Brasília, aos 53 anos, desperta sonhos e às vezes pesadelos





Brasília é toda essa beleza captada pela lente sensível e penetrante do nosso querido fotógrafo Ronaldo Silva, que já nos presenteou com belos trabalhos aqui no blog. Existem muitas Brasílias, observadas diariamente por todos nós, sejamos jornalistas, fotógrafos, escritores, poetas, médicos, advogados, servidores públicos, motoristas e cobradores e tantos outros trabalhadores que circulam pelas ruas desta ainda jovem cidade. Amamos Brasília, com sua beleza arquitetônica, seus monumentos, suas avenidas e vias diferentes de tantas outras cidades.

Mas, também, às vezes, enxergamos uma Brasília cansada, exauridada, angustiada com tantos mandos e desmandos ao longo dos 53 anos que completa neste 21 de abril. Nossa sensibilidade, aqui e ali, capta uma cidade que já não sonha como nos anos dourados de Juscelino Kubistchek, anos da bossa-nova de Tom Jobim e Vínicius de Moraes. O sonho de Dom Bosco pode acabar num pesadelo? Às vezes acordamos com esse dilema. Acho que isso pode ter acontecido comigo neste sábado, véspera do aniversário da cidade que adotei como minha desde 1973.

Talvez seja essa a razão, equivocada, dos versos abaixo. Espero amanhã, domingo, acordar rejuvenescido, com o astral mais afinado com a cidade do futuro, da esperança e do sonho de uma sociedade mais justa, mais humana, em paz com a vida, o mundo e o meio ambiente. Foquem nas fotos do Ronaldo e ouçam a bela Sinfonia da Alvorada, de Tom e Vínicius. Assim, fica mais fácil de manter ardente a chama dos balões que, durante toda esta semana, cruzaram o céu da Capital da Esperança.



Acorda Brasília!

José Carlos Camapum Barroso

Brasília, Brasília

Não és mais uma ilha

Cercada de fantasias...

És senhora, adulta,

Cortada por viadutos

E vias congestionadas,

Por cidades satélites,

Cujas luzes não brilham

Como resplandece a tua...

Por ruas que não se cruzam

Na mesma simetria das tuas

Na grandeza de monumentos

Que ostentas em curvas,

Entre retas infinitas...

És um avião de asas

Cortadas por um piloto

Que no plano de voo

Perdeu-se no quadrilátero

Incrustado no coração

De um Brasil central,

Pleno de indiferenças...

Brasília, Brasília

Não mais sorris pros filhos

Adotados e os que são teus,

Que te ergueram e foram

Erguidos aos céus,

No sonho de dom Bosco,

No suor e lágrimas candangas.

Acorda antes que o sonho

Desperte o medo

No século do pesadelo.

Acorda Brasília!

Ouça a voz que ecoa

No Planalto Central:

Ainda és sonho,

Esperança de vida!