainda temos a expertise de envelhecer a pinga em mais de uma madeira, dando a ela a formatação de blend.
 
 
De todas elas, o amendoim, segundo especialistas, é a rainha das madeiras para o envelhecimento da cachaça. Hoje é uma madeira rara, em extinção, de extração proibida ou controlada em lei, mas ainda pode ser encontrada no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, geralmente em reservas ou parques florestais.
O amendoim assenta o caráter, as características organolépticas da cachaça, sem modificá-la significativamente. Dizem os estudiosos que, quando curtida, preparada adequadamente, essa madeira realiza o verdadeiro envelhecimento: revela e acentua as virtudes da cachaça, exibe a alma da pinga. A cor pode ser levemente alterada para o amarelo muito claro, pálido. O aroma e o gosto da verdadeira cachaça, isto é, o perfume e o sabor da cana, são preservados. O amendoim abaixa um pouco a acidez e o teor alcóolico da cachaça, mantendo o caráter e a integridade da bebida.
Como toda a bebida alcoólica, a cachaça deve e tem que ser apreciada com moderação, engenho e arte. E pra não ficar mal na fita, eu acrescento:
Se beber, não dirija!
E se dirigir, não beba, aumenta muito o risco de ficar tonto mais rápido.
Boa noite e saúde!
 
 
 

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