segunda-feira, 29 de abril de 2013

Morre Paulo Vanzolini, 89 anos, mas ficam ciência e música

 
O que dizer de um camarada que foi cientista, zoólogo reconhecido internacionalmente, e ao mesmo tempo músico de mão cheia. Bom, a primeira coisa é que ele não deveria morrer nunca. Mas, infelizmente, Paulo Vanzolini nos deixou no final da noite deste domingo, naquele horário em que, provavelmente, nos bons tempos da década de 1940, ele estaria nas ruas de São Paulo, curtindo uma boemia e observando a cidade, as pessoas e os amigos. Tinha 89 anos e morreu em consequência de uma pneumonia que o levou a ser internado na quinta-feira passada.
Não é fácil definir Paulo Vanzolini. Ele não era apenas um grande sambista de São Paulo, ao lado do saudoso Adoniran Barbosa. Também não era só um cronista capaz de registrar com talento o amor, o desamor e as paixões levadas a extremos; ou apenas um boêmio das noites paulistanas. Tão pouco se pode enquadrá-lo como um intelectual, dedicado aos livros, à pesquisa e ao conhecimento. Na verdade, ele era tudo isso junto, misturado e temperado com o que há de melhor na alma do brasileiro: o humor. Não foi músico profissional e era apaixonado pela profissão de zoólogo.
Não gostava de ser conhecido como o autor de Ronda (de noite, eu rondo a cidade/ a te procurar, sem encontrar), até porque não considerava esse samba-canção a melhor de suas músicas. Muito menos deve ser reconhecido apenas por ser o autor de Volta por Cima, outro grande sucesso do seu imenso e belo repertório. Vanzolini era econômico ao compor, ao fazer letras e na discografia de sua carreira, que contém apenas quatro discos: de 1967 - Onze Sambas e uma Capoeira (vários intérpretes); de 1974 - A Música de Paulo Vanzolini; de 1981 - Por Ele Mesmo; e de 2003 - Acerto de Contas.


"Não tenho carreira de compositor.
Música, para mim, é um hobby. Trabalho 15 horas por dia
como zoólogo, adoro minha profissão. Não sei cantar,
nem sei a diferença entre o tom maior e o menor".
(Paulo Vanzolini, em entrevista à Folha)

Os quatro CDs do álbum Acerto de Contas são maravilhosos. Vazonlini explicava que o disco ganhou esse nome por ser um acerto de contas dele com os músicos e intérpretes de suas canções.Traz inclusive a última composição de sua carreira, Quando Eu For Eu Vou Sem Pena, gravada por Chico Buarque. Diz ele aquilo que está acontecendo agora: “Quando eu for eu vou sem pena/ pena vai ter quem ficar”. Pena, dó e muita dor, estamos tendo nós que ficamos sem o seu talento.
Em virtude de suas contribuições para o progresso da ciência, foi premiado, em agosto de 2008, pela Fundação Guggenheim, de Nova Iorque, para quem doou sua biblioteca de 25 mil livros. Foi professor da USP e um dos idealizadores da Fundação de Apoio a Pesquisa de São Paulo (FAPESP). Foi tema de um belo filme-documentário Um Homem de Moral, dirigido por Ricardo Dias.
Esta é uma segunda-feira de muita tristeza, luto mesmo. O Brasil está ficando cada vez mais pobre do ponto de vista musical. Muitos talentos estão indo embora e a renovação deixa a desejar no quesito qualidade. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre esse grande artista da nossa música, leia os dois artigos já publicados aqui no blog (é só clicar aqui e depois aqui).
Pra matar a saudade, um pouco de Paulo Vanzolini nas vozes de Chico Buarque e Clara Nunes. E trechos do documentário Um Homem de Moral...





3 comentários:

  1. Que preciosidade esse vídeo, grande homenagem ao imortal Vanzolini! O texto também é emocionante e preciso! Valeu, amigo!

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  2. Um patrimônio do povo brasileiro...

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