Não é fácil. O tema é espinhoso e
envolve aspectos racionais, emocionais e algumas vezes até completamente absurdos.
Sempre que se fala em exercer algum tipo de controle sobre o que a imprensa
publica a discussão vem eivada de interesses políticos partidários. Não há
equilíbrio, bom-senso e muito menos racionalidade no trato da questão. O que
nos faz supor que muito menos ainda esses atributos sobreviverão numa possível e
provável comissão de acompanhamento do que os meios de comunicação podem tornar
público.
O xis
da questão reside no que se quer a priori e o que existe, de fato, a posteriori.
No Brasil, a legislação é falha e frágil, e os caminhos são tortuosos para
executar o que já está previsto em lei, quando se trata de garantir direitos ao cidadão
atingido em sua honra, vida moral ou profissional, por notícias inverídicas,
mal apuradas e divulgadas de forma distorcida pelos meios de comunicação. Até o
preliminar e elementar direito de resposta não está regulamentado de forma
adequada e justa. Muito menos as punições penais aos que abusaram do direito de
informar e os ressarcimentos financeiros para aqueles que, comprovadamente,
sofreram abuso do constitucional direito de livremente informar. O resultado:
injustiças e sentenças inadequadas com a realidade dos fatos.
Esse é um prato cheio e o cenário
ideal para os que sonham em colocar em prática ações que limitem a liberdade de
informação, preocupados exclusivamente com interesses pessoais e/ou
partidários. Têm cheiro de revanchismo e oportunismo as pregações contra a
imprensa livre, que deveria ser regulamentada por comissão criada pelo Estado,
leia-se governo, com intuito de evitar os abusos do “quarto poder”.
Coincidentemente, são os mesmo que
condenaram as divulgações iniciais do esquema do mensalão. Quando as denúncias
surgiram, até Marcos Valério era inocente, coitado. Depois, tentou-se o
argumento perigoso de que ministros da Suprema Corte da Justiça brasileira
estariam condenando à prisão, e ao pagamento de pesadas multas, cidadãos
inocentes, sem a existência de provas. Só pra dar um exemplo, custo a crer que
um juiz como o ministro Celso de Melo condenaria à prisão alguém sem provas
nos autos. Assim como ele, todos os outros.
Sou testemunha de que, quando
trabalhei como assessor de Comunicação do então ministro Luiz Carlos Santos (de
saudosa memória), ouvi por diversas vezes, nos corredores do Congresso Nacional
e do Palácio do Planalto, acusações dos então detentores do poder de que a
mídia, principalmente a Folha de São Paulo, era "petista". Vários jornalistas
constantemente condenados ao fogo do inferno porque eram vermelhos. Agora, não,
os jornais viraram "tucanos" e os jornalistas reacionários, conservadores. Isso
tudo num curto espaço de tempo inferior a uma década.
No dia Nacional do Jornalista é
preciso refletir muito sobre essas idiossincrasias. Mudanças a toque de caixa podem não ser
as mais sensatas, principalmente quando trazem riscos a um dos mais sagrados
direitos da humanidade, que é o da liberdade de expressão, onde se abriga a
liberdade de imprensa.
Como disse no início do texto, até no
dia consagrado a nos homenagear, os jornalistas trabalhamos. Ainda bem que é
assim, pois a principal ferramenta desse labor é o pensar, e não devemos
abandoná-la nem quando dormimos. Não custa nada sonhar acordado. É quando
surgem os verdadeiros e melhores sonhos. Por isso mesmo, e por tantas outras
coisas, temos orgulho de ser Jornalistas.
E orgulho maior ainda de defender e lutar pela liberdade para que ela possa abrir suas asas sobre nós.
E orgulho maior ainda de defender e lutar pela liberdade para que ela possa abrir suas asas sobre nós.
Liberdade
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
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